Ministério do Interior informou que há 1.204 feridos, “dos quais 721 em estado crítico”
O GLOBO
Um poderoso terremoto deixou ao menos 1.037 mortos e 1.204 feridos, “dos quais 721 em estado crítico”, no Marrocos, anunciou neste sábado o Ministério do Interior do país, atualizando um balanço anterior que contabilizava 820 mortos e 672 feridos. O forte abalo sísmico de sexta-feira, que ocorreu às 23h11 (horário local) a 18,5 km de profundidade e com epicentro a 71 km a sudoeste da cidade turística de Marrakech, aterrorizou a população, que fugiu de suas casas no meio da noite.
O Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) informou que o terremoto foi de magnitude 6,8, enquanto o Centro Nacional de Pesquisa Científica e Técnica do Marrocos (CNRST) apontou uma magnitude de 7. Segundo o USGS, o terremoto foi o mais poderoso a atingir a área ao redor de Marrakech em mais de 120 anos.
O tremor provocou o desabamento de vários edifícios, principalmente nas províncias e municípios de Al-Haouz, Tarundant, Chichaoua, Ouarzazate e Marrakech, uma popular cidade turística com 840 mil habitantes. As mulharas históricas da cidade, primeiramente construídas no início do século 12, ficaram danificadas. O terremoto foi sentido até na capital Rabat, a centenas de quilômetros de distância, em cidades costeiras como Casablanca ou Essaouira e mesmo em várias províncias do oeste da vizinha Argélia, onde as autoridades descartaram danos ou vítimas.
Na cidade de Moulay Brahim, em Al-Haouz, as equipes de resgate trabalhavam neste sábado em busca de sobreviventes nos escombros. Perto dali, vizinhos cavavam valas em uma colina para enterrar as vítimas, segundo uma equipe da AFP presente no local.
As autoridades mobilizaram “todos os recursos necessários para intervir e ajudar nas zonas afetadas”, disse o Ministério do Interior. Já o Exército marroquino mobilizou “importantes recursos humanos e logísticos, aéreos e terrestres”, como equipes de busca e resgate e um hospital de campanha em Al-Haouz, informou a agência estatal de notícias MAP. Por causa do “enorme fluxo” de feridos nos hospital de Marrakech, o centro de transfusão de sangue local lançou um apelo por doações.
Em Marrakech, marroquinos visivelmente atordoados inspecionavam os danos nas suas casas entre pilhas de escombros, poeira e carros esmagados por pedras.
— Sentimos um tremor muito violento, percebi que era um terremoto — disse Abdelhak el Amrani, um morador de Marrakech, de 33 anos, à AFP em entrevista por telefone. — Vi os prédios se movendo. Não temos reflexos para esse tipo de situação. Então saí e havia muitas pessoas do lado de fora. Estavam chocadas e em pânico. As crianças choravam, os pais estavam indefesos — disse Amrani.
‘Entramos em pânico’
Vídeos gravados em Marrakech mostram moradores deixando edifícios aterrorizados em meio aos tremores, destroços caindo de edifícios em vielas estreitas e veículos cobertos de pedras. Um deles mostra o desabamento de minarete de uma mesquita na praça Jemaa el-Fna, coração de Marrakech, deixando dois feridos.
Um correspondente da AFP viu centenas de pessoas passando a noite nessa praça emblemática por medo de tremores secundários. Alguns dormiam sobre cobertores, enquanto outros diretamente no chão.
— Andávamos pela Jemaa el-Fna quando o chão começou a tremer, foi uma sensação realmente surreal. Estamos sãos e salvos, mas ainda chocados — explicou Houda Outassad, morador da cidade, à AFP na praça. —Tenho pelo menos dez parentes que morreram em Ijoukak (uma cidade rural em al-Haouz). Acho difícil acreditar [que morreram] porque estive com eles há menos de dois dias.
Mimi Theobald, uma turista inglesa de 25 anos, estava com alguns amigos prestes a comer sobremesa na esplanada de um restaurante “quando as mesas começaram a tremer, os pratos a voar”.
— Entramos em pânico — disse.
‘Gritos e choros’
Fayssal Badour, 58 anos, voltava para casa quando percebeu o tremor.
— Parei e percebi a catástrofe. Foi muito grave — disse ele. — Os gritos e choros eram insuportáveis.
O francês Michael Bizet, dono de três estabelecimentos turísticos em casas tradicionais (riads) na cidade velha de Marrakech, disse que o tremor o acordou durante o sono.
— Achei que minha cama voava. Saí para a rua seminu e fui ver os riads. Foi um caos total, uma verdadeira catástrofe, uma loucura — explicou.
Repercussão
O premier da Espanha, Pedro Sánchez, expressou suas condolências ao país vizinho pela “tragédia”. O chanceler do país, José Manuel Albares, disse durante a cúpula do G20 que equipes de resgate estão à disposição para ajudar na emergência no Marrocos.
— A Espanha ofereceu ao Marrocos, se julgar necessário, tanto sua capacidade de resgate, que nesses momentos é a mais importante, quanto sua capacidade de reconstrução, uma vez passado esse momento. O que é importante agora é salvar o maior número possível de vidas — disse Albares aos repórteres na cúpula do G20 na Índia.
A França, que tem uma grande população de origem marroquina, também manifestou sua “solidariedade”, e presidente francês, Emmanuel Macron, disse estar “chocado”. Benoît Payan, prefeito de Marselha, uma cidade portuária mediterrânea no sul da França, disse que enviaria bombeiros ao Marrocos para ajudar nos esforços de resgate.
O presidente americano, Joe Biden, também manifestou sua “profunda tristeza” pelas vítimas e disse que o país está “pronto para ajudar com qualquer assistência necessária”. “Estou profundamente triste com a perda de vidas e a devastação causada pelo terremoto no Marrocos”, disse em comunicado. “Nossos pensamentos e orações estão com as pessoas afetadas por essa terrível situação.”
Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin; da Ucrânia, Volodymyr Zelensky; da China, Xi Jiping; e da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, além do primeiro-ministro do Reino Unido, Rishi Sunak, também expressaram condolências e solidariedade. A União Africana expressou sua “grande dor” pela tragédia.
Já o secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, afirmou que “o Papa expressa a sua profunda solidariedade às vítimas desta tragédia”.
Falando do G20 em Nova Délhi, o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, disse estar “extremamente triste com a perda de vidas”.
O reino alauíta sofre terremotos frequentes em sua região norte porque está entre as placas africana e euroasiática. Em 2004, pelo menos 628 pessoas morreram e 926 ficaram feridas quando um terramoto atingiu al-Hoceima, no nordeste do país.