Oferta da bivalente foi expandida para todos os grupos prioritários no país desde de 1º de abril
Folha de São Paulo
O reforço com a vacina bivalente contra a Covid já pode ser aplicado em todos os grupos prioritários desde o dia 1º de abril, segundo o cronograma do Ministério da Saúde.
A vacina, que contém uma mistura da cepa original do vírus de Wuhan e as variantes da ômicron BA.4 e BA.5, oferece maior proteção contra a ômicron e as linhagens em circulação. Sua utilização no momento é recomendada apenas para grupos considerados como de maior risco para adoecimento, embora a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tenha aprovado o imunizante para todas as pessoas acima de 12 anos.
No Brasil, uma terceira dose de vacina é hoje recomendada para todas as pessoas acima de 5 anos. Já a quarta dose, também chamada de segundo reforço, pode ser aplicada em indivíduos com 40 anos ou mais (estados decidem pela aplicação em pessoas de 18 a 40 anos).
A quinta dose, ou terceiro reforço, utilizando a bivalente, é recomendada para imunocomprometidos graves, incluindo crianças a partir de 12 anos com comorbidades e transplantados —sendo que nos últimos o esquema primário é feito com três doses, portanto o terceiro reforço representa a sexta dose.
Os grupos incluídos para receber o imunizante bivalente são: pessoas acima de 60 anos; gestantes e puérperas; imunossuprimidos; pessoas com deficiência; pessoas vivendo em instituições de longa permanência; população privada de liberdade e adolescentes em medidas socioeducativas; povos indígenas, ribeirinhos e quilombolas; profissionais de saúde; funcionários do sistema prisional; e pessoas com 12 anos ou mais com comorbidades.
Desde a última semana, a pasta da saúde não exige mais a apresentação de comprovante da comorbidade, basta fazer uma autodeclaração para receber o imunizante.
Segundo estudos conduzidos nos Estados Unidos e na China, a bivalente oferece maior proteção contra infecção pelas formas da ômicron, principalmente nos imunossuprimidos ou em pessoas com mais de 60 anos.
Para o público geral, sem comorbidades, as vacinas monovalentes (que utilizam apenas a cepa ancestral do coronavírus) continuam apresentando proteção elevada contra hospitalização e óbito.
Um estudo publicado em fevereiro na revista especializada Nejm (The New England Journal of Medicine) ilustra bem essas diferenças. Enquanto indivíduos com 18 a 64 anos tiveram uma proteção 32% maior contra hospitalização após receber uma dose da bivalente em relação ao reforço com a monovalente, a proteção para os indivíduos com 65 anos ou mais foi cerca de 38% maior.
Na proteção contra hospitalização e óbito causados pela ômicron, os indivíduos com 65 anos ou mais tiveram eficácia de 62% contra os dois desfechos, contra 20% após um reforço monovalente. Já para indivíduos de 18 a 64 anos a proteção foi apenas 35% maior.
Os especialistas afirmam, no entanto, que é fundamental manter a vacinação em dia, segundo a sua faixa etária e reforço disponível.
O QUE A OMS RECOMENDA?
No último dia 28 de março, o grupo estratégico de assessoramento sobre vacinas (Sage, na sigla em inglês) da OMS (Organização Mundial da Saúde) emitiu uma nota elencando os principais grupos que o órgão considera como prioritários para receber uma vacinação anual contra a Covid, divido por níveis de risco (baixo, médio e elevado):
Risco elevado: pessoas acima de 60 anos; adultos jovens com comorbidades (como diabetes e doenças cardiovasculares); imunocomprometidos (incluindo portadores de HIV e transplantados), incluindo crianças; profissionais de saúde e gestantes. Estes seriam os grupos considerados como de maior risco e para os quais é importante uma vacinação de seis meses a 1 ano após a última dose recebida.
Risco médio: adultos saudáveis, de 50 a 60 anos, sem comorbidades, e crianças e adolescentes com comorbidades devem receber no mínimo um reforço vacinal após o esquema primário (totalizando três doses). O comitê avalia ainda que, embora os reforços adicionais sejam seguros e eficazes neste grupo, o atual cenário epidemiológico irá dizer se é necessário implementar a vacinação em ampla escala para este público.
Menor risco: crianças e adolescentes saudáveis com mais de seis meses até 17 anos, para os quais o esquema primário de vacinação (que, no Brasil, é preferencialmente feito com duas doses de Pfizer baby, para crianças de até 4 anos, duas doses de Pfizer pediátrica ou Coronavac, para crianças de 5 a 11 anos ou de Pfizer para adolescentes de 12 a 17 anos) protege de maneira satisfatória.
Os reforços nesta última faixa etária podem ser considerados desde que seus benefícios sejam maiores do que possíveis consequências, como a falta de doses para outros grupos prioritários ou baixa adesão às campanhas de imunização.
A recomendação da OMS, portanto, não diz que não haja benefícios do reforço nos demais grupos, apenas lista quais são as estratégias que devem ser adotadas para aumentar a proteção dos grupos prioritários segundo uma avaliação do risco.
O QUE DIZ O MINISTÉRIO DA SAÚDE?
Em nota, o Ministério da Saúde afirmou que as decisões do Sage da OMS foram baseadas na avaliação do retrato da situação atual e que segue a recomendação da Anvisa para a vacina bivalente em pessoas com 12 anos ou mais. Disse ainda que tais recomendações são dinâmicas e podem ser modificadas conforme alterações no cenário epidemiológico.
A pasta informou que segue trabalhando para aumentar as coberturas vacinais em todas as faixas etárias.
Até janeiro deste ano, segundo levantamento do Ministério da Saúde, 69 milhões de pessoas estavam com o reforço em atraso.
Colaborou o repórter Fábio Pescarini