Varsóvia vai enviar mais mil militares para reforçar regiões próximas do vizinho
Folha de São Paulo
A tensão entre Polônia e Belarus voltou a crescer nesta terça-feira (8). Depois de a ditadura aliada à Rússia de Vladimir Putin iniciar exercícios no ponto mais sensível da fronteira com o vizinho, Varsóvia anunciou o envio de mais mil soldados para as áreas entre os dois países.
Rivais desde antes da Guerra da Ucrânia, na qual apoiam lados opostos, as nações do Leste Europeu constituem um dos novos focos do conflito iniciado por Putin há quase um ano e meio.
Minsk iniciou na segunda (7) manobras perto do corredor de Suwalki, trecho pouco habitado da fronteira entre Polônia e Lituânia e o caminho mais curto entre a ditadura e o território russo de Kaliningrado, na costa do mar Báltico, espremido entre Polônia e Lituânia, membros da Otan, a aliança militar ocidental.
Há anos aquele ponto é visto como o de maior vulnerabilidade do clube na região, caso Putin arrisque um conflito contra a Otan, algo impensável por implicar a Terceira Guerra Mundial como resultado provável.
Forças russas e belarrussas, que operam em conjunto, poderiam se ligar a Kaliningrado, isolando os três Estados Bálticos, Lituânia, Letônia e Estônia, ex-repúblicas soviéticas que integram a aliança militar ocidental liderada pelos Estados Unidos e vistas por Moscou como parte de sua área de influência.
O elemento novo no exercício do ditador Aleksandr Lukachenko é a presença estimada de mercenários do grupo russo Wagner, expulsos de seu país após o motim fracassado contra a cúpula das Forças Armadas.
O opaco episódio, ocorrido em junho, tem lacunas insondáveis, mas o fato é que de centenas a até 7.000 homens que serviram na Ucrânia estão na Belarus para treinar as forças locais. Dado que Lukachenko é um títere de Putin desde que foi acossado por protestos contra mais uma eleição fraudada, em 2020, após anos de independência relativa, é difícil não ver uma tática russa de intimidação indireta usando o país.
Com efeito, o líder russo já ameaçou a Polônia, com alertas sobre um conflito contra Belarus —que, disse, seria contra a Rússia, já que os países integram um ente vago chamado Estado da União desde 1999.
Na semana passada, Varsóvia acusou Minsk de uma invasão breve de seu espaço aéreo com helicópteros militares e enviou mil homens à fronteira pelo risco que apontou na presença do Wagner. Lukachenko fez sua ameaça, dizendo que estava “controlando” os mercenários, que queriam “passear na Polônia”.
Nesta terça, a Guarda de Fronteira polonesa requisitou o reforço de mais mil soldados para pontos de cruzamento fronteiriço, alegando a provável infiltração de mercenários entre refugiados. A questão migratória já colocou os vizinhos em pé de guerra antes e agora ganhou um caráter geopolítico maior.
Minsk não participa diretamente da guerra, mas permite o uso de seu território e espaço aéreo pelos russos. A ofensiva que quase sitiou Kiev no começo da guerra, só para ser derrotada por erros logísticos e táticos ante inesperada resistência, saiu de solo belarrusso. Desde então, aprofundou laços militares com Putin e viu instaladas em seu território armas nucleares de Moscou.
ATAQUE RUSSO MATA 7 NA UCRÂNIA
Na Ucrânia, um ataque com dois mísseis balísticos Iskander atingiu na noite de segunda (7) um bairro residencial de Pokrovsk, em Donetsk, no leste ucraniano ainda sob controle de Kiev. Segundo o governo local, um hotel e uma pizzaria frequentada por correspondentes de guerra também foram afetados.
Nesta terça-feira, a conta de mortos estava em sete pessoas, com 81 feridos, mas havia muitos moradores sob os escombros. Moscou negou ter mirado áreas civis e disse ter atacado um centro de comando militar, que pode ter sido colocado perto de residências para ser disfarçado.
Ao longo da frente de batalha, os russos seguem com avanços na região de Kharkiv, ao norte, onde há registro de duras batalhas. Nas três frentes da contraofensiva ucraniana, mais ao sul, os combates prosseguem com ganhos apenas incrementais de Kiev.
A dificuldade do governo de Volodimir Zelenski, que vendeu a contraofensiva armada por novos equipamentos da Otan como o ponto de inflexão da guerra, segue preocupando seus apoiadores.
Um deputado democrata americano, Mike Quigley, visitou os comandantes de seu país que estão treinando tropas ucranianas e fez uma avaliação pouco otimista à rede CNN. “Os relatos são sóbrios. Fomos lembrados dos desafios que eles [Kiev] enfrentam. Este é o momento mais difícil da guerra.”