Jair Bolsonaro fez nesta quinta-feira, 27, um gesto político às Forças Armadas e pregou respeito aos “seus” militares.
Por Estadão
BRASÍLIA – Às vésperas de o Exército decidir sobre a punição ao general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro fez nesta quinta-feira, 27, um gesto político às Forças Armadas e pregou respeito aos “seus” militares. Bolsonaro viajou para o extremo norte da Amazônia, com o objetivo de inaugurar uma ponte de madeira em São Gabriel da Cachoeira (AM) e visitar uma área indígena Yanomami.
Em pronunciamento político, diante de ministros militares – Braga Netto (Defesa) e Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) –, além do comandante-geral do Exército, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e de oficiais do Comando Militar da Amazônia, Bolsonaro chamou todos de “amigos”. Ao falar de sua eleição, em 2018, disse que divide a responsabilidade com os militares.
Um trecho do encontro foi divulgado nas redes sociais do presidente. “O governo respeita os seus militares”, afirmou Bolsonaro, usando uma expressão que não é do agrado dos oficiais, já que as Forças Armadas são instituições de Estado, e não de um governo. Bolsonaro já provocou insatisfação na caserna ao se referir várias vezes à corporação como “meu Exército”.
O general Paulo Sérgio acompanhou atenciosamente as palavras de Bolsonaro, olhando para ele, de braços cruzados. No fim, aplaudiu o discurso do presidente, assim como os demais à mesa.
O comandante do Exército está prestes a decidir qual punição aplicar à transgressão disciplinar cometida por Pazuello. O ex-ministro da Saúde participou de ato político com Bolsonaro no domingo, no Rio, o que é proibido a militares da ativa. A possibilidade de uma escalada de tensão na crise entre o Palácio do Planalto e o Exército existe e generais consideram que o comandante pode renunciar, caso seja desautorizado.
“Vocês militares são respeitados e têm uma importância enorme no destino do Brasil”, disse o presidente, dirigindo-se a oficiais que servem na Amazônia. “Acredito em vocês, em Deus e no futuro de nossa Pátria. Obrigado por existirem.”
No discurso com afagos aos militares, Bolsonaro disse que não há casos ou atos de corrupção comprovados no governo e atribuiu isso aos ministros que o cercam. Bolsonaro afirmou que só convidou para o governo pessoas que se identificam com ele. Fez questão de destacar que tem mais ministros oriundos das Forças Armadas do que durante o regime militar. Ao todo são sete, dos quais três generais de quatro estrelas da reserva do Exército e um da Marinha.
“Queremos paz, progresso e acima de tudo liberdade. A gente sabe que esse último desejo passa por vocês. Vocês é que decidem, em qualquer país do mundo, como aquele povo vai viver”, disse o presidente.
Bolsonaro afirmou que o Brasil ainda não vive um período de normalidade e que a liberdade depende das Forças Armadas, embora não tenha citado os clamores por intervenção militar de sua base de apoiadores.
“Tenho certeza de que vocês agirão dentro das quatro linhas da Constituição, se necessário for. Espero que não seja necessário, que a gente parta para a normalidade”, disse o presidente. “Não estamos nela ainda, estamos longe dela. Mas ninguém pode acusar o atual presidente da República de ser uma pessoa que não seja democrática, não respeita as leis e não age dentro da Constituição. Se bem que outros jogam pedra, de fora, nela”.
Sem citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pré-candidato do PT ao Palácio do Planalto, Bolsonaro também disse que o País está polarizado politicamente e que cada um fará seu juízo, nas eleições do ano que vem, sobre “quem é o melhor ou quem é o menos ruim”.
Ao chegar no aeroporto, apoiadores do presidente se aglomeraram em frente ao aeroporto civil, ao lado do hangar da Aeronáutica. Bolsonaro, que chegou de máscara, retirou a proteção para ir ao encontro deles.
Quando caminhava para encontrar o público, a maioria também sem proteção, algumas pessoas comentaram o uso da máscara pelo presidente. Uma mulher no meio do povo gritou para que ele retirasse a proteção. Outros apoiadores gritaram palavrões direcionados aos membros da CPI da Covid, o presidente Omar Aziz (PSD) e o senador Eduardo Braga (MDB), além de palavras contra o PT. A cidade tem um prefeito indígena chamado Curubão, que é filiado ao PT. /COLABOROU ROSIENE CARVALHO, ESPECIAL PARA O ‘ESTADÃO’