Pastor parecia exigir que as crianças fizessem o jejum primeiro, seguidas pelas mulheres e, finalmente, pelos homens
Estadão
NAIROBI – A maioria dos mortos ligados a um ‘culto de fome’ no Quênia era de criança, segundo disseram uma ONG e fontes do governo local nesta quarta-feira, 26. O número de vítimas confirmadas é de 95 pessoas e, segundo uma ONG, até 60% delas são crianças.
O governo anunciou um toque de recolher do anoitecer ao amanhecer na fazenda do pastor Paul Makenzi, acusado de ordenar que seus seguidores jejuassem até a morte. Jornalistas e ativistas de direitos humanos foram barrados nesta quarta-feira na fazenda de 800 acres (320 hectares), declarada uma “área de operações”.
O pastor, detido por supostamente ordenar que seus seguidores jejuassem até a morte para encontrar Jesus, permanecerá sob custódia policial até pelo menos 2 de maio. Ele é o líder da Igreja Internacional das Boas Novas.
A polícia disse ter detido 22 pessoas durante a operação de busca e resgate nesta quarta-feira. As autoridades resgataram 34 pessoas da propriedade, que fica perto da cidade de Malindi, desde que a polícia invadiu a fazenda no início deste mês.
A maioria dos mortos eram crianças, segundo disseram à rede francesa France 24 três fontes próximas da investigação, destacando a natureza macabra das práticas do culto, que incluíam pedir aos pais que deixassem seus filhos passar fome.
Hussein Khalid, diretor-executivo do grupo de direitos humanos Haki Africa, que alertou a polícia sobre as atividades de Nthenge, disse à France 24 que a Igreja Internacional das Boas Novas parecia exigir que as crianças fizessem o jejum primeiro, seguidas pelas mulheres e, finalmente, pelos homens.
Ele disse que até 60% das vítimas eram crianças, cujos corpos foram encontrados envoltos em mortalhas de algodão dentro de covas rasas. “Tivemos cinco exumações (nesta quarta-feira), o que eleva o número total de mortos para 95″, disse Rhoda Onyancha”, comissária regional da região, a repórteres.
A Cruz Vermelha do Quênia disse que o número atualizado de pessoas desaparecidas é de 314. O movimento será restrito no rancho por 30 dias. “Ordens de toque de recolher também foram declaradas e publicadas na referida área das 18h às 6h por 30 dias”, disse o ministro do Interior, Kithure Kindiki.
Ativistas de direitos humanos questionaram a decisão de proibir o acesso deles à fazenda onde a polícia também realiza exumações. “Somos nós que descobrimos este caso. Por que estamos excluídos agora?” disse o ativista Victor Kaudo./COM AP