Bolsonaro insinua conflito militar com os EUA pela Amazônia

Em evento para promover turismo, presidente dá a entender que poderia recorrer à força caso os EUA sob Biden imponham sanções por causa do desmatamento desenfreado. “Quando acabar a saliva, tem que ter pólvora”, diz.

© picture-alliance/AP Photo/E. Peres Bolsonaro torcia abertamente pela vitória de Trump nas eleições americanas e até agora não reconheceu Biden como vencedor

Por DW

Após encarar a morte de um voluntário da vacina Coronavac como uma nova política e falar que o Brasil “tem que deixar de ser um país de maricas”, o presidente Jair Bolsonaro chegou ao fim desta terça-feira (10/11) insinuando que pode ter que recorrer à força militar para driblar eventuais sanções econômicas impostas pelo futuro governo Joe Biden em resposta ao desmatamento desenfreado da Amazônia.

“O Brasil é um país riquíssimo. Assistimos há pouco um grande candidato à chefia de Estado [Biden] dizer que se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele levanta barreiras comerciais contra o Brasil. E como é que nós podemos fazer frente a tudo isso? Apenas a diplomacia não dá, né, Ernesto?”, afirmou, dirigindo-se ao seu ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

“Porque quando acabar a saliva, tem que ter pólvora, senão não funciona. Precisa nem usar a pólvora, mas precisa saber que tem”, disse Bolsonaro, durante um evento em Brasília para promover a retomada do turismo no país.

Bolsonaro ainda disse que é preciso “fortalecer” o Brasil, “liberando a economia, o livre mercado”. “Dando liberdade para quem quer trabalhar, não enchendo o saco de quem quer trabalhar, quem quer produzir.”

No fim de setembro, o então candidato Biden, durante um debate com o republicano Donald Trump, citou a questão ambiental no Brasil e disse que contemplava organizar um fundo internacional de 20 bilhões de dólares (R$ 108,4 bilhões) para ajudar o país sul-americano a proteger a Amazônia. No entanto, Biden advertiu que, se mesmo assim os brasileiros persistirem com o desmatamento, o Brasil poderá vir a sofrer consequências econômicas, sinalizando possíveis retaliações ou sanções. “Parem de destruir a floresta. E, se vocês não pararem, irão enfrentar consequências econômicas significativas”, disse Biden.

À época, o governo Bolsonaro reagiu imediatamente. “O que alguns ainda não entenderam é que o Brasil mudou. Hoje, seu presidente, diferentemente da esquerda, não mais aceita subornos, criminosas demarcações ou infundadas ameaças”, escreveu Bolsonaro logo depois do debate. “Nossa soberania é inegociável”, completou o mandatário, um fã declarado de Trump e que torceu abertamente pela reeleição do republicano. Até agora, Bolsonaro não reconheceu a vitória do democrata Biden nas eleições da semana passada, permanecendo um dos poucos líderes mundiais que vêm evitando fazê-lo.

Numa entrevista publicada no início de novembro, Biden voltou a mencionar a Amazônia e a possibilidade de pressionar o Brasil economicamente para garantir proteção da floresta.

“Os incêndios que se espalharam pela Amazônia no verão passado [inverno no hemisfério sul] foram devastadores e provocaram uma reação global, com clamor para parar com a destruição e apoiar o reflorestamento antes que seja tarde demais. O presidente Bolsonaro precisa saber que, se o Brasil falhar na sua tarefa de guardião da Floresta Amazônica, o meu governo irá congregar o mundo para garantir que o meio ambiente seja protegido”, disse Biden, à revista Americas Quarterly.

O tom ameaçador usado por Bolsonaro na noite de terça-feira provocou piadas nas redes sociais, que fizeram menção à capacidade militar dos EUA.

No que parece ter sido uma coincidência irônica, o embaixador dos EUA no Brasil, Todd Chapman, publicou no Twitter, logo depois da fala de Bolsonaro, uma mensagem exaltando o Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA, que completa 245 anos.

A mensagem reproduz um vídeo que aponta que o corpo está “sempre de prontidão para responder de forma rápida, seja por terra, ar ou mar” e cita os destacamentos dos marines que protegem as representações diplomáticas dos EUA em Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.

JPS/ots

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