Primeira grande ofensiva depois de bloqueio americano de ajuda militar a Kiev feriu ao menos dez com 261 mísseis e drones

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a ameaçar a Rússia com sanções após um dos maiores ataques realizados por Moscou contra a Ucrânia desde o início da guerra, ocorrido na madrugada desta sexta-feira (07.mar.2025).
“Com base no fato de que a Rússia está absolutamente massacrando a Ucrânia no campo de batalha agora, estou considerando fortemente sanções bancárias em larga escala e tarifas sobre a Rússia até que um cessar-fogo e um acordo final de paz sejam alcançados”, escreveu Trump. “Para a Rússia e a Ucrânia: sentem-se à mesa agora, antes que seja tarde demais. Obrigado.”
Horas mais tarde, o presidente americano disse ainda que acha “mais difícil lidar com a Ucrânia” e reiterou uma de suas afirmações no infame encontro com Volodimir Zelenski na Casa Branca na última sexta-feira (28) ao dizer que a Ucrânia “não tem as cartas na mão”
Afirmou ainda que “sempre teve uma boa relação com [Vladimir] Putin” e que acha que a Rússia está fazendo na Ucrânia “o que qualquer um nessa posição faria neste momento”. Sem dar detalhes, o americano mais uma vez recorreu ao hábito de usar frases de efeito sem o mesmo empenho em explicá-las.
Chama a atenção, porém, o fato de a declaração ocorrer após mais um dos mega-ataques russos. A ofensiva desta sexta danificou a infraestrutura energética e de gás justamente no momento em que Kiev tenta manter o apoio do Ocidente após a paralisação da ajuda militar e compartilhamento de inteligência dos EUA com a Ucrânia.
Nesta sexta, a empresa americana de tecnologia e imagens de satélite Maxar afirmou que desabilitou o acesso ucraniano a suas imagens de satélite produzidas em razão da decisão do governo americano.
Segundo a Força Aérea da Ucrânia, a Rússia disparou uma salva de 67 mísseis e 194 drones, dos quais metade teria sido abatida, aproximadamente. Para a ação, Kiev disse ter usado aviões de combate, incluindo os caças franceses Mirage 2000 entregues à Ucrânia no mês passado e usados pela primeira vez para “repelir um ataque aéreo inimigo”.
O Ministério da Defesa da Rússia, por sua vez, afirma ter atacado “infraestruturas de energia e gás” que abastecem o “complexo militar-industrial” ucraniano.
“Os primeiros passos para estabelecer uma paz real devem ser forçar a única fonte desta guerra, a Rússia, a parar tais ataques”, disse Zelenski, em resposta ao ataque, que deixou ao menos dez pessoas feridas, segundo as autoridades —oito em Kharkiv e duas, incluindo uma criança, em Poltava, no leste ucraniano.
“A Rússia continua seu terror energético”, disse o ministro de Energia, German Galuschenko. “Mais uma vez, a infraestrutura energética e de gás em várias regiões da Ucrânia foi alvo de intenso fogo de mísseis e drones.”
Desde o começo do ano, Moscou tem se concentrado mais na infraestrutura de gás natural, que é usada para aquecimento doméstico e também por indústrias —anteriormente, os bombardeios contra o setor de energia já haviam sido responsáveis por derrubar cerca da metade da capacidade de geração de eletricidade do país, causando apagões.
A pausa na ajuda militar americana a Kiev tem o potencial de minar ainda mais as defesas aéreas da Ucrânia, que está ficando sem mísseis avançados enquanto luta para rastrear os ataques de forma eficaz, dizem analistas militares.
As relações da Ucrânia com os EUA, outrora seu aliado mais importante, entraram em crise desde o acalorado encontro entre Zelenski e Trump no Salão Oval da Casa Branca. Após o bate-boca, o republicano afirmou que seu homólogo ucraniano —a quem ele já havia rotulado de ditador— poderia voltar quando estivesse “pronto para a paz”.
Em uma tentativa de reconciliação, Zelenski disse na terça-feira (4) que a Ucrânia estava pronta para ir à mesa de negociações o mais rápido possível, “sob a forte liderança de Trump”, e chamou de lamentável o que aconteceu em Washington.
Ainda não está claro se os dois países podem conciliar suas diferentes visões para encerrar a guerra. Enquanto isso, no campo de batalha, a Ucrânia segue em desvantagem, e as forças russas estão avançando constantemente na região leste de Donetsk e exercendo grande pressão sobre as tropas ucranianas que tentam manter território na região de Kursk, na Rússia.
Folhapress