A primeira análise dos testes é uma pequena amostra da possível performance da vacina no “mundo real”.
Por Estadão
A vacina desenvolvida pela farmacêutica Pfizer e a empresa de biotecnologia BioNTech apresentou uma eficácia de mais de 90% em proteger as pessoas contra o coronavírus na comparação com um placebo, de acordo com uma análise preliminar feita por um comitê de monitoramento independente do ensaio clínico. A primeira análise dos testes, que ainda estão em andamento, é uma pequena amostra da possível performance da vacina no “mundo real”. O imunizante é um dos quatro que estão nos estágios finais de testes nos Estados Unidos.
Este é o indício mais forte até agora de que a busca sem precedentes para desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus possa ser bem sucedida, quebrando todos os recordes científicos de velocidade de desenvolvimento de um imunizante. A vacina BNT162 está sendo testada por 2 mil voluntários em São Paulo e na Bahia
“Eu diria que é um momento histórico. Isto nunca aconteceu antes. Primeiro de tudo, o mundo foi impactado com uma situação terrível, a pandemia, e agora sermos capazes de, em um curto espaço de tempo, realizar algo que levaria anos”, disse Kathrin Jansen, chefe de pesquisa e desenvolvimento de vacinas da Pfizer. “Ouvir que uma análise provisória apontou que (a vacina) é 90% eficaz foi incrível”.
O resultado foi observado na primeira análise interina de eficácia da vacina, conduzida neste domingo, 8, quando foram confirmados 94 casos de contaminação com covid-19 entre os participantes, divididos entre aqueles que tomaram placebo e os que tomaram a vacina. A rodada final de análise de eficácia será feita quando se chegar a 164 casos confirmados, o que pode modificar essa taxa de eficácia. Ao todo, a fase 3 dos testes já envolve mais de 43 mil participantes.
Os resultados, que ainda não foram publicados ou revisados por pares, chamam atenção porque havia uma expectativa de que as vacinas em teste poderiam alcançar apenas algo entre 60% e 70% de eficácia.
“Estamos atingindo esse marco crítico em nosso programa de desenvolvimento de vacinas em um momento em que o mundo mais precisa, com taxas de infecção atingindo novos recordes, hospitais quase excedendo a capacidade e economias lutando para reabrir. Com as notícias de hoje, estamos um passo significativo mais perto de fornecer às pessoas em todo o mundo um avanço muito necessário para ajudar a pôr fim a esta crise de saúde global. Esperamos compartilhar dados adicionais de eficácia e segurança gerados por milhares de participantes nas próximas semanas”, disse Albert Bourla, presidente da Pfizer, em nota à imprensa.
A Pfizer e a BioNTech anunciaram que planejam enviar à agência regulatória de medicamentos e alimentos americana (FDA), após a terceira semana de novembro, um pedido de autorização para uso emergencial da vacina. Neste período, as empresas esperam já ter conseguido avaliar metade dos pacientes do estudo para quaisquer problemas de segurança por pelo menos dois meses após tomarem a segunda dose da vacina.
Ainda não está claro, porém, se a vacina previne casos graves da doença, do tipo que pode causar hospitalização e morte. Nem se ela impede as pessoas de transportar o vírus que causa a covid-19, o SARS-CoV-2, sem sintomas.
Limitações de acesso
As empresas anunciaram que estão trabalhando sem parar para escalar a produção, na expectativa de chegar a 50 milhões de doses – suficientes para 25 milhões de pessoas – até o fim do ano, e 1,3 bilhão de doses em 2021. Num primeiro momento, porém, a vacina deve ficar restrita à população dos Estados Unidos. Em julho, o governo de Donald Trump fechou um acordo com as farmacêuticas para comprar, ainda em 2020, 100 milhões de doses da vacina contra a covid-19.
Outra limitação na distribução deve ocorrer por causa da própria natureza da vacina. A formulação foi feita com uma molécula de RNA, que traz as informações genéticas específicas da proteína do vírus que pode desencadear a resposta imune no nosso corpo. Vacinas de RNA são consideradas de terceira geração, super modernas e consideradas muito fáceis de fazer, mas têm um porém.
A molécula de RNA é muito instável e precisa ser mantida em temperaturas extremamente frias, abaixo de – 60°C, o que torna um desafio a sua conservação em países de baixa renda. Mesmo no Brasil há essa preocupação com os Estados da região Norte, por exemplo. Um incidente como esse recente do Amapá, que deixou o Estado por cinco dias sem energia, poderia inviabilizar a vacina.
Em entrevista coletiva, o presidente-executivo da BioNTech, Ugur Sahin, disse que a empresa está pesquisando se a vacina pode sobreviver por até cinco dias a uma temperatura normal de geladeira, de 4°C.
O aumento do surgimento de casos de coronavírus nos meses mais frios, apesar de devastador para o país (Estados Unidos), significa que os testes poderão ser finalizados antes do previsto pelos executivos da empresa. Com mais pessoas expostas ao vírus, testar a vacina se torna mais fácil – e mais rápido. / Com Washington Post