Edição da newsletter Cuide-se avalia riscos de prática sem comprovação científica

Folha de São Paulo
Na última semana, a ozonioterapia entrou para o rol de tratamentos medicinais, após aprovação do presidente Lula (PT). A decisão foi criticada por médicos e cientistas. O motivo? Não há comprovação científica de sua eficiência.
Antes de explicar isso melhor, é preciso entender o que são as PICS, sigla para Práticas Integrativas e Complementares:
- São tratamentos complementares reconhecidos pelo Ministério da Saúde que buscam a prevenção de doenças e a recuperação da saúde;
- Elas têm foco no estabelecimento de um vínculo terapêutico e na integração do indivíduo com o ambiente e a sociedade;
Exemplos: acupuntura (e medicina tradicional chinesa), plantas medicinais, ayurveda e homeopatia.
Sim, mas…O problema é quando elas são usadas para suplantar as terapias convencionais —como, por exemplo, receitar tratamentos sem eficácia para um câncer, no lugar de uma quimioterapia, e não apenas como complemento da prática terapêutica.
Esse é o risco alertado por médicos e cientistas com a aprovação da ozonioterapia.
O que é: uma mistura de ozônio e oxigênio aplicada no corpo humano por injeção ou sonda, com a finalidade de tratar diversas condições, desde hérnia de disco e artrite até sequelas de câncer e AVC (acidente vascular cerebral);
- O composto atuaria como um modulador celular, reduzindo a inflamação e gerando um efeito analgésico, que nunca foi comprovado;
- A prática pode trazer sérios danos à saúde, sendo o principal deles irritação no local onde o gás foi aplicado;
- Também pode provocar efeitos no sistema nervoso central, pulmões (pela inalação), coração e até perda de visão.
Por que importa: as práticas complementares atualmente oferecidas pelo SUS foram incluídas sem uma análise rigorosada comissão responsável por avaliar tais tecnologias, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS). No caso da ozonioterapia, a Anvisa aprovou equipamentos apenas para fins estéticos e odontológicos, mas a sanção da lei pode abrir o caminho para liberação para outras práticas.
Durante a pandemia da Covid-19, alguns profissionais utilizaram a terapia contra a infecção pelo Sars-CoV-2, sem comprovação de eficácia.
Pensando nisso, entidades científicas enviaram um ofício à Ministra da Saúde, Nísia Trindade, na última quarta (9) destacando a necessidade de analisar e rever as práticas complementares oferecidas no SUS para evitar riscos aos pacientes.
O debate sobre a validade e segurança dessas práticas continua, ressaltando a importância de uma abordagem baseada em evidências para as decisões de saúde pública.