Craque da seleção argentina passou por processo de ‘Maradonização’ nesta Copa do Mundo
Estadão
Daqui a 100 anos, ainda haverá gente falando da Copa que Lionel Messi fez no Catar. Um desempenho desses te coloca na eternidade. Há quem explique que, agora, existe um time organizado e engajado por ele. Prefiro olhar para o craque: Messi. De como estava diferente. Do processo de “Maradonização” pelo qual passou neste Mundial.
Eu estava na Copa América de 2011 quando a Argentina caiu, em casa, para o Uruguai. Messi foi o símbolo da derrota e virou polêmica nacional por não cantar o hino. Só se falava disso. Cantou com gosto neste domingo, a plenos pulmões. Parecia levar no peito a situação horrível pela qual passa toda a Argentina.
Maradona ganhou a Copa em 1986 quando eles saíram machucados de uma ditadura e humilhados de uma guerra, pela Inglaterra. Não jogou apenas pela seleção. Jogou pelo país, no imaginário dos argentinos. Algo parecido aconteceu com Messi agora.
Como todo ídolo argentino – e essa seleção inteira – Messi portou-se como um torcedor em campo. Não se abalou com nada. Nem a derrota na estreia. Nem com um pênalti perdido na terceira rodada. Nem com as reviravoltas que a França deu na decisão. Foi fazendo, a cada minuto no Catar, o maior de sua vida pela Argentina. Maradoneou-se. E foi além… Quem vai Messiar a partir de agora, por eles?
Esta Copa foi de troca de guarda no futebol mundial. Messi (35 anos), Cristiano Ronaldo (37), Lewandowski (34), Modric (37) e Benzema (34) são os eleitos melhores do mundo desde 2008. Estavam no Catar para a última dança. Vem aí o reinado do Mbappé. Neymar, no meio do caminho, ainda atingirá o céu? Será um ano mais jovem do que Messi é hoje na próxima Copa. Mas Neymar não é Messi. Pode demorar muito para vermos outro igual.
Com jogadores do mundo inteiro atuando nas principais ligas da Europa, o futebol de seleções é cada vez mais imprevisível – a tendência é seguir quebrando os bolões, como fez Marrocos. O que jamais mudará é um conceito elementar do futebol: quem tiver os melhores jogadores – e o grande craque – sempre será candidato.
A França, com tantos desfalques, demonstrou ser capaz de montar duas seleções de altíssimo nível – como se falava do Brasil no passado. Os franceses chegaram a duas finais consecutivas graças ao talento em todas as posições. Como a gente em 1958/62; 1994/98/2002. Serão candidatos de novo em 2026. A França é o novo Brasil.
A CBF procura técnico. Se tem uma coisa que o pódio da Copa nos mostra é que não há manual que possa servir a todas as seleções. O campeão foi o treinador mais jovem da Copa, no primeiro trabalho de sua carreira. Montou um time diferente por jogo e foi premiado por sua inquietude. O experiente Deschamps assumiu a França em 2012. O treinador do Marrocos chegou em agosto, em cima da hora, e mudou tudo. Para o Brasil, só deve haver um pré-requisito: buscar o melhor possível, independentemente de onde tenha nascido.
Lionel Messi… Vimos jogar. Tão grande que foi capaz de emocionar até o maior rival da Argentina. Podem confessar. Vocês também torceram por ele. Foi uma honra dividir opiniões com vocês. Obrigado pelo convite, Estadão! Até uma próxima.