Pré-candidata à Presidência pelo MDB diz que pretende abrir diálogo com demais nomes do centro político e afirma que é contrária à privatização da Petrobras
Por Estadão
Após consolidar seu nome no MDB e conseguir o apoio do PSDB e do Cidadania para sua pré-candidatura presidencial, a senadora Simone Tebet (MS), de 52 anos, pretende agora abrir canais de diálogo com os demais nomes do centro político. A senadora emedebista vê espaço para uma aproximação com Ciro Gomes, pré-candidato do PDT. “No momento certo essa conversa tem que acontecer e vai acontecer. Estamos no mesmo lado da história. Essa conversa é necessária”, afirmou em entrevista ao Estadão.
Simone se diz ciente do desafio de tornar seu nome conhecido do eleitorado. Ela minimiza as resistências regionais no MDB a seu nome – em vários Estados, os candidatos locais devem se alinhar às candidaturas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL) – diz confiar numa decisão tardia do eleitorado.
“Não quero palanque exclusivo. Quero espaço de fala”, afirmou. “Essa é uma eleição de dois rejeitados e que tem uma franja muito grande de eleitores que buscam alternativa.”
Simone disse ainda que, se for eleita, um dos primeiros atos de seu governo será, por decreto, “rever qualquer avanço de porte de armas”. Além disso, a senadora se diz contrária à privatização da Petrobras e afirma que o governo tenta intervir de forma equivocada na empresa. “Tem muitas outras estatais para serem privatizadas.” A seguir os principais trechos da entrevista:
Acredita que é possível concentrar mais o centro? Pretende procurar os outros pré-candidatos desse campo?
Na segunda-feira (dia 13) os presidentes dos partidos vão se reunir para discutir essa agenda. Agora não falo mais só pelo MDB, mas sou também o PSDB e o Cidadania. Sou o centro democrático. Os presidentes dos partidos têm autonomia para conversar com os partidos que não têm pré-candidato e em seguida com os que têm.
Mas acha possível reduzir o número de candidaturas e concentrar forças em uma só?
Acredito que sim. As convenções estão distantes, só começam no dia 20 de julho. São 45 dias. Em menos de 15 dias um pré-candidato mudou de partido, outro abriu mão e o meu nome foi escolhido no centro democrático. Saímos de três pré-candidaturas fortes, com Sérgio Moro, João Doria e Simone, e hoje temos uma.
Pretende abrir um canal de diálogo com Ciro Gomes (PDT) na campanha?
Da minha parte, sem dúvida estou aberta para conversar com o Ciro. Nós dois sempre nos falamos por zap. Me dou muito bem com o irmão dele (o senador Cid Gomes) também. No momento certo essa conversa tem que acontecer e vai acontecer. Estamos no mesmo lado da história. Essa conversa é necessária. Em que sentido, o tempo vai dizer. Hoje o centro democrático tem candidatura própria. Respeito o Ciro, que não abre mão da candidatura. Mas política é diálogo.
Por que sra. coloca a sua candidatura como sendo o ‘centro democrático’? E os demais nomes desse campo?
O União Brasil estava, mas achou melhor caminhar paralelo, e eu respeito. No centro, nós temos três partidos, e não quaisquer partidos. Eu pertenço ao maior partido do Brasil. O PSDB já governou o País e sempre esteve no caminho do centro democrático. O centro democrático está apresentando através do meu nome. E o Cidadania, com a história do Roberto Freire.
A sra. vai tolerar traições políticas na campanha nos Estados onde o MDB é alinhado com Lula ou Bolsonaro?
O MDB sempre respeitou os palanques regionais. O PSDB, como um partido democrático que é, também entende que é preciso respeitar. Essa é uma eleição em que o apoio do partido, com o tempo de rádio e TV e a estrutura, nos dá capacidade de crescer. O MDB tem 2 milhões de filiados, e eles estão às margens dos palanques regionais. O crescimento vai fazer com que a gente atraia os palanques. A democracia é a liberdade de escolha. Não quero palanque exclusivo. Quero espaço de fala. Sempre tive que empurrar portas. As coisas não me vieram fácil para eu achar que alguém pode me carregar. Não vou prejudicar qualquer projeto de companheiros. A política é uma via de duas mãos. Em alguns Estados terei dois palanques, em outros vou ter que dividir com outros pré-candidatos.
Mas em muitos casos o palanque local vem acompanhado da retaguarda da máquina do governo…
Mas a máquina nunca trabalhou para candidato a presidente. Qual é o candidato a governador que vai usar a máquina para eleger um candidato a presidente da República?
Que expectativa tem em relação ao seu desempenho nas pesquisas?
O crescimento será proporcional à queda do desconhecimento em relação ao meu nome. Essa é uma eleição de dois rejeitados e que tem uma franja muito grande de eleitores que buscam alternativa. Não é questão de quando, ou se é antes ou depois da convenção. (O crescimento nas pesquisas) pode acontecer antes ou depois. Vai haver um crescimento rápido a partir do momento em que as pessoas se interessarem pela eleição.
