Ciro Nogueira assume coordenação do Planalto na CPI e busca aproximação com senadores independentes

Agora ministro da Casa Civil de Bolsonaro, líder do centrão irá redesenhar estratégia governista na comissão, criticada até por aliados.

O presidente Jair Bolsonaro e o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI), que assumiu a chefia da Casa Civil do governo – Adriano Machado – 27.jul.21/Reuters

Por Folhapress

Novo ministro da Casa Civil, o senador licenciado Ciro Nogueira (PP-PI) assumirá o papel de principal estrategista do governo Jair Bolsonaro na CPI da Covid. Hoje a comissão é o maior foco de desgaste para o presidente da República no Senado.

Líder do centrão, Ciro foi nomeado nesta quarta-feira (28) como substituto do general Luiz Eduardo Ramos na Casa Civil e disse a aliados que será o responsável por desenhar a estratégia governista no colegiado.

Até hoje, o principal articulador no Planalto para o tema era o ministro Onyx Lorenzoni, que estava na Secretaria-Geral da Presidência e foi deslocado para o Ministério do Trabalho e Previdência, recriado também nesta quarta

Ramos e a ministra da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, buscaram ajudar a traçar a resposta do governo na CPI. Porém, eles decidiram se afastar dos assuntos dos colegiados por duas razões. Primeiro, viviam em embate com Onyx, que queria ter protagonismo. Segundo, porque sofriam com queixas de senadores.

Embora já tenha sido nomeado, a expectativa é que Ciro Nogueira tome posse apenas na próxima semana.

A CPI da Covid tem 11 membros titulares, e a maioria é crítica a Bolsonaro. São considerados governistas apenas quatro senadores: Marcos Rogério (DEM-RO), Eduardo Girão (Podemos-CE), Jorginho Mello (PL-SC) e Luis Carlos Heinze (PP-RS).

O senador pelo Rio Grande do Sul ocupava uma vaga de suplente e será o substituto de Ciro no colegiado. Dessa forma, o filho mais velho do presidente, Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), assumirá uma vaga de suplente.

Embora haja dois vice-líderes do governo —Rogério e Mello—, a avaliação é que a composição não favorece o Planalto.

Jorginho Mello é um senador mais discreto, enquanto Heinze e Girão são vistos como folclóricos, usando boa parte das falas nas sessões para defender tratamentos ineficazes para a Covid-19.

De acordo com aliados, o foco imediato da ação de Ciro deve ser tentar reequilibrar a composição de forças na CPI.

A avaliação é que existe espaço para uma aproximação entre o Planalto e o senador Eduardo Braga (MDB-AM), que iniciou os trabalhos da CPI como integrante do bloco majoritário, o chamado G7, mas tem assumido posições menos hostis ao governo.

De acordo com interlocutores, Ciro deve ter como prioridade cortejar Braga para o lado governista.

Senadores governistas que integram a CPI também dizem acreditar que Ciro vai aproveitar seu bom trânsito com outras bancadas para manter um diálogo mais constante com o grupo majoritário da comissão, discutindo mais diretamente votações de requerimentos e outras ações do colegiado.

Afirmam que, até o momento, a articulação política do Planalto se resumiu a enviar material para preparar os membros aliados da CPI e a alinhar o discurso.

Um membro governista lembra que há espaço mesmo para negociar uma troca de membros indicados por bancadas mais próximas ao Planalto, como o PSD, substituindo por exemplo o independente Otto Alencar (PSD-BA).

No entanto, esse congressista reconhece que a hipótese é improvável, uma vez que a operação tem potencial de abrir um racha nas bancadas, o que poderia atrapalhar o governo em outras frentes.

A articulação política na CPI vinha sendo criticada pelos governistas desde a instalação da comissão, em abril. O dedo era apontado particularmente para a ministra Flávia Arruda, que teria deixado que bancadas próximas, como MDB e PSD, indicassem membros críticos ao Planalto.

Com a indicação de Onyx como estrategista, os governistas dizem que pelo menos havia um planejamento para as sessões e um alinhamento no discurso.

Esses senadores lembram que, logo após as denúncias envolvendo a vacina indiana Covaxin, o então ministro da Secretaria-Geral convocou rapidamente Marcos Rogério e Jorginho Mello para uma reunião no Planalto.

Nesse encontro, foram informados que Bolsonaro teria pedido ao então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, que investigasse o caso, e o general não teria encontrado irregularidades. Essa acabou virando a primeira versão oficial do governo.

Em relação a Ramos, a falta de traquejo político foi o principal fator que motivou a saída do general da Casa Civil —estrutura chamada pelo próprio Bolsonaro de “alma do governo”. Ramos continua como ministro, mas à frente da Secretaria-Geral da Presidência, pasta de menor importância.

Antes demonizado por aliados de Bolsonaro, o centrão —grupo de legendas fisiológicas com forte representação na Câmara e no Senado— é hoje pilar de apoio político do Planalto no Congresso.

A chegada de Ciro Nogueira na Casa Civil não apenas sela o casamento de Bolsonaro com o centrão como consolida o avanço do grupo sobre os militares no governo.

Agora, três ministros da ala política têm assento no Palácio do Planalto, despachando a poucos metros do gabinete presidencial: Ciro, Flávia Arruda, que é deputada licenciada do PL-DF, e Fábio Faria (Comunicações), deputado licenciado pelo PSD-RN.

Os ministros militares no Planalto são Ramos, em uma pasta esvaziada, e o general Augusto Heleno, no GSI (Gabinete de Segurança Institucional).

Heleno protagonizou, ainda na campanha de 2018, um dos episódios que marcaram o discurso contra a velha política do então candidato à Presidência Bolsonaro. Ele aproveitou um ato partidário para, em suas palavras, cantar uma “musiquinha”.

“Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”, afirmou. Em sua versão, o general canta “centrão” no lugar de “ladrão”, que consta na letra original composta por Ary do Cavaco e Bebeto Di São João.

Pouco mais de dois anos depois, a retórica do governo mudou radicalmente. “Eu nasci de lá [do centrão]”, afirmou Bolsonaro no último dia 22. “Eu sou do centrão.”

Ainda nesta quarta, o presidente oficializou a recriação do Ministério do Trabalho e Previdência. A pasta do Trabalho —originalmente criada em 1930— havia sido extinta pelo próprio Bolsonaro ao tomar posse em 2019.

O novo ministério ficará responsável por assuntos da Previdência; políticas e diretrizes para geração de emprego, renda e apoio ao trabalhador; fiscalização do trabalho; política salarial; segurança e saúde no trabalho; registro sindical; regulação profissional, entre outros temas.

A pasta de Onyx ainda abriga o conselho curador do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), o conselho deliberativo do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), o Conselho Nacional de Previdência Social, entre outros.

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