A informação foi confirmada ao g1 nesta quinta-feira (6) pelo delegado do caso.

A Polícia Civil do Piauí indiciou o casal Maria dos Aflitos e Francisco de Assis, suspeito do envenenamento de sete pessoas da família e de uma vizinha, por 23 crimes. A informação foi confirmada pelo delegado Abimael Silva, que investigou o caso, nesta quinta-feira (6).
O delegado afirmou que o casal premeditou os assassinatos por motivações egoístas e agiu com um propósito comum, ainda que com participações diferentes.
Os crimes pelos quais cada um foi indiciado:
Francisco de Assis
- Quatro homicídios: dois deles no episódio do arroz envenenado, no dia 1º de 2025: Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, enteado dele, e Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses, filho de Francisca Maria (enteada dele). Além dos irmãos Ulisses Gabriel da Silva e João Miguel da Silva, também filhos de Francisca Maria, mortos em agosto de 2024.
- Três feminicídios: Francisca Maria da Silva (enteada dele) e das irmãs Maria Gabriela da Silva e Lauane da Silva, filhas de Francisca Maria.
- Duas tentativas de feminicídios: Maria Jocilene da Silva, vizinha da família (no dia 1º de janeiro) e uma adolescente de 17 anos, enteada dele;
- Uma tentativa de homicídio: Um menino de 11 anos, filho de Maria Jocilene;
- Fraude processual: segundo o delegado Abimael Silva, Francisco de Assis entregou um saco de cajus à polícia, afirmando que estavam envenenados, na época das mortes de Ulisses e João Miguel. Uma perícia feita no material, porém, constatou que não havia veneno neles.
Maria dos Aflitos
- Quatro homicídios: Manoel Leandro (filho dela), Ulisses Gabriel, João Miguel e Igno Davi, todos os três eram netos dela;
- Quatro feminicídios: Francisca Maria (filha dela), Maria Jocilene, vizinha dela, (no dia 22 de janeiro), Maria Gabriela e Lauane, ambas netas dela;
- Duas tentativas de feminicídios: Maria Jocilene (no dia 1º de janeiro) e uma adolescente de 17 anos, filha dela;
- Uma tentativa de homicídio: Um menino de 11 anos, filho de Maria Jocilene;
- Denunciação caluniosa: de acordo com Abimael Silva, Maria dos Aflitos denunciou à polícia, no dia seguinte ao envenenamento de Ulisses e João Miguel, que a acusada pelo crime seria Lucélia Maria da Conceição, presa durante cinco meses e solta em 15 de janeiro.
Os homicídios e a tentativa de homicídio contra as crianças são quadruplamente qualificados, ou seja, contam com as seguintes qualificadoras:
- Motivo torpe (moralmente desprezível, repugnante e cruel);
- Emprego de veneno (terbufós, substância tóxica semelhante ao chumbinho);
- Recurso que dificultou ou impossibilitou a defesa das vítimas;
- Contra menor de 14 anos (nos casos de Igno Davi, Ulisses, João Miguel e o menino de 11 anos).
- O homicídio de Manoel Leandro, de 18 anos, foi classificado pela polícia como triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de veneno e recurso que dificultou ou impossibilitou a defesa da vítima).
Conforme o delegado Abimael Silva, se o casal for condenado, as penas podem sofrer aumentos de 1/3 a metade (para os feminicídios) e de 2/3 (para os homicídios qualificados) e, ao todo, superar 240 anos de prisão.
Motivação
O delegado afirmou que Francisco cometeu os assassinatos por questões financeiras e por ódio aos filhos e netos de Maria, que agiu com negligência, omissão e foi cúmplice do crime.
Segundo o delegado, o que levou o casal a planejar os crimes foi a ida de Francisca Maria, filha de Maria dos Aflitos e enteada de Francisco de Assis, para a casa da mãe após a morte de seu marido.
A mudança aconteceu em julho de 2024, dois meses antes dos assassinatos de Ulisses Gabriel e João Miguel, filhos mais velhos de Francisca Maria.
“A Francisca morava com o marido e os cinco filhos em outra casa, esse marido morreu e ela ficou sem ter para onde ir. Precisou morar na sala da casa minúscula da mãe, e esse fato levou a aumentar a discórdia dentro da casa e os problemas financeiros”, contou o delegado.
Até a conclusão do inquérito, a Polícia Civil não encontrou indícios de crime na morte do marido de Francisca, que faleceu em um hospital devido a problemas de saúde.
Relembre o caso
No dia 1º de janeiro de 2025, 9 pessoas da mesma família foram hospitalizadas por suspeita de envenenamento. Cinco deles morreram: dois adultos e três crianças. Uma vizinha e ex-nora de Maria dos Aflitos, chamada Maria Jocilene da Silva, morreu após 20 dias. Veja quem eram as vítimas:
Manoel Leandro da Silva, de 18 anos (filho de Maria dos Aflitos e enteado de Francisco de Assis) – morto;
Francisca Maria da Silva, de 32 anos (filho de Maria dos Aflitos e enteado de Francisco de Assis) – morta;
Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses (filho de Francisca Maria) – morto;
Lauane da Silva, de 3 anos (filha de Francisca Maria) – morta;
Maria Gabriela da Silva, de 4 anos (filha de Francisca Maria) – morta;
Maria Jocilene da Silva, 32 anos, (ex-nora de Maria dos Aflitos) – recebeu alta, voltou a ser hospitalizada 20 dias depois e morreu, também por suspeita de envenenamento;
Uma adolescente de 17 anos (irmã de Manoel e Francisca Maria) – recebeu alta;
Um menino de 11 anos (filho de Maria Jocilene) – recebeu alta;
Francisco de Assis Pereira da Costa (padrasto de Manoel Leandro e Francisca Maria) – recebeu alta e foi preso. A polícia acredita que ele tenha fingido ter consumido o alimento envenenado e ter tido sintomas.
O Instituto Médico Legal (IML) apontou que a comida estava contaminada com terbufós, um agrotóxico usado de forma ilegal como chumbinho, veneno de rato.
Quando é ingerida por humanos, a substância ataca o sistema nervoso central e a comunicação entre músculos. Causa tremores, convulsões, falta de ar e cólicas, pode deixar sequelas neurológicas e matar.
O casal também foi investigado pelas mortes de outros dois netos da mulher, em agosto de 2024. Francisco de Assis foi preso suspeito do crime no dia 8 de janeiro e Maria dos Aflitos no dia 31 do mesmo mês.
A Justiça prorrogou a prisão de Francisco por mais 30 dias. O prazo deve estender-se até 10 de março. A Polícia Civil do Piauí pediu que as prisões do casal fossem convertidas de temporárias para preventivas. O pedido foi concedido pela Justiça no dia 25 de fevereiro.
Atualmente, o casal está preso em Teresina, após transferência de Parnaíba, onde deverá permanecer, à disposição da Justiça, enquanto responde pelos crimes.
G1 Piauí