O novo rei está em uma viagem pelos quatro países que compõem o Reino Unido em meio ao funeral de sua mãe, cujo caixão se prepara para deixar a Escócia e ser recebido por milhares em Londres
Por Estadão
BELFAST – O rei Charles III voou para a Irlanda do Norte nesta terça-feira, 13, na última etapa de sua turnê pelas quatro partes do Reino Unido, onde uma multidão aplaudindo se reuniu para cumprimentá-lo em uma região com disputas que está profundamente dividida sobre a monarquia britânica. Enquanto isso, o caixão com o corpo de Elizabeth II passa as últimas horas na Escócia antes de ser transportado para Londres.
Na mais recente manifestação de afeto desde a morte da rainha Elizabeth II na quinta-feira passada, centenas de pessoas fizeram fila na rua que leva ao Castelo de Hillsborough, a residência oficial da família real na Irlanda do Norte, nos arredores de Belfast. A área em frente aos portões do castelo foi atapetada com centenas de tributos florais.
Charles e sua esposa Camilla, a rainha consorte, saíram de seu carro para cumprimentar os moradores – acenando para a multidão e às vezes usando as duas mãos ao mesmo tempo para apertar a massa de mãos estendidas de pessoas, incluindo crianças em uniformes azuis brilhantes.
Paralelamente ao funeral de sua mãe, Charles III realiza uma viagem institucional pelas quatro “nações” do Reino Unido – Escócia, Gales, Irlanda do Norte e Inglaterra. Se a rainha contava com o respeito de amplos setores em todas as regiões, Charles III tem o desafio de manter as costuras do reino após o Brexit.
A decisão de deixar a União Europeia foi percebida como inglesa e estimulou o sentimento anti-Londres entre os separatistas escoceses, galeses e norte-irlandeses.
A visita à Irlanda do Norte é uma etapa muito significativa na viagem do novo rei porque a região está em paz há mais de duas décadas, mas o conflito entre protestantes leais à Coroa e católicos partidários da união com a Irlanda continua provocando tensões.
Charles III não poderá ter uma reunião com o chefe de Governo regional porque as divergências entre os representantes políticos das duas comunidades impedem a designação de uma pessoa para ocupar o cargo desde as eleições de maio.
Porém, ele terá um encontro com representantes políticos da região no castelo de Hillsborough, ao sul de Belfast, e comparecerá a uma cerimônia religiosa anglicana em memória da rainha, que incluirá a presença de representantes republicanos, que se uniram aos elogios à monarca, deixando de lado as divergências históricas.
Caixão vai a Londres
Enquanto isso, dezenas de milhares de pessoas passaram desde segunda-feira pela capela em que se encontra o caixão de Elizabeth II na catedral de Saint Giles de Edimburgo, capital escocesa, para homenagear a monarca britânica mais longeva, que teve um reinado de 70 anos.
Gavin Hamilton, de Edimburgo, ficou na fila por mais de cinco horas e só conseguiu entrar na catedral às 2H50. E milhares de pessoas continuavam na fila. “Na fila havia pessoas que vieram de Aberdeen, a quase 160 quilômetros”, disse.
O caixão estava coberto pelo estandarte real e a coroa da rainha da Escócia. O cortejo fúnebre pelas ruas de Edimburgo na segunda-feira foi acompanhado a pé pelos quatro filhos da rainha: o novo rei, Charles III, de 73 anos, a princesa Anne, 72, Andrew, duque de York, 62, e Edward conde de Wessex, 58.
Elizabeth II faleceu na quinta-feira, 8, aos 96 anos em sua residência de Balmoral, na região das Highlands escocesas.
O caixão da monarca sairá durante a tarde da catedral de Edimburgo rumo ao aeroporto para o traslado até Londres, com a presença de sua filha Anne. Durante a noite permanecerá no ‘Bow Room’ do Palácio de Buckingham, ao lado da família, e na quarta-feira será levado para o Westminster Hall, a ala mais antiga da sede do Parlamento britânico.
Centenas de milhares de pessoas devem passar pelo local para prestar homenagem à rainha. O governo alertou que as pessoas podem ser obrigadas a passar várias horas na fila antes de se aproximar do caixão.
“Levem isto em consideração antes de decidir sobre comparecer ou trazer crianças”, advertiu Downing Street.
Desde segunda-feira, várias pessoas já aguardavam diante do Parlamento, 48 horas antes da abertura do local para o público, prevista para quarta-feira às 17h00 (13h00 de Brasília).
“Eu disse a minhas filhas que definitivamente vou apresentar meus respeitos presencialmente. Estou feliz de estar na fila, não importa o tamanho”, disse Vanessa Nanthakumaran, uma das primeiras pessoas na fila.
Londres espera milhares em funeral
Londres se prepara para receber centenas de milhares de pessoas para o funeral e enterro da rainha Elizabeth II, com hotéis lotados que aumentaram os preços e transportes que temem a saturação.
“Os nossos hotéis no centro de Londres e (do castelo real) em Windsor estão lotados e a procura aumenta em estabelecimentos perto de uma estação de trem ou metrô” na área metropolitana da capital britânica, explicou a rede hoteleira Travelodge. Em comunicado à AFP, a rede especificou que as reservas foram feitas “dos quatro cantos do Reino Unido e do mundo”.
A diretora da associação “UK Hospitality”, Kate Nicholls, confirmou que os hotéis de Londres “tiveram um aumento de reservas desde o anúncio na quinta-feira” da morte da monarca.
Nicholls adiantou que a procura vai manter-se elevada até segunda-feira, em parte devido às necessidades de alojamento dos policiais e demais pessoal necessário para a organização e segurança de um evento que se espera histórico, com a presença de dezenas de chefes de Estado e de Governo.
Com poucos lugares disponíveis, os preços subiram, e um pequeno quarto sem janela em Piccadilly Circus, no coração da capital, era alugado a 260 libras esterlinas (R$ 1.500) a noite. Outro perto da estação Paddington a £315 (R$ 1.880), sem janelas, sem café da manhã.
A Network Rail, que administra as linhas ferroviárias, espera “níveis sem precedentes de tráfego para a capital, especialmente a partir de quarta-feira”. “Londres e muitos outros locais que realizam cerimônias fúnebres estarão excepcionalmente ocupados”, alertou a Network Rail.
A operadora ferroviária alertou os viajantes para que “deem mais tempo” para suas locomoções, especialmente em caso de atrasos nas linhas ou fechamento imprevisto de estações, e convidou aqueles que puderem, a caminhar./AFP e AP