Bolsonaro e Lula privilegiam troca de acusações em debate na Globo e deixam propostas de lado

Confronto direto entre o presidente e o ex-presidente antes da votação em segundo turno reforça temática agressiva da campanha; propostas para um futuro governo foram pontuais

Lula e Bolsonaro durante debate na TV Globo. Foto: Sérgio Zalis/Globo

Terra

A pouco mais de 24 horas do início da votação em segundo turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fizeram na noite desta sexta-feira, 28, o último debate da eleição, na TV Globo. O derradeiro confronto direto entre os presidenciáveis reforçou a temática agressiva da campanha, marcada pela prevalência das acusações mútuas e a carência de propostas. Planos para um futuro governo foram pontuais em discussões que em diversas oportunidades resultou em troca de ofensas.

No primeiro turno, Lula foi o mais votado com 48,4% dos votos. Bolsonaro teve 43,2%. A diferença entre os dois foi de pouco mais de 6,2 milhões de votos. Na maioria das pesquisas de intenção de voto no segundo turno, o petista mantém a liderança por margem apertada.

No primeiro bloco, o candidato do PL levantou o tema salário mínimo, que causou desgaste à campanha do presidente no segundo turno. A informação de que o Ministério da Economia pretendia mudar a fórmula de reajuste do salário mínimo e dos benefícios previdenciários, reduzindo o índice de aumentos, foi bastante explorada pela campanha petista na reta final do segundo turno.

Lula acusou o presidente de não dar nenhum aumento real para o piso salarial no Brasil. Bolsonaro prometeu um valor de R$ 1,4 mil para o ano que vem se reeleito. Atualmente, o piso é de R$ 1,212 mil. “Ele fala para influenciar pessoas mais humildes, em especial algumas regiões do Brasil”, disse Bolsonaro.

Bolsonaro cita Auxílio Brasil, Alckmin e chama Lula de “farsante”

“Parece que meu adversário está descompensado. Ele é um samba de uma nota só”, respondeu Lula, ao exaltar os programas de distribuição de renda criados durante os governos petistas. “É uma bobagem comparar o Bolsa Família com o Auxílio Brasil, porque era só um dos programas de distribuição de renda”, disse, mencionando outros projetos petistas.

A discussão deslizou para o assunto corrupção, com troca de acusações muitas vezes desconexas e repetitivas. Bolsonaro chegou a chamar Lula de bandido, lembrou as condenações (depois anuladas) do petista na Lava Jato. Lula rebateu citando suspeitas que envolvem a família Bolsonaro na compra de imóveis com dinheiro vivo e rachadinhas.

O ex-presidente também dirigiu ataques ao ex-juiz e atual senador eleito Sérgio Moro (União Brasil), que acompanhava Bolsonaro no debate de ontem e foi responsável por sua prisão. “Fui acusado para permitir que você disputasse as eleições, fui julgado por um juiz mentiroso.”

O presidente ironizou a defesa de Lula sobre as condenações na Justiça. “Só foi absolvido se foi pelo (jornalista e mediador do debate) William Bonner”, disse o chefe do Executivo. A citação gerou uma manifestação de Bonner, que lembrou que o teor de sua pergunta na sabatina no Jornal Nacional foi com base em decisões do Supremo Tribunal Federal (STF)

Antigo aliados

Em outro ponto de discussão sem propostas para o País, os dois candidatos citaram o episódio envolvendo o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que no domingo passado recebeu agentes da Polícia Federal que foram cumprir mandados de prisão com tiros de fuzil e granadas.

Bolsonaro questionou onde estava José Genonio, José Dirceu, Antonio Palocci, ex-ministros e ex-dirigente do PT, que foram alvo do mensalão e Lava Jato. “Lula, cadê o (Antonio) Palocci, cadê o Zé Dirceu, cadê o (Pedro) Barusco, cadê o Paulo Cesar”, questionou o atual presidente. Lula respondeu, citando Jefferson. “Ele acabou de esconder Roberto Jefferson, o pistoleiro dele, o homem que atirou na PF”, disse o petista.

“O Roberto Jefferson recebia mala de dinheiro para comprar apoio parlamentar. O Roberto Jefferson explodiu o seu governo com o mensalão. Mais de cem pessoas presas”, rebateu Bolsonaro, fazendo referência à denúncia do ex-deputado que deflagrou o escândalo no primeiro mandato de Lula. O tema voltou à tona durante o terceiro bloco do debate, quando o petista voltou a mencionar Jefferson, depois de questionar a política de Bolsonaro sobre o aceso a armas de fogo.

“Porque se fosse um negro de uma favela, você tinha mandado matar. Mas agora, como foi o seu amigo Roberto Jefferson, você fez questão de ficar nervoso e dizer ‘ele é bandido’, mas você sabia que ele era, porque era seu amigo”, disse o petista, mencionando o ministro da Justiça Anderson Torres, escalado para interceder em meio às negociações para rendição de Jefferson no domingo.

No segundo bloco, quando o tema passou a ser respeito pela Constituição, Bolsonaro acusou Lula de apoiar invasões de terra. Depois, de ter apoiado a censura à mídia – ele citou o caso da Jovem Pan, que foi alvo de decisão do Tribunal Superior Eleitoral em razão de ações movidas pela campanha petista. Lula negou a censura. Afirmou que busca a isonomia.

Ao responder à acusação de que incentivava a invasões de terra, Lula disse que defendia a agricultura familiar. O petista, na sequência, leu um trecho de um discurso de Bolsonaro no qual o então deputado defendia pílula de aborto. “O Lula, você é abortista. E defendeu a ideologia de gênero.”

“Se você tomou a vacina, Lula, agradeça a mim”, diz Bolsonaro

No bloco seguinte, o petista criticou a condução da pandemia durante o governo Bolsonaro. “Quando ele foi comprar vacina, São Paulo e vários países do mundo já estavam dando a vacina”, mencionou o petista. O chefe do Executivo rebateu a fala criticando os gastos do governo Lula em infraestrutura para a Copa do Mundo. “Médicos pelo Brasil, Connect SUS, incorporamos o Farmácia Popular, ampliamos o teste do pezinho”, destacou Bolsonaro, exaltando medidas tomadas pelo governo na área da saúde.

Lula ainda criticou a gestão do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello, durante a crise da covid. Bolsonaro se esquivou, afirmando que Pazuello foi o deputado mais votado no Rio de Janeiro. “Então, isso é passado”, declarou o chefe do Executivo.

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