Preços podem ser afetados por fatores conjunturais, como eventos internacionais ou climáticas, mas, com bom ou mau tempo, são desarranjados pela gastança dos governos

Depois de dois anos de expansão vigorosa, a atividade econômica ficou estável na passagem de 2024 para 2025, mas com resultados bem superiores aos do início de 2024. A inflação, no entanto, acelerou-se. A alta de preços em 12 meses bateu em 4,56% em janeiro e atingiu 5,06% em fevereiro, permanecendo, como em todo o ano passado, bem acima da meta oficial de 3%.
Se o governo quiser conter o impulso inflacionário, deverá limitar o ritmo dos negócios. Na primeira metade do atual mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Produto Interno Bruto (PIB) teve crescimento médio anual pouco superior a 3%.
No mercado, operadores e especialistas já vinham projetando um desempenho econômico mais modesto a partir deste ano, com crescimento em torno de 2% em 2025, um pequeno recuo em 2026 e uma recuperação a partir de 2027.
A inflação estimada, no entanto, permanece bem acima da meta oficial de 3% neste ano e nos próximos. Segundo o boletim Focus divulgado em 10 de março, os preços ao consumidor devem subir 5,68% em 2025, 4,40% em 2026 e 4% em 2027, sem perspectiva de grande redução nos anos seguintes.
Além da inflação distante da meta, o mercado projeta para os próximos anos contas públicas desarranjadas, com déficits primários (sem inclusão dos juros) equivalentes a 0,60% do PIB neste ano e em 2026 e a 0,40% em 2027.
Só em 2028 o buraco fiscal deverá atingir o limite de 0,25%, recentemente proposto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Para os economistas, há uma clara associação entre o desequilíbrio financeiro do setor público e inflação.
Diante de contas desarrumadas e inflação persistente, a ação previsível dos dirigentes do Banco Central (BC) é o aumento dos juros. Esse processo foi iniciado, os juros básicos foram elevados a 13,25% e esperam-se novos aumentos.
Na próxima semana, o Copom, Comitê de Política Monetária do BC, deverá elevar a taxa a 14,25%, segundo se projeta. Novas altas deverão ocorrer, estimam as mesmas fontes, e já se fala em juros básicos de 15,50% e até 15,75% neste ano.
O presidente da República poderá resmungar, especialmente porque o BC é presidido por um ex-integrante do governo, Gabriel Galípolo, indicado por Lula. Galípolo tem valorizado um bom relacionamento com o Executivo, mas, ao mesmo tempo, tem procurado cumprir de forma adequada suas atuais funções.
Se algo tem assombrado o dia a dia dos brasileiros, no entanto,é a persistente alta de preços. Além de limitar o consumo e derrubar o padrão de vida de milhões de famílias, a inflação dificulta a atenção aos filhos, induz ao endividamento e condena grande parcela da população à insegurança e ao abandono ou adiamento de projetos de vida.
Preços podem ser afetados por fatores conjunturais, como eventos internacionais ou irregularidades climáticas. Mas, com bom ou mau tempo, são sempre desarranjados pela gastança e por outras ações irresponsáveis dos governos. No Brasil, esse tipo de ação é especialmente visível na permanente insegurança quanto ao futuro das contas federais.
Estadão