Sede naval russa na Crimeia é alvo de drone em meio a ofensiva ucraniana

Campanha de Kiev contra linhas russas ganha tração; ataque do Kremlin perto de usina nuclear deixa ao menos 12 feridos

Imagem de 31 de julho mostra quartel militar da Rússia no Mar Negro. Relatos de ataque com drone na região foram divulgados neste sábado, 20 Foto: Stringer / Reuters

Por Estadão

Um drone atingiu neste sábado, 20, a sede da frota naval russa no Mar Negro, na cidade de Sevastopol. O ataque ucraniano ao coração do poder marítimo russo na Crimeia, península anexada pelo Kremlin em 2014, é mais um desdobramento da contraofensiva das tropas de Kiev. Na sexta-feira, houve disparos no leste, atrás das linhas russas no front.

Autoridades russas não divulgaram a extensão do dano provocado pelo drone, mas imagens divulgadas nas redes sociais mostraram o local atingido envolto em fumaça. Não se sabe se o drone foi abatido ou a atingiu diretamente o edifício. Moradores da região foram orientados a ficar em casa.

Por meio de nota, o governo ucraniano declarou que coordena uma operação contra alvos russos na península, que, nos últimos oito anos tem sido cada vez mais militarizada.

A recente campanha de ataques da Ucrânia atrás das linhas russas tem levado os habitantes da Crimeia nos últimos dias a uma crescente sensação de insegurança. O primeiro deles ocorreu em 9 de agosto, num bombardeio à base aérea de Saki em que oito caças foram destruídos.

Para Paula J. Dobriansky, uma ex-diplomata americana especializada em assuntos militares, ao ameaçar as linhas de suprimentos russas e enfatizar o controle tênue de Moscou sobre a Crimeia, os ataques tiveram importância logística e simbólica.

“Os ataques também podem representar uma estratégia para não apenas interromper a logística e as linhas de suprimentos russas, mas também colocar a guerra de volta na agenda política doméstica russa”, disse Christopher Miller, professor associado de história internacional da Universidade Tufts.

Em um reflexo dos desafios que Moscou enfrenta, a mídia estatal russa informou que o Kremlin substituiu o comandante da Frota do Mar Negro após uma série de contratempos, incluindo a perda de seu navio principal, o Moskva, em abril.

Bombardeio perto de usina

Mas mesmo enquanto a Rússia enfrenta ataques longe da linha de frente, suas forças continuam tendo a vantagem militar e lançando ataques em toda a Ucrânia. Alarmes de ataque aéreo soaram em toda a Ucrânia, e mísseis caíram sobre a cidade portuária de Mykolaiv, um alvo frequente de ataques russos, no sul, ferindo 12 pessoas. Os mísseis foram disparados do sistema russo de mísseis terra-ar de longo alcance S-300.

Voznesensk, com cerca de 30 mil habitantes, fica a aproximadamente 20 quilômetros da usina nuclear de Pivdennoukrainsk, a segunda mais poderosa da Ucrânia, que possui um total de quatro usinas atômicas. O bombardeio atingiu um prédio residencial e várias casas, especificou o serviço estatal para situações de emergência no Facebook.

Cidades ucranianas, como Chernihiv, têm sido bombardeadas pela Rússia  Foto: SERGEI CHUZAVKOV

A região de Mykolaiv, que sofre regularmente com violentos bombardeios russos, faz fronteira com Kherson, quase inteiramente ocupada por tropas de Moscou desde o início da invasão russa da Ucrânia em 24 de fevereiro.

O Exército ucraniano, por sua vez, indicou no Telegram que derrubou quatro mísseis de cruzeiro russos do tipo Kalibr perto da cidade de Dnipro. Em Melitopol ocupada pelos russos, o prefeito exilado Ivan Fedorov relatou no Telegram que os ucranianos haviam bombardeado uma base militar russa.

Os fertilizantes e produtos agrícolas russos devem ser capazes de chegar aos mercados mundiais “sem impedimentos” para evitar uma crise alimentar, disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em Istambul neste sábado.

“É importante que os governos e o setor privado cooperem para levá-los ao mercado”, declarou ele do Centro de Coordenação Conjunta (CCC), que supervisiona o bom funcionamento do acordo selado entre Ucrânia e Rússia para retomar a exportação de grãos ucranianos pelo Mar Negro.

O pacto também garante à Rússia a exportação de seus produtos agrícolas e fertilizantes, apesar das sanções ocidentais. “O que vemos aqui em Istambul e em Odessa (transporte de grãos ucraniano) é apenas a parte mais visível da solução”, disse Guterres. “A outra parte deste acordo global é o acesso irrestrito a alimentos e fertilizantes russos que não estão sujeitos a sanções aos mercados globais”, disse Guterres.

O chefe da ONU ressaltou que a exportação desses produtos agrícolas russos ainda enfrenta “obstáculos”. “Se não houver fertilizante em 2022, pode não haver comida suficiente em 2023. Obter mais alimentos e fertilizantes da Ucrânia e da Rússia é essencial para acalmar os mercados… e baixar os preços para os consumidores”, acrescentou.

Guterres viajou esta semana para Lviv, no oeste da Ucrânia, onde se encontrou na quinta-feira com o presidente ucraniano Volodmir Zelenski e seu homólogo turco Recep Tayyip Erdogan. Na sexta-feira, ele foi para Odessa, um dos três portos destinados à exportação de cereais. / AFP

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