Pesquisador prevê que setor deve continuar em expansão durante todo o ano de 2025, puxado pelo mercado de trabalho aquecido

O volume de serviços prestados no País cresceu 0,8% na passagem de janeiro para fevereiro, segundo os dados da Pesquisa Mensal de Serviços, divulgados na quinta-feira, 10, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado surpreendeu as estimativas mais otimistas de analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Estadão/Broadcast, que esperavam desde uma queda de 0,5% a uma alta de 0,4%, com mediana de estabilidade (0,0%). O crescimento, porém, não altera o cenário de desaceleração gradual da economia, avaliou o economista Igor Cadilhac, do banco PicPay.
“A combinação de inflação persistente, juros elevados e aperto das condições financeiras tende a afetar negativamente os setores mais cíclicos”, previu Cadilhac, que projeta uma intensificação do quadro de desaceleração econômica ao longo do ano, sobretudo a partir do segundo semestre.
O PicPay prevê uma expansão de 1,2% para o setor de serviços em 2025. Já o C6 Bank estima que o setor cresça 2,5% neste ano.
“Na nossa visão, os serviços devem continuar em expansão ao longo de 2025, estimulados, principalmente, pelo mercado de trabalho aquecido”, justificou o economista Heliezer Jacob, do C6 Bank, em comentário.
O volume de serviços prestados no País tem mostrado uma demanda crescente independentemente de fatores conjunturais negativos, como a elevação na taxa básica de juros e pressões inflacionárias, apontou Rodrigo Lobo, gerente da pesquisa do IBGE.
“Movimentos dessa natureza na economia não têm se refletido de maneira decisiva para ditar o comportamento dos serviços”, disse Lobo. “Os serviços têm mostrado aumento de demanda continuado, independentemente de fatores conjunturais.”
Em fevereiro, o setor de serviços operava em nível apenas 1,0% aquém do nível recorde alcançado em outubro de 2024.
“O setor de serviços segue operando muito próximo desse patamar”, ressaltou Lobo. “A própria dinâmica do setor tem ditado o movimento de serviços em detrimento de movimentos da economia.”
Na passagem de janeiro para fevereiro, quatro das cinco atividades registraram avanços: serviços prestados às famílias (0,5%), serviços profissionais, administrativos e complementares (1,1%), informação e comunicação (1,8%) e outros serviços (2,2%). Na direção oposta, a única perda ocorreu em transportes (-0,1%).
“Apesar disso, os transportes continuam em nível elevado e devem recuperar o crescimento nas próximas leituras com a safra recorde”, afirmou o chefe de macroeconomia da gestora Kínitro Capital, João Savignon.
O transporte de cargas já dá sinais de melhora, possivelmente pela safra agrícola maior em 2025 do que a colhida em 2024, corroborou Rodrigo Lobo, do IBGE. Por outro lado, os serviços prestados às famílias sinalizam perda de fôlego neste início de 2025. Segundo Lobo, a pressão inflacionária, o aumento dos juros, o emprego e a renda em ritmo menos intenso podem estar inibindo o consumo de serviços supérfluos.
“Não sei dizer se já é um movimento impactado por essas variáveis. Pode estar ocorrendo algum tipo de pressão ou de percepção por parte dos consumidores de mudança no consumo”, avaliou Lobo.
O pesquisador aponta, porém, que três subsetores ainda sustentam o bom desempenho do setor de serviços como um todo desde o ano passado: tecnologia da informação; agenciamento de espaços de publicidade; e intermediação de negócios por meio de aplicativos ou plataformas de comércio eletrônico.
“Justamente as atividades mais dinâmicas ainda crescem, independentemente de possíveis pressões de determinadas variáveis conjunturais, como, por exemplo, uma pressão inflacionária mais importante e uma taxa de juros mais alta, que a gente tem observado na economia brasileira”, declarou.
Estadão