Lula: ‘É a primeira vez que um presidente começa a governar antes da posse’

Equipe do presidente eleito apresenta relatório final da transição. Novos ministros serão anunciados em breve

Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, durante apresentação de relatórios do governo de transição, no Centro Cultural Banco do Brasil FOTO: WILTON JUNIOR / ESTADÃO 

Estadão

BRASÍLIA – O governo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva concluiu nesta quinta-feira, 22, o trabalho realizado por 32 grupos técnicos e os dois conselhos que compuseram essa etapa de diagnóstico que foi herdado do governo Bolsonaro.

Lula iniciou sua fala agradecendo, inicialmente, aos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, pela aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, na noite de quarta-feira, 21. “É a primeira vez que um presidente começa a governar antes da posse. Tivemos a responsabilidade de fazer uma PEC. Todos sabiam que a PEC não era nossa. Era para cobrir a irresponsabilidade do governo que vai sair e não colocou dinheiro necessário para a política que ele próprio prometeu”, disse.

O presidente eleito afirmou que recebeu um governo “quebrado” das mãos do presidente Jair Bolsonaro, o qual voltou a comparar ao fascismo. “Não pretendo fazer pirotecnia com esse material, um show, um escândalo. Quero que a sociedade brasileira saiba como tomamos posse, o Brasil que encontramos em dezembro de 2022. Recebemos o governo em situação de penúria. As coisas mais simples não foram feitas porque o presidente preferia contar mentiras no cercadinho do que governar esse País.”

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, disse que a síntese do trabalho mostra que houve um “retrocesso em muitas áreas e que o governo atual andou para trás”. O vice citou uma série de dados de diversas áreas.

Segundo a transição, houve enorme retrocesso na educação. Na área de saúde, disse o vice, o Brasil sempre foi um exemplo para mundo, mas que falhou muito na área de vacinas e imunização, por exemplo. Alckmin citou o exemplo da poliomielite, em que 50% das crianças não tomaram a dose de reforço.

Na área da Cultura, houve redução de 90% dos orçamentos destinados ao setor. Na Agricultura, houve diminuição de 95% dos estoque de produtos básicos, como o arroz, segundo dados da Conab. Em logística, encontrou 93% das rodovias federais sem contrato de manutenção e prevenção. Os recursos para a Defesa Civil para prevenção e desastres foram reduzidos para R$ 2 milhões.

No segmento de habitação, Alckmin disse que o governo Bolsonaro zerou a faixa 1 de acesso a programas de habitacionais, a parte mais importante do ponto de vista social, pois engloba as pessoas que ganham até R$ 1,8 mil. No meio ambiente, houve aumento de 59% do desmatamento na Amazônia, entre 2019 e 2022.

Alckmin disse que o governo de transição fez diversos pedidos de informação por Lei de Acesso à Informação, mas que 26% dos pedidos de informação foram negados. “Houve um desmonte do estado brasileiro. Mais de 14 mil obras paradas. Isso não é austeridade. É ineficiênciade gestão. Uma tarefa hercúlea vem pela frente”, comentou o vice.

Lula disse que “não haverá tempo para descanso nos próximos quatro anos. “Fiz 77 anos, me sinto com energia de 30 e tesão de 20. Trabalharei mais do que trabalhei nos outros governos. Quero sair, quando acabar meu mandato, mostrando que fomos eficientes para atender a parte mais pobre e necessitadas. Nossa prioridade é cuidar do povo mais pobre, trabalhador, necessitado.”

A presidente do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT), agradeceu o trabalho dos grupos técnicos e elogiou o relatório produzido pelos integrantes do gabinete de transição. Segundo a parlamentar, o documento apresenta um raio-x do País e indica as principais medidas a serem adotadas pelo futuro governo.

“Eu acho que os ministros que vão assumir terão um diagnóstico muito preciso do que está acontecendo no Estado brasileiro e vão ter orientações de como reconstruir a máquina do Estado para servir ao povo brasileiro”, disse Gleisi.

O trabalho centralizado no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) envolveu, diretamente, 940 pessoas, sendo a maioria voluntários, para elaborar os levantamentos e apontar orientações para os primeiros 100 dias de trabalho de cada ministério. Somadas as atuações de pessoas de outros locais, foram mais de 5 mil colaboradores, no total. “Foi a equipe mais participativa e econômica”, disse Alckmin.

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