Senadores de oposição ou independentes na CPI da Covid esvaziaram a sessão desta sexta-feira, 18.
Por Estadão
Brasília – Em um gesto de protesto contra o depoimento de médicos que defendem o chamado “tratamento precoce” contra a covid-19, senadores de oposição ou independentes na CPI da Covid esvaziaram a sessão desta sexta-feira, 18. Enquanto governistas ouviam o infectologista Ricardo Zimerman, um dos nomes apontados como integrante do “gabinete paralelo” que aconselhou o presidente Jair Bolsonaro na pandemia, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), anunciava do lado de fora da sala, em entrevista a jornalistas, uma lista de 14 investigados pela CPI, incluindo o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
A decisão do relator de abandonar a sessão foi criticada por governistas. O senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) discutiu com Renan lamentando a postura. “Eu não tenho que perguntar”, disse o relator. “Não tem o que não lhe interessa”, rebateu o parlamentar.
Do chamado G-7, apenas o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), ficou na sessão. Ele discutiu com o infectologista Ricardo Zimerman sobre as mortes por coronavírus no Amazonas, Estado do parlamentar. O médico criticou o lockdown ao afirmar que o vírus contaminava pessoas aglomeradas em casa. Omar Aziz reagiu com ironia e disse que o governo usou pessoas do Estado como “cobaia”, ao fazer referência aos tratamentos com cloroquina.
Além de Zimerman, a CPI ouve hoje o médico Francisco Cardoso Alves. Os dois foram chamados a depor a pedido de senadores governistas por defenderem a prescrição de medicamentos como cloroquina, ivermectina e azitromicina a pacientes de covid, mesmo sem comprovação de que esses remédios têm eficácia contra a doença. Os médicos tentaram se distanciar de vinculações políticas com o governo Bolsonaro.
Investigados. Do lado de fora da sessão, Renan anunciou ter classificado oficialmente 14 pessoas como investigadas pela comissão. A maioria delas é ligada a Bolsonaro, o que representa uma derrota para o governo na CPI e expõe a articulação para enquadrar e responsabilizar o chefe do Planalto pelo descontrole da pandemia do novo coronavírus no Brasil.
Na prática, passar da condição de testemunha para investigado permite que Queiroga e os demais tenham acessos aos documentos da CPI, além de sinalizar que a comissão já levantou provas e indícios para responsabilizar a atuação dessas pessoas na pandemia. Por outro lado, em um possível novo depoimento, um investigado pode optar por não falar no colegiado.
Renan justificou a inclusão de Renan na lista de investigado porque, segundo ele, Queiroga “mentiu muito” ao prestar depoimento no colegiado. O relator também citou documentos enviados pelo Itamaraty CPI em que o ministro “tenta vender o tratamento precoce e a cloroquina” em conversa com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Aos senadores, o titular da Saúde admitiu que os medicamentos não são eficazes contra covid-19.
“Ele finge que é ministro, defende o uso de máscara e o presidente diz que ele estará obrigado a fazer um decreto minimizando o uso de máscara. Defende autonomia concorrente dos Estados e o presidente da República entra, com a participação dele, contra essa autonomia concorrente”, afirmou Renan.
O relator também afirmou que Queiroga levou um “puxão de orelha” da OMS ao ter cobrado agilidade no envio de vacinas ao Brasil após, no ano passado, ter atrasado os pedidos do imunizante e optado por comprar vacinas apenas para 10% da população do Brasil no consórcio Covax Facility, quando era permitido a opção pela compra de imunizantes para atender 20% ou até 50% da população brasileira. Integrantes do gabinete paralelo que assessorou o presidente Jair Bolsonaro durante a pandemia também são alvos da CPI.
Veja a lista dos investigados pela CPI da Covid:
Elcio Franco – ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde
Arthur Weintraub – ex-assessor internacional da presidência da República
Carlos Wizard – empresário
Eduardo Pazuello – ex-ministro da Saúde
Ernesto Araújo – ex-ministro das Relações Exteriores
Fabio Wajngarten – ex-secretário de Comunicação
Francieli Fantinato – coordenadora do Programa Nacional de Imunização
Hélio Angotti Neto – secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde
Marcellus Campêlo – ex-secretário de Saúde do Amazonas
Marcelo Queiroga – ministro da Saúde
Mayra Pinheiro – secretário de Gestão do Trabalho e Educação do Ministério da Saúde
Nise Yamaguchi – médica oncologista
Paolo Zanotto – virologista
Luciano Azevedo – anestesista