Jovens e não vacinados puxam alta de casos de Covid na Holanda

Em 26 de junho, o governo liberou restaurantes, cafés e casas noturnas a operarem de modo quase normal

Público canta durante show do cantor holandês Andre Hazes, no Ziggo Dome, em Amsterdã . AFP/Koen van Weel – 7.mar.2020

Por Folhapress

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tivemos um julgamento ruim, do qual nos arrependemos e pedimos desculpas”, afirmou o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, no começo da semana passada. Seu governo havia relaxado as medidas de restrição contra a Covid, mas teve de recuar às pressas depois de uma forte alta de casos, que atingiu especialmente os jovens que gostam de ir a lugares como bares e baladas.

Em 26 de junho, o governo liberou restaurantes, cafés e casas noturnas a operarem de modo quase normal, e autorizou também grandes eventos. Naquele momento, a média móvel de casos era de 653 por dia. Três semanas depois, esse número atingiu 10 mil. Um festival de música que reuniu 20 mil pessoas foi apontado como um dos focos.

A forte alta de casos, no entanto, não foi acompanhada por elevação nas mortes. O avanço da vacinação ajuda nisso: quem tomou doses passa a ter menos risco de complicações se for contaminado.

Entre os infectados, a maioria foi de pessoas que não tomaram vacina. Um estudo apontou que 60% dos casos confirmados não tinham recebido as doses. O levantamento, feito pelo Instituto Nacional para Saúde Pública e Ambiente da Holanda (RIVM), conseguiu obter os dados de imunização de 72% dos contaminados no começo de julho.

A Holanda já alcançou uma boa taxa de vacinados com a primeira dose, de 82,4%, segundo dados oficiais. Os completamente imunizados, no entanto, ainda são 52,7%. As vacinas ficaram disponíveis para pessoas com mais de 18 anos em 12 de junho.

A nova onda da doença tem atingido os mais jovens com maior frequência. A taxa de casos entre holandeses com idade de 20 a 29 anos passou de 13,2 por 100 mil, em 1º de julho, para 200,3 dez dias depois.

É justamente esta a faixa etária que mais frequenta os lugares apontados como focos de contaminação. O RIVM conseguiu identificar os prováveis locais de infecção de 28% dos casos confirmados entre 7 e 13 de julho. Dentre eles, 37% foram em cafés, restaurantes e boates, à frente de se contaminar em casa, em contato com moradores (28%), ao receber visitantes (16%), ir a festas (15%) e no trabalho (7%).

Com a alta, o premiê Rutte anunciou a volta das restrições até 14 de agosto, com redução do funcionamento de estabelecimentos de comida, fechamento de boates e cancelamento de grandes eventos.

A flexibilização não é exclusividade da Holanda, e diferentes países caminham no mesmo sentido. A França, por exemplo, vem desde junho relaxando as restrições, e o mesmo acontece no Reino Unido, que planeja reabertura completa nesta segunda (19), mesmo em meio à alta de casos.

Já Israel, que largou na frente na imunização e abandonou mais cedo as medidas, voltou a apertar o cinto, com medidas como processar pacientes de Covid que violarem a quarentena e adotar mais restrições para eventos e celebrações.

O avanço da variante delta, 50% mais contagiosa, também tirou o otimismo do governo holandês. Atualmente, a cepa já corresponde a 67% dos casos no país. “Quando uma variante chega num local que está nessa flexibilização e a população que tomou as duas doses não somam 75%, 80% ou mais, há explosão de casos, hospitalizações e até óbitos”, explica Isaac Schrarstzhaupt, coordenador na Rede Análise Covid-19, que reúne pesquisadores da pandemia.

O país do planeta que mais avançou na vacinação foi Malta, com 71% de totalmente imunizados, segundo dados do jornal New York Times.

“Não é que os protocolos não funcionem, mas eles têm que ser pensados quando a pandemia está sob controle, com vacinação em massa para barrar contágios”, pontua Ana Arnt, professora do Instituto de Biologia da Unicamp.

Sem essa cobertura, o vírus encontra bolsões onde há muita gente não vacinada. E quanto mais pessoas infectadas, maior o risco do surgimento de novas variantes, pois o coronavírus terá mais condições de se multiplicar. “Sem imunizantes, os países estariam enfrentando os mesmos desafios do ano passado, ou piores”, aponta Schrarstzhaup.

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