Bolsonaro quebra tradição de antiguidade e coloca general Paulo Sérgio para comandar Exército

Foi a primeira vez na história que um presidente trocou a cúpula militar do País no meio do mandato.

O presidente Jair Bolsonaro em Cerimônia de Entrada dos Novos Alunos pelo Portão da EsPCEx, em Campinas (SP). Isac Nóbrega – 20.fev.2021/Divulgação Presidência/ISAC NOBREGA

Por Estadão

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro escolheu o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira como novo comandante do Exército. Ele substitui o general Edson Pujol, demitido ontem com os comandantes da Aeronáutica e da Marinha, após rejeitarem tentativas do presidente de politizar as Forças Armadas. Foi a primeira vez na história que um presidente trocou a cúpula militar do País no meio do mandato.

Ao escolher o general Paulo Sérgio no Exército, Bolsonaro repete a ex-presidente Dilma Rousseff ao quebrar a tradição de optar pelo oficial mais antigo para comandar a tropa. O nomeado era o terceiro pelo critério de antiguidade e seria o quinto caso dois outros generais não tivessem passado para a reserva nesta quarta-feira.

Logo após o anúncio, Bolsonaro postou uma foto com o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os três novos comandantes.

Além de ser o terceiro na lista de antiguidade, o general Paulo Sérgio não era a primeira opção de Bolsonaro e nem mesmo o preferido dentro do Exército. Antes de ser alçado ao comando da tropa, ele chefiava o Departamento-Geral do Pessoal, um cargo administrativo, considerado de menor importância internamente. O general também contrariou o presidente em recente entrevista ao jornal Correio Braziliense em que apontou a possibilidade de uma 3.ª onda da covid-19 no País e defendeu isolamento social. Bolsonaro é crítico às restrições impostas por governadores e prefeitos como forma de conter a propagação da doença.

Pesou a favor de Paulo Sérgio, porém, o fato de ter um perfil apaziguador, hábil no trato com subordinados, e um estilo “um manda, outro obedece”, como definiu certa vez o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde que teve a gestão marcada por apenas cumprir as ordens do presidente.

Nos bastidores, o ex-comandante do Exército e atual assessor especial do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Eduardo Villas Bôas, é apontado como avalista da nomeação. O oficial da reserva, de quem Bolsonaro é próximo, foi decisivo para a promoção de Paulo Sérgio a general quatro estrelas, o topo da carreira militar.

O novo comandante do Exército também é próximo ao ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva, amigo do presidente, mas que foi demitido nesta semana por resistir a ofensivas de Bolsonaro.

Azevedo deixou o cargo por algumas razões: 1) ter mandado o general Eduardo Pazuello de volta para o quartel, quando Bolsonaro queria alocar o ex-ministro da Saúde na Esplanada; 2) se recusou a confrontar decisões do Supremo Tribunal Federal, como queria o presidente; 3) se recusou a trocar o comandante do Exército, Edson Pujol, com quem Bolsonaro nunca teve boas relações.

Com a escolha de Paulo Sérgio, porém, Bolsonaro tenta apaziguar os ânimos e passar a mensagem para a tropa de que vai manter a continuidade.

Ao anunciar os novos comandantes, o general Braga Netto, novo ministro da Defesa, destacou o papel dos militares no enfrentamento da covid-19 e disse que as Forças Armadas “não faltaram no passado e não faltarão sempre que o País precisar”. “O Exército, a Marinha e a Aeronáutica se mantêm fiéis a suas missões constitucionais de defender a pátria e garantir as liberdades democráticas. O maior patrimônio de uma nação é a liberdade de seu povo”, afirmou. Ao se referir ao presidente, Braga Netto disse que o Comandante Supremo escolheu os comandantes.

Preterido na escolha, o general mais antigo na cúpula do Exército, general José Luiz Freitas, elogiou a indicação pelas redes sociais. “Escolhido o novo Comandante do Exército, Gen Paulo Sérgio, excepcional figura humana e profissional exemplar. Como não poderia deixar de ser, continuaremos unidos e coesos, trabalhando incansavelmente pelo Exército de Caxias e pelo Brasil!”, postou o general, que deve ir para a reserva em três meses.

O segundo na lista de antiguidade era o general Marcos Antonio Amaro dos Santos, chefe do Estado-Maior do Exército, que cuidou da segurança da ex-presidente Dilma e foi chefe da Casa Militar no governo da petista.

À frente deles estavam ainda os generais Décio Luís Schons e César Augusto Nardi de Souza, que passaram oficialmente à reserva a partir desta quarta-feira, 31, e já foram substituídos no Alto Comando.

Marinha e Aeronáutica

Na Marinha, o escolhido por Bolsonaro foi o almirante de esquadra Almir Garnier, atual secretário-geral do Ministério da defesa. Neste caso, o presidente também ignorou a tradição e optou pelo segundo da lista de antiguidade. O primeiro era o almirante de esquadra Alípio Jorge Rodrigues da Silva, comandante de Operações Navais.

No Ministério da Defesa, Garnier atuou como assessor especial militar dos ministros Celso Amorim, Jaques Wagner, Aldo Rebelo e Raul Jungmann.

Na Aeronáutica, assumirá o brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior, que demonstra nas redes sociais ser afinado ao governo, compartilhando mensagens ligadas a grupos de direita. Ele era o primeiro no critério de antiguidade.

Baptista Junior assume o cargo que já foi do pai dele no governo de Fernando Henrique Cardoso. Na época, Carlos de Almeida Baptista foi deslocado do Superior Tribunal Militar para o comando da Aeronáutica também num momento de crise com os militares, após a Corte reabrir a investigação do caso do atentado no Riocentro. Ele exerceu a função de 1999 a 2003.

Antiguidade

Mais cedo, antes das escolhas serem anunciadas, o vice-presidente Hamilton Mourão defendeu o respeito ao critério de antiguidade na escolha da nova cúpula militar.

“Eu julgo que a escolha tem que ser feita dentro do princípio da antiguidade, até porque foi uma substituição que não era prevista. Quando é uma substituição prevista, é distinto. Então, se escolhe dentro da antiguidade e segue o baile”, afirmou o vice, que é general da reserva.

O presidente também havia sido aconselhado a seguir a lista para não criar atritos com generais mais experientes.

Isso porque os oficiais mais antigos passam à reserva se um militar mais “moderno”, com menos tempo de Exército, for alçado ao comando. A aposentadoria não é uma regra compulsória, mas costuma ter força de norma não escrita nos quartéis.

Os oficiais costumam pedir para deixar a ativa como forma de não serem comandados por um antigo subordinado, uma inversão na hierarquia.

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