Nas redes, deputados fazem comentários positivos e negativos sobre o primeiro dia da prova; MEC diz que prova é elaborada por professores independentes

O GLOBO
O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), que ocorreu neste domingo, se tornou objeto de disputa entre deputados da base de apoio do presidente Lula (PT) e aqueles que integram a oposição. Nas redes sociais, governistas elogiam o tema da redação, enquanto os políticos ligados a Jair Bolsonaro (PL) criticam algumas das questões da prova.
Na edição deste ano, os estudantes tiveram que fazer um texto sobre os desafios para enfrentar a invisibilidade do trabalho de cuidado das mulheres no Brasil. A proposta foi muito elogiada por parlamentares da esquerda que comentaram sobre a importância de refletir sobre o assunto.
Presidente nacional do PT, a deputada Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o tema da redação chama atenção para a desigualdade enfrentada pelas mulheres. “Debate fundamental e providencial para confrontarmos a sociedade patriarcal em que vivemos e avançarmos em políticas para as mulheres”, disse.
Fora do Congresso Nacional, a primeira-dama Janja e a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, também elogiaram a escolha da banca. No X (antigo Twitter), Janja considerou a proposta como “difícil” por ser ainda recente: “Mas é urgente e extremamente importante dialogarmos sobre a invisibilidade do trabalho de cuidado da mulher no Brasil”, escreveu.
Outros parlamentares como Maria do Rosário (PT-RS) e Erika Kokay (PT-DF) acompanharam o movimento.
Do outro lado do espectro político, contudo, a prova não recebeu apenas comentários positivos. Alguns dos textos das seções de Linguagens e Ciências Humanas foram criticados por tratar de temas como o agronegócio ou direitos para a comunidade LGBTQIA+.
Uma delas trazia um texto que tratava sobre a realidade do Cerrado. De acordo com o extrato que foi retirado de uma revista, o conhecimento local na região estaria cada vez mais “subordinado à lógica do agronegócio”. “De um lado, o capital impõe os conhecimentos biotecnológicos, como um mecanismo de universalização de práticas agrícolas e de novas tecnologias e, de outro, o modelo capitalista subordina homens e mulheres à lógica do mercado”, diz trecho.
Nikolas Ferreira (PL-MG) afirmou que irá tomar providências contra a questão que, segundo ele “ataca o agro brasileiro, seus trabalhadores e produtores”. O parlamentar solicitou que o presidente da bancada ruralista, Pedro Lupion, convoque o ministro da Educação, Camilo Santana, para que ele presta esclarecimentos.
Também nesta pergunta, a senadora Teresa Cristina (PP-MS) disse que o governo deu “uma aula” sobre má-formulação. “Conteúdo claudicante, além de ideologizado. Lamentável. Um desserviço à educação”, falou a ex-ministra da Agricultura no mandato de Jair Bolsonaro.

O deputado federal Daniel Freitas (PL-SC) foi outro que fez críticas: “Se o candidato não fingir ser vegane, comuniste, elu/delu, tá fora. A educação está absolutamente tomada por essa praga chamada marxismo cultural. Que lixo”, afirmou em seu Instagram.
Ao menos outras duas questões também foram alvos de crítica: uma que trazia uma notícia do GLOBO sobre um movimento da torcida do clube de futebol Fluminense que visa mudar a letra das músicas de torcida que trazem termos racistas e outra que tratava sobre uma mudança no dicionário sobre a definição de casamento para incluir a união homoafetiva. “To falando”, disse o deputado estadual do do Mato Grosso do Sul Rafael Tavares (PRTB).
Neste domingo, estudantes de todo o país realizaram o primeiro dia de provas do ENEM. No próximo dia 12, ocorre a aplicação da segunda parte do exame, os candidatos devem completar os cadernos de matemática e ciências da natureza. Os portões fecham às 13h e a aplicação começa às 13h30.
Em nota, o Ministério da Educação afirmou que as questões do Enem são elaboradas por professores independentes e selecionadas por meio de edital de chamada pública para colaboradores do Banco Nacional de Itens (BNI). Os itens alvos de crítica passaram pelo fluxo estabelecido nas normativas do BNI.