Presidente do Conselho Europeu pede que países abram fronteiras para russos que foram convocados

Para Charles Michel, países ‘devem acolher aqueles que estão em perigo’; na Rússia, lideres regionais dizem que mais pobres e moradores de áreas remotas têm sido mais recrutados

Cars coming from Russia wait in long lines at the border checkpoint between Russia and Finland near Vaalimaa, on September 23, 2022. – Finland said on September 21, 2022 it was is preparing a national solution to “limit or completely prevent” tourism from Russia following the invasion of Ukraine. Since Russia’s Covid-19 restrictions expired in July, there has been a boom in Russian travellers and a rising backlash in Europe against allowing in Russian tourists while the war continues. (Photo by Sasu MAKINEN / LEHTIKUVA / AFP) / Finland OUT 

Por Estadão

NOVA YORK – O presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu neste sábado, 24, para que líderes europeus abram suas fronteiras “para aqueles que não querem ser instrumentalizados pelo Kremlin”, segundo o site Politico. A declaração ocorreu após o discurso de Michel na Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), em Nova York, na sexta-feira, 23, e antecede a reunião de embaixadores da União Europeia (UE) na segunda-feira, 26. Durante a semana, o presidente russo, Vladimir Putin, convocou 300 mil reservistas para lutar na Ucrânia, o que causou protestos no país.

“Em princípio, penso que a União Europeia (deveria) acolher aqueles que estão em perigo em razão de suas opiniões políticas. Se as pessoas estão em perigo na Rússia por causa de suas opiniões políticas, só porque não acatam essa decisão maluca do Kremlin de lançar uma guerra na Ucrânia, devemos levar isso em consideração (de abrir as fronteiras)”, disse Michel.

Michel avaliou ainda que a convocação de Putin “é um fato novo” e que precisa de iniciativas de líderes europeus para lidar com a saída de russos do país após a iniciativa do Kremlin.

Na Rússia, a insatisfação cresce. Aldeões, ativistas e até algumas autoridades eleitas estão questionando por que a campanha de recrutamento tem como alvo grupos minoritários e áreas rurais em detrimento das grandes cidades.

Dois casos específicos chamaram a atenção nesta sexta-feira, 24. Segundo líderes comunitários das montanhas do Cáucaso e da região nordeste de Yakutia, uma extensão pouco povoada que abrange o Círculo Ártico, vilarejos remotos com grande parte da população masculina em idade ativa recebeu avisos de recrutamento nos últimos dias. Conforme esses líderes, famílias que subsistem da terra ficaram sem homens por perto para trabalhar antes do longo inverno.

“Temos pastores de renas, caçadores, pescadores. E eles já eram poucos”, disse Vyacheslav Shadrin, presidente do conselho de anciãos de um pequeno grupo indígena conhecido como Yukaghirs, em entrevista por telefone. “Mas eles são os que estão sendo convocados.”

Putin anunciou a convocação na quarta-feira, 21, descrevendo a iniciativa como uma “mobilização parcial” necessária para combater a Ucrânia e seus apoiadores ocidentais, que, segundo ele, querem a “destruição” da Rússia. De acordo com aliados do presidente russo, a decisão foi atrasada e não é mais possível saber se terá efeito para intensificar os ataques ao país vizinho.

Desde o anúncio, filas de horas se formaram na Mongólia, no Casaquistão, na Finlândia e na Geórgia. O receio dos russos é que Putin feche as fronteiras. Além disso, russos lotaram voos, carros e ônibus para fora do país. As empresas russas, incluindo companhias aéreas, empresas de tecnologia e agrícolas estavam preocupadas com a forma como a convocação poderia afetá-las, informou o jornal Kommersant.

Na tarde deste sábado, 24, a fila na fronteira russa com a Geórgia era de 2 mil carros, por volta de 13 quilômetros – antes da convocação, o fluxo era de 50, de acordo com dados russos. O ponto de passagem geralmente só consegue processar 2 mil carros por dia, o que significa que as pessoas podem ter que esperar pelo menos 24 horas para cruzar a fronteira.

Oficialmente, o Kremlin disse que os relatos de migração em massa “são exagerados”.

Neste sábado, de acordo com o Washington Post, pelo menos 730 pessoas foram presas durante protestos contra a medida.

De acordo com a agência de notícias Reuters, o governador da região russa da Buriácia, na fronteira com a Mongólia e lar de uma minoria étnica mongol, disse que alguns homens receberam a convocação por engano. De acordo com ele, quem não serviu ao Exército ou que tem problemas de saúde não serão recrutados.

Tsakhia Elbegdorj, presidente da Mongólia até 2017 e agora chefe da Federação Mongol Mundial, prometeu neste sábado “uma recepção calorosa”. “Hoje você está fugindo da brutalidade, crueldade e provavelmente da morte. Amanhã você começará a libertar seu país da ditadura.”

Aliados discordam da forma como é feito o recrutamento

Um popular blog pró-guerra no Telegram, o Rybar, descreveu que recebeu um “grande número de histórias” de pessoas com problemas de saúde ou sem experiência em combate recebendo avisos de convocação, mesmo quando alguns voluntários estavam sendo recusados. Em vez de ajudar o esforço de guerra da Rússia, disseram os administradores do blog, o recrutamento caótico pode acabar causando prejuízo. De acordo com fontes ligadas ao blog, oficiais militares que executaram a ordem de Putin estariam mais preocupados em cumprir formalmente as ordens do que em vencer a guerra.

“Se estamos fazendo uma convocação, então deve ser a base para fortalecer o Exército”, escreveu Andrei Medvedev, deputado de Moscou e apresentador de televisão estatal, no Telegram. “E não a causa da revolta.”

O grupo circulou uma carta a Putin dizendo que a mobilização pode levar a um “desnudamento do componente masculino dos já escassamente povoados distritos do norte de Yakutia”. / AP, AFP, NYT e WP

Compartilhe esta notícia!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese