Governo discute possibilidade de dividir o Ministério do Desenvolvimento Social

O GLOBO
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exaltou, por duas vezes nesta quinta-feira, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), que corre o risco de ter a sua pasta desidratada na reforma que o governo irá promover para acomodar o Centrão na Esplanada. Uma das ideias em discussão é entregar uma das partes do ministério ao PP, partido do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL).
Caso isso se concretize, Lula terá 39 ministérios, igualando-se ao governo de Dilma Rousseff, e não precisará demitir nenhum dos atuais integrantes do primeiro escalão para acomodar os novos aliados. O presidente já anunciou, nesta semana, que irá criar o Ministério da Média e Pequena Empresa.
Nesta quinta-feira, Lula participou pela manhã da cerimônia de anúncio das obras do Piauí, estado de Wellington Dias, que serão incluídas no PAC. À tarde, houve o lançamento do programa Brasil Sem Fome, do Ministério de Desenvolvimento Social.
Dias foi governador do Piauí por quatro mandatos e no ano passado, fez do também petista Rafael Fonteles, o seu sucessor.
— É o índio mais esperto do Brasil. E ele é tão esperto que ele conseguiu encontrar um cara mais esperto do que ele ainda, pense num cara esperto — discursou o presidente, se referindo a Fonteles.
Wellington Dias tem origens indígenas. No ato do PAC pela manhã, Lula também havia chamado o ministro de “esperto”. Caso o Ministério do Desenvolvimento Social seja dividido, uma das pastas, que continuaria com Dias, cuidará do Bolsa Família e do programa de combate à fome. Uma outra, sob o comando do deputado André Fufuca (PP-MA), ficaria com demais programas de assistência social.
O lançamento do Brasil Sem Fome no estado de Wellington Dias foi uma escolha de Lula para fazer um gesto de desagravo em meio a pressão sofrida pelo aliado durante as discussões da reforma ministerial.
No Planalto, houve discussão de qual melhor momento para anunciar a provável divisão do ministério de Dias: se antes do lançamento do Brasil Sem Fome ou depois. Dias é um dos petistas mais próximos do presidente e Piauí foi o Estado que deu maior votação para Lula nos dois turnos da eleição.
O ministro viajou com o presidente no mesmo avião de Brasília para Teresina. Segundo outros passageiros, Dias ficou na cabine do presidente durante a viagem, mas não a sós com Lula, o que teria inviabilizado uma conversa definitiva sobre o futuro do seu ministério.
O ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, outro que pode ser afetado pela reforma, também estava no voo. De acordo com relatos, porém, França não conversou com Lula durante a viagem. Pelo desenho discutido no Palácio do Planalto, o Republicanos, o outro partido que negocia sua adesão ao governo, ficará com a pasta. O indicado pela legenda é o deputado Silvio Costa Filho (PE).
A troca no ministério passou a ser vista com mais preocupação nos últimos dias, diante da resistência de França de deixar o cargo. O atual ministro tem argumentado que seria temerário entregar o comando do Porto de Santos, atualmente sob o seu guarda-chuva, ao Republicanos, partido do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. O ex-ministro de Jair Bolsonaro é adversário político de Lula e possível candidato a presidente na eleição de 2026. Outra ponderação é que o movimento pode fortalecer o adversário do governo no maior estado do país e impactar nos planos do grupo político para tentar conquistar o Palácio dos Bandeirantes.
França tem sua base política na Baixa Santista, o que aumenta a sua resistência a entregar o comando do ministério que cuida do porto local. Por causa disso, o governo ainda discute o destino dele.
O plano inicial era realocá-lo no Ministério da Pequena e Média Empresa, cuja recriação foi anunciada na terça-feira por Lula durante a sua live semanal. A pasta será desmembrada do Ministério da Indústria e Comércio, comandado pelo vice Geraldo Alckmin, também do PSB. O posto, porém, não agrada França.
Diante desse cenário, existe a possibilidade de que o atual titular dos Portos e Aeroportos fique com a Ciência e Tecnologia. Se isso ocorrer, Luciana Santos (PCdoB), atualmente em Ciência e Tecnologia, iria para a pasta de Pequena e Média Empresas. Por ser aliada histórica do PT e presidente de partido, Santos não deve ficar sem ministério.
Integrantes do Centrão passaram a propagar também a possibilidade de o PP assumir o Ministério do Esporte num formato que incluiria as atribuições de Pequena e Média Empresa. A pasta ficaria com André Fufuca. Entre os integrantes da equipe de articulação política do governo, porém, essa possibilidade não vem sendo cogitada.
O caminho, caso o Esporte entre na negociação, seria, segundo auxiliares de Lula, turbinar a pasta com emendas. O ministério hoje é comandado pela ex-jogadora de vôlei Ana Moser, que tem forte apoio de atletas.