“É preciso tomar ações para que a dívida não continue crescendo”, disse Roberto Campos Neto.
Por Estadão
BRASÍLIA – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira, 9, que não há nenhum espaço para novas medidas fiscais sem que haja contrapartidas fiscais. Ele foi questionado sobre uma nova rodada de auxílio emergencial, pago em 2020 a desempregados, informais e beneficiários do Bolsa Família para enfrentarem os efeitos da covid-19.
“É preciso tomar ações para que a dívida não continue crescendo. A reação dos mercados nos mostra que a fragilidade fiscal pesa mais do que os eventuais benefícios de se colocar mais dinheiro na economia. Pode acabar tendo o efeito contrário, de contração da economia”, afirmou, em evento virtual promovido pelo Observatory Group.
Campos Neto disse, porém, entender a necessidade de novas medidas, mas ressaltou a necessidade de contrapartidas. “Há consenso no Executivo e no Legislativo de que, se algo for feito, tem que ser com disciplina fiscal”, completou.
Com o agravamento da pandemia, aumentou a pressão sobre o governo para uma nova rodada do auxílio. No ano passado, foram pagas cinco prestações de R$ 600 e quatro, de R$ 300. Agora, como mostrou o Estadão, a equipe econômica aceita uma nova rodada de R$ 200 por três meses, desde que para um público menor e atrelada a medidas de contenção de despesas. O ministro da Economia, Paulo Guedes, chegou a falar em atender metade dos 64 milhões de brasileiros que receberam o auxílio no ano passado.
A contrapartida fiscal, no entanto, está travando a retomada do benefício. Na segunda-feira, 8, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que não é não é possível condicionar a concessão do auxílio à entrada em vigor de medidas de ajuste fiscal porque a emergência e a urgência da situação não podem esperar.
Em entrevista à GloboNews, Pacheco disse que o cenário pode ser diferente em três ou quatro meses, com o aumento da imunização, mas agora ele é urgente. Já o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), acenou com a possibilidade de o Congresso abrir uma “excepcionalização temporária” do Orçamento para garantir uma nova rodada.
Para Campos Neto, a nova composição dos comandos da Câmara e do Senado deve dar impulso às propostas de reformas que tramitam no parlamento. “Temos agora no Congresso uma situação mais favorável para a aprovação de reformas. Isso deve reduzir um pouco os prêmios de risco e ajudar a reduzir a volatilidade no câmbio.”
“Entendemos que parte dessa volatilidade está relacionada com o risco de longo prazo do País. Por isso é importante aprovar reformas que possam mitigar esse risco fiscal”, enfatizou.
Mais uma vez, o presidente do BC lembrou que o Brasil não tem espaço fiscal para estimular a economia por meio de investimentos públicos. Assim, o crescimento da atividade deve vir por meio de investimentos do setor privado, que exigem credibilidade da política fiscal. “Precisamos de reformas para gerar confiança e fazer o setor privado investir. A resposta é credibilidade, credibilidade e credibilidade”, completou.