Áreas do Pantanal onde há mais gado têm mais focos de incêndio, diz pesquisa

O resultado contraria a tese do “boi bombeiro”

© Mayke Toscano/Governo do MTA destruição no Pantanal é equivalente à 1,5 vezes a do Estado de Sergipe

Por Poder 360

Um estudo feito pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) mostra que o número de focos de incêndio no Pantanal é maior em cidades com mais cabeças de gado. O resultado contraria a tese do “boi bombeiro”, defendida pela ministra Tereza Cristina (Agricultura). Segundo ela, se o Pantanal tivesse mais gado, os incêndios seriam menores.

A pesquisa foi feita a partir de dados sobre o rebanho bovino divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e a quantidade de focos de incêndios em 2018 registrada pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

Segundo o estudo, as cidades com mais cabeças de gado são também as que mais registraram queimadas no período. Entre elas, Corumbá (MS), com 54.800 focos e 1,8 milhão de cabeças de gado em 2018.

De acordo com os especialistas, é verdade que o consumo de pastagem pelo gado diminui a intensidade dos incêndios –fato defendido pela ministra ao expor sua tese. No entanto, o uso do fogo para o manejo de pastagem faz com que as queimadas sejam maiores nas áreas de criação bovina.

O professor Raoni Rajão, que ensina Gestão Ambiental e Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia na UFMG, diz ao jornal O Globo que “é 1 absurdo dizer que mais gado significa menos fogo, ou dar a entender que as medidas de conservação foram as responsáveis por gerar as queimadas”.

Rajão fala que as mudanças climáticas contribuíram para a estiagem no Pantanal. Só que, segundo ele, o alastramento do fogo se deve à ação humana.

Houve uma seca significativa, além de alterações no padrão de cheias do Rio Paraguai. O Pantanal transformou-se em 1 barril de pólvora, mas o fogo não chegou sozinho. O homem foi o responsável por ele”, afirma. “O fogo pode ser usado no bioma de maneira responsável, nunca no pico de uma estiagem.”

QUEIMADAS

Dados divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e pelo Ministério do Meio Ambiente apontam que o total de queimadas que atingiram os diversos biomas brasileiros, em 2020, é 1% maior do que em 2019.

O valor corresponde à área total. Locais como o Pantanal tiveram mais que o dobro de destruição de 1 ano a outro. Outros biomas apresentaram redução, como na caatinga, em que as queimadas atingiram uma área 38% menor na comparação com 2019.

O Pantanal teve o pior resultado entre os biomas brasileiros, em 2020. Os incêndios registrados de janeiro a setembro do ano passado consumiram 12.948 km². Neste ano, foram 32.910 km² nos últimos 9 meses. Só a destruição no Pantanal é equivalente à 1,5 vezes a do Estado de Sergipe.

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