Covid está mais grave no Brasil em 2021, mas medidas de restrição são mais frouxas, diz Ipea

O texto sugere que a esse recuo contribuiu para o agravamento da epidemia no País.

Movimentação na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Municipal Ronaldo Gazzolla, em Acari, zona norte do Rio. AFP/Andre Coelho – 5.mar.2021

Por Estadão

RIO – A segunda onda da pandemia de covid-19 no Brasil tem sido mais grave do que a primeira, mas as medidas de restrição adotadas neste ano foram tardias e bem menos rígidas do que em 2020, aponta nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada nesta terça-feira, 20. O trabalho afirma que houve redução média de 25% no valor do Índice de Medidas Legais de Distanciamento Social nos Estados. O texto sugere que a esse recuo contribuiu para o agravamento da epidemia no País.

O levantamento comparou as medidas adotadas nos meses de abril de 2020 e março de 2021 em 22 das 27 unidades federativas do País. Comparando o número de óbitos, por exemplo, março deste ano foi onze vezes mais letal do que abril do ano passado (62.704 contra 5.700). As medidas de restrição adotadas, porém, foram bem menos rígidas.

Baseada em dados do Google Mobility, a nota técnica mostrou que, em média, 60% dos brasileiros ficaram em casa em abril do ano passado, contra cerca de 50% em março deste ano. Segundo o trabalho, os Estados que apresentaram a maior redução no rigor das medidas foram Roraima (-73%), Alagoas (-66%) e Rio de Janeiro (-54%). Em São Paulo também houve redução significativa, ainda que não tão alta: – 24%.

Medidas na 2ª onda foram adotadas com casos em ascensão

O trabalho mostrou também que, na segunda onda, a maior parte dos Estados adotou medidas de distanciamento social tardiamente, depois que o número de casos já estava em ascensão. No ano passado, as medidas foram adotadas de forma antecipada e, talvez por isso mesmo, a onda tenha sido menos intensa.

Segundo o trabalho, “os governos agiram, sobretudo, de forma reativa em relação à segunda onda, diferentemente da atuação preventiva observada antes e durante a primeira onda”. E ainda que quando as medidas mais rígidas foram finalmente adotadas, elas foram consideradas como um “último recurso”, adotado apenas quando os sistemas de saúde se encontram em situação crítica e não se vislumbram outras opções para a resolução da situação.

“Os dados mostram que, para ampliar os níveis de isolamento e minimizar os impactos decorrentes da epidemia, seria preciso enrijecer medidas restritivas de forma preventiva”, afirmou o pesquisador Rodrigo Fracalossi, responsável pelo trabalho. “Porém, o processo não ocorreu na maior parte do País quando a segunda onda já se manifestava.”

Afrouxamento tornou crise do Amazonas mais grave

O caso mais emblemático, destaca o estudo, é o do Amazonas. Entre os dias 1º e 24 de dezembro do ano passado, o Estado apresentou os menores níveis de distanciamento social do País. Isso contribuiu diretamente para a gravidade da segunda onda e subsequente colapso do sistema de saúde.

“O número de casos no Amazonas estava subindo, os cientistas já recomendavam medidas mais rígidas e, mesmo assim, elas só foram adotadas como último recurso, quando a situação já havia chegado a um nível crítico, em janeiro”, lembrou Fracalossi. “E mesmo depois de isso ter acontecido no Amazonas, as medidas também foram adotadas tardiamente no restante do País.”

O estudo recomenda ainda a necessidade de adoção de critérios objetivos, transparentes e abrangentes para o enrijecimento ou o relaxamento das medidas, como se observou, por exemplo, nos estados do Rio Grande Sul e São Paulo. De acordo com o pesquisador, a existência desses critérios torna menos provável a influência de pressões contrárias ao distanciamento social, como ocorreu no Amazonas.

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