As pesquisas mostram que grande parte do eleitorado decide o voto mais tarde. Em 2018 foram 46%, segundo dados de pesquisa da época. A sra. conta com esse ‘voto volátil’ na reta final?
É muito mais fácil romper essa barreira e alcançar esse eleitor. Ele não está decidido pelo sim, mas pelo não. Esse é o diferencial dessa eleição que me dá certeza que posso chegar ao 2° turno.
O horário eleitoral na TV nesta eleição será decisivo?
Será muito importante. Engana-se quem pensa que a população não está preocupada com a eleição.
Luciano Huck publicou um artigo no ‘Estadão’ no qual apresentou propostas para o Brasil elaboradas pelo grupo dele e defendeu o diálogo. Esse diálogo já existe?
Existe. Eu tenho um carinho muito grande pelo Luciano Huck. Estivemos juntos em algumas ocasiões. Ele tem um compromisso social muito forte. Li a matéria e concordo com grande parte das propostas apresentadas. Não é muito diferente dos programas que estão no nosso plano de governo. Nossa candidatura vai ganhar musculatura porque tem a capacidade de ouvir. Não vamos entregar o prato pronto.
O alinhamento da terceira via é possível no 2° turno, caso se confirme a polarização?
O meu calendário político só tem uma data: o 1° turno. Estou convicta de que temos condições de chegar ao 2° turno, apesar do tempo estar ficando menor. Há sete ou oito meses eram oito pré-candidatos, hoje são praticamente dois. Não tem porque discutir segundo turno.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) será seu candidato a vice?
Nós confiamos demais no PSDB e sabemos que ele vai entregar o melhor nome para o centro democrático. O PSDB tem valorosos nomes. Minha ligação com o Tasso é umbilical. Tenho uma história de vida com ele. Começou com meu pai e depois fomos colegas no Senado por sete anos. Mas a escolha é do PSDB.
Minha ligação com o Tasso é umbilical. Tenho uma história de vida com ele. Começou com meu pai e depois fomos colegas no Senado por sete anos. Mas a escolha (do vice) é do PSDB.”
Simone Tebet, pré-candidata à Presidência pelo MDB
O teto de gastos foi criticado por Lula. Como a sra vai tratar esse tema se for eleita?
É um grande equívoco (criticar o teto de gastos) de quem não está entendendo a realidade do Brasil. Se você não tem limite para a gastança pública, o dinheiro do povo será usado para benefícios próprios. Se não fosse o teto de gastos, de quanto seria o orçamento secreto no Brasil? Quanto seria a conta para se pagar no ano que vem nos currais eleitorais?
E a reforma trabalhista, qual será a sua posição caso seja eleita?
Não podemos retroceder na reforma trabalhista, mas pactuar com algumas categorias. Não dá para olhar para trás. É hora de falar de reforma tributária e uma reforma administrativa que seja a favor do serviço público.
A sra. mudaria a legislação sobre o porte de armas, que é uma bandeira do bolsonarismo?
Se eu for eleita, um dos primeiros atos será por decreto rever qualquer avanço de porte de armas. Determinados temas são tão complexos que não pode prevalecer a vontade pessoal de um único governante. Sou contra o porte de armas no Brasil. Votei a favor do porte de armas na zona rural, pelas mulheres. A mulher fica sozinha na sede enquanto o marido vai trabalhar e não tem como proteger seu filho.
A sra. vai reduzir o espaço das Forças Armadas no governo se for eleita?
Isso é besteira. Não é esse o problema do Brasil. As Forças Armadas são uma instituição tão importante para a democracia quanto o Congresso Nacional. O problema não está na militarização da política. Os militares nos ajudam a governar como sempre ajudaram. O problema está na politização da polícia.
O que acha da ideia de privatizar a Petrobras? O que deve ser privatizado no Brasil?
Sou a favor das privatizações desde que elas tenham um fim social. Houve um momento em que se privatizou para pagar dívida. Isso passou. Temos mais 40 estatais. Mas sou contra a privatização da Petrobras. Podem haver subsidiárias e setores da Petrobras privatizados, como já tem. Mas neste momento em que mesmo estatal ela não consegue conter a alta, se não fizermos o dever de casa em relação ao refino, não dá para falar em privatizar uma estatal que está dando lucro. Vamos com calma. Tem muitas outras estatais para serem privatizadas. São critérios básicos: entre as deficitárias quais não são estratégicas?
Se a sra. fosse presidente hoje, faria alguma intervenção na Petrobras para conter a alta dos combustíveis?
Primeiro é preciso ter um presidente da Petrobras com autonomia e capacidade de dialogar com os acionistas. Ele precisa dizer que sim, vocês podem ter lucro, afinal é uma S.A. Ninguém discute isso. Mas a Petrobras tem um fim social. Com esse diálogo é possível fazer uma política nacional estratégica para fazer com que a Petrobras seja autossuficiente na produção e no refino. O governo tenta intervir na Petrobras de forma totalmente equivocada. A gente tem que respeitar a Petrobras como ela é, uma sociedade de economia mista com um função social estratégica para o Brasil. É possível conciliar os dois.