Declaração ocorre após decisão dos EUA de suspender assistência a Kiev; ucraniano pede confirmação de Washington

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, lamentou em publicação nas redes sociais nesta terça-feira (04.mar.2025) a discussão que teve com Donald Trump na Casa Branca e disse estar pronto para trabalhar sob a “forte liderança” do americano.
A manifestação foi feita após a decisão de Trump de bloquear a ajuda militar à Ucrânia, o que deve afetar a compra de mais de US$ 1 bilhão em armas e munições que já estão em processo de aquisição ou encomendadas.
“Nenhum de nós quer uma guerra interminável. A Ucrânia está pronta para ir à mesa de negociações o mais rápido possível para aproximar a paz duradoura. Ninguém deseja a paz mais do que os ucranianos”, afirmou Zelenski na publicação.
“Estamos prontos para agir rapidamente para acabar com a guerra, e as primeiras etapas poderiam ser a libertação de prisioneiros e uma trégua no céu —proibição de mísseis, drones de longo alcance, bombas em estações de energia e em outras infraestruturas civis— e trégua no mar imediatamente, se a Rússia fizer o mesmo”, disse o ucraniano, acrescentando que quer trabalhar com os EUA para um acordo final.
“Valorizamos muito o quanto a América tem feito para ajudar a Ucrânia a manter sua soberania e independência. E nos lembramos do momento em que as coisas mudaram, quando o presidente Trump forneceu os [mísseis] Javelins à Ucrânia. Somos gratos por isso.”
Segundo ele, a reunião no Salão Oval da Casa Branca “não aconteceu da maneira que deveria ser”. “É lamentável que tenha ocorrido dessa forma. É hora de corrigir as coisas. Gostaríamos que a cooperação e comunicação futuras fossem construtivas”, disse.
A suspensão da ajuda militar, determinada por Trump, aconteceu após a discussão com Zelenski. Também é esperada uma nova manifestação do presidente americano sobre o conflito no Leste Europeu no discurso que ele fará ao Congresso, como o próprio republicano insinuou na segunda-feira (3).
O governo, segundo um funcionário da Casa Branca disse à agência de notícias Reuters, pausou a assistência a Kiev para revisar o auxílio e assegurar que os recursos estejam contribuindo para o que chamou de solução. À rede CNN, outro funcionário afirmou que a suspensão é uma resposta direta ao que Trump vê como mau comportamento de Zelenski.
Zelenski afirmou ter pedido a Washington “informação oficial” sobre a suspensão da ajuda. “Pedi ao Ministério da Defesa da Ucrânia, aos chefes do nosso serviço de Inteligência e aos diplomatas que entrassem em contato com suas contrapartes nos EUA e obtivessem informação oficial”, disse.
Diante dos entraves com os EUA, Zelenski tem buscado ajuda de países europeus na tentativa de reforçar o apoio à Ucrânia. Após a discussão com Trump na sexta-feira (28), ele desembarcou no Reino Unido no sábado (1º) e se encontrou com o primeiro-ministro Keir Starmer. Ao receber Zelenski na Downing Street, em Londres, Starmer disse que o presidente “tem total apoio do Reino Unido pelo tempo que for necessário”.
A União Europeia também reagiu às iniciativas de Trump. Nesta terça, a Comissão Europeia, o braço executivo do bloco, anunciou uma nova proposta de financiamento para fortalecer as capacidades de defesa dos países que constituem o bloco.
A iniciativa busca ampliar os recursos disponíveis para os governos, reforçando a segurança e a cooperação no setor militar, diante do cenário político cada vez mais instável com a volta de Trump à Presidência dos EUA. O retorno acendeu um alerta no bloco, reforçando a necessidade de reduzir a dependência de Washington para garantir a própria segurança.
O plano da Comissão inclui a emissão de novos empréstimos conjuntos, totalizando € 150 bilhões (R$ 912 bilhões), que serão disponibilizados aos países membros para investimentos em defesa. A medida faz parte de um esforço mais amplo de financiamento de € 800 bilhões (R$ 4,8 trilhões), voltado para a modernização e expansão da infraestrutura militar europeia.
O bate-boca entre Trump e Zelenski na sexta, sobre os rumos da Guerra da Ucrânia, levou o visitante a deixar o encontro sem a prevista entrevista coletiva. No encontro no Salão Oval, aberto à imprensa, Zelenski lembrou uma fala de Trump (“chega de guerra”) e disse que “é muito importante dizer essas palavras para Putin, porque ele é um assassino e um terrorista”.
“Eu sou a favor da Ucrânia e da Rússia”, afirmou Trump, que em seguida disse que Zelenski estava “jogando com a Terceira Guerra Mundial” ao buscar opor os EUA e o Ocidente à Rússia.
“O que você está dizendo é desrespeitoso com esse país”, afirmou. Em seguida, o vice de Trump, J. D. Vance, questionou ao ucraniano se ele “já disse obrigado”. “Eu acho desrespeitoso você vir aqui no Salão Oval e dizer essas coisas em frente à mídia americana”, afirmou. “O seu país está em apuros. Você não está ganhando”, disse.
Folhapress