Reunião do partido do Rio teve como eixo central uma disputa entre os irmãos e aprovou uma intervenção no diretório estadual; grupo do senador se reúne nesta segunda-feira para traçar futuro

O GLOBO
O encontro do PDT no Rio de Janeiro que terminou em confusão entre os irmãos Ciro Gomes, candidato à Presidência no ano passado, e Cid Gomes, senador pelo Ceará, teve uma série de discursos. Antes dos dois políticos terem se levantado da cadeira e discutido de forma acalorada, Ciro havia afirmado que iria vencer as eleições do ano que vem em Fortaleza:
— Eu vou ganhar em Fortaleza com Sarto em cima de vocês — disse, aos cidistas. Quando seu irmão tentou rebater, o ex-governador afirmou que o senador não tinha “moral” para discursar.
A disputa na capital do Ceará no ano que vem representa um ponto de dissonância entre os irmãos. Enquanto Ciro defende a reeleição do atual prefeito, José Sarto, Cid quer voltar a compor com o PT, partido com quem o PDT se aliou por mais de vinte anos no estado.
Recentemente, o diretório estadual tentou impedir que o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, desfiliasse da sigla e concorresse contra seu correligionário. O grupo de Cid havia concedido a anuência, mas a Executiva Nacional judicializou o caso.
Na manhã desta segunda-feira, contudo, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-CE) aprovou por unanimidade a desfiliação de Leitão do PDT, o que abre precedente para que outros parlamentares do grupo do senador possam deixar o partido sem perder seus mandatos. A ala de Ciro ainda pode recorrer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
O clima de tensão entre as alas de Ciro e Cid gerou grande desconforto no encontro. Após quase chegarem às vias de fato, alguns políticos do partido fizeram apelos para que a sigla pudesse chegar a um consenso. Entre eles, o vice-governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, que afirmou que a briga entre os dois enfraquece o PDT em todo o país:
— Hoje ninguém ganha aqui, pelo amor de Deus, não é saída a gente discutir hoje. Agora a gente tem que trabalhar para não deixar o partido se destruir no Ceará, quero que vocês saibam que vocês não estão só estragando no Ceará, vocês estão acabando com a gente no resto do país, no Nordeste, de todos os cantos, a gente vai enfraquecer o partido — disse o vice-governador que se dirigiu diretamente a Cid e Ciro na fala, afirmando que o senador já havia se colocado o suficiente e que o ex-presidenciável ajudou na trajetória da sigla.
Na sexta-feira, após o entrevero familiar público, a Executiva Nacional do PDT aprovou uma intervenção na unidade cearense, formalizando o afastamento do senador do comando local. A partir disso, é preciso que uma nova direção seja nomeada.
O grupo do senador se reuniu hoje, às 12h, no Ceará. A expectativa era de que, no encontro, Cid anunciasse um novo acionamento judicial contra a intervenção ou sua saída do partido. No entanto, ele fez uma nova convocação para que o diretório estadual do PDT discuta “coletivamente a situação do partido”.
Entenda o imbróglio
O encontro no Rio ocorreu após uma queda de braço travada entre André Figueiredo e o senador Cid Gomes. Com o aval de Ciro, Figueiredo destituiu a Executiva do Ceará, que acabou reestabelecida via liminar.
Após a retomada, Cid convocou novas eleições locais e foi eleito presidente estadual. Horas depois, contudo, com outro acionamento judicial, o grupo de Ciro Gomes o retirou do posto, e o comando cearense voltou às mãos de Figueiredo.
As divergências entre os grupos do senador e do ex-presidenciável ocorrem desde o ano passado e circundam o mesmo tema: o apoio ao PT. Assim como fez no segundo turno das eleições, a ala de Cid defende que o partido retome a aliança e seja base do governador Elmano de Freitas, enquanto os ciristas preferem que a sigla fique na oposição.