Baleia Rossi (MDB-SP), candidato de Rodrigo Maia, é visto como o nome mais provável para colocar um pedido de impeachment em pauta.
Por Estadão
Tema até então deixado de lado em nome do “foco na pandemia”, o impeachment de Jair Bolsonaro ganhou novos contornos com a eleição no Congresso. A votação para o novo presidente da Câmara – que decidirá pelo prosseguimento ou não dos pedidos de afastamento – tem pesado na escolha de parlamentares que cogitam um processo contra o mandatário. Baleia Rossi (MDB-SP), candidato de Rodrigo Maia, é visto como o nome mais provável para colocar um pedido em pauta, enquanto Arthur Lira (PP-AL), por ter o apoio do Planalto, já não teria a mesma disposição.
Uma eventual vitória do líder do Centrão garante a Bolsonaro uma sobrevida a curto prazo, mas está longe