Apoio da Força Nacional equivale a apenas 2% do efetivo policial do RN e é ineficaz para abolir ataques, diz especialista: ‘Ação meramente midiática’

Efetivo, que ganhou reforço nesta sexta, não tem sido suficiente para parar os atos criminosos que há quatro madrugadas espalham terror. Governo vê redução de incidentes

Homens da Força Nacional apresentados pela governadora do RN, Fátima Bezerra (PT) Divulgação / Gov. RN

O GLOBO

Mais 100 agentes da Força Nacional e quatro aeronaves, da PRF e dos governos do Ceará e da Paraíba, chegaram nesta sexta-feira (17) a Natal (RN), para auxiliar nas ações de segurança contra os ataques criminosos que paralisaram a capital potiguar nos últimos dias. Noventa e sete pessoas foram presas até o momento, após uma operação conjunta das Polícias Militar, Civil e Federal no litoral sul do Estado, e novos atos de violência foram registrados desde a madrugada, enquanto autoridades apontam para uma redução na intensidade dos atentados – que foram coordenados de dentro de presídios, por integrantes de uma facção criminosa, segundo o governo.

Com a chegada dos agentes, o efetivo da Força Nacional, subordinada ao Ministério da Justiça, alcançou a casa dos 200 agentes – o equivalente a menos de 2% do efetivo policial do Estado. De acordo com informações do governo, os agentes federais estão subordinados a um comando próprio, mas atua em conjunto com as forças policiais locais. Também reforçaram a segurança do Estado 30 policiais enviados pela Paraíba e 30 enviados pelo Ceará.

Embora o reforço, na avaliação das autoridades de segurança do RN, estejam reduzindo a onda de ações criminosas, especialistas questionam o real impacto da Força Nacional e da ajuda externa enviada pelos Estados.

– A ação de envio da Força Nacional é uma ação meramente midiática, não resolve. Policiais da Força Nacional não têm essa capacidade toda, não são super-homens ou super policiais. (o envio) é jogar para a plateia – afirmou José Vicente, ex-secretário nacional de Segurança Pública.

De acordo com Vicente, um levantamento feito em 2022 pelo Fórum de Segurança mostrou que o RN teria 668 policiais militares, incluindo 50 oficiais, cedidos a órgãos estranhos à segurança no RN – o que representaria mais de 3 vezes o total do enviado até o momento.

– Não seria mais prático convocar esses desviados para fazer segurança da população? – questionou, acrescentando que o Estado é o terceiro com maior número de policiais “desviados” proporcionalmente, enquanto a proporção no Estado é de 8%, no Rio e em SP o número é inferior a 1%.

Ônibus foi queimado por criminosos. Comércio e órgãos públicos foram atacados em várias cidades — Foto: Pedro Trindade / Inter TV Cabugi

Alinhado com o que aponta o governo estadual, no entanto, José Vicente acredita que as ações policiais que estão sendo feitas e o efetivo local que já está nas ruas serão suficientes para que os ataques diminuam até que sejam de vez extinguidos nos próximos dias.

Em meio a crise, parlamentares de oposição ao governo Fátima Bezerra (PT) defenderam na bancada federal e estadual uma atuação das Forças Armadas, e levantaram a possibilidade de pedido de uma GLO para controlar a situação. No entanto, o entendimento no gabinete petista foi de que uma participação ativa dos militares deveria estar condicionada à gravidade da situação, optando por uma abordagem gradativa.

Violência cíclica

Embora a onda de violência atual seja uma das mais extensas já registradas no Rio Grande do Norte, com ocorrências registradas em dezenas de cidades, esta não é a primeira vez que o Estado passa por uma crise de segurança ordenada de dentro dos presídios.

Entre 2015 e 2016, outras ondas de violência amedrontaram os cidadãos principalmente da capital e da região metropolitana. Na época, autoridades afirmaram que os ataques seriam uma represália das facções Sindicato do Crime e PCC, que disputavam territórios no Estado, por melhores condições no sistema prisional, que há mais de uma década convive com uma superlotação crônica.

O ápice da crise foi o massacre na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em janeiro de 2016, quando 27 detentos foram mortos por rivais – muitos deles degolados.

O advogado criminalista Fernandes Braga, ouvidor-geral da OAB-RN e que integrava a Comissão dos Advogados Criminalistas na época dos primeiros ataques, afirmou que pouco mudou nas condições dentro dos presídios de lá para cá.

– As condições de cumprimento de pena hoje no RN são as piores possíveis. Temos registros de tortura, ausência de atendimentos médico, jurídico e de assistência social… O sistema prisional do Estado se reestruturou depois do massacre em Alcaçuz no campo da técnica policial-penal, mas esqueceu de dar cumprimento a lei de execução penal – afirmou o advogado criminalista Fernandes Braga, ouvidor-geral da OAB-RN.

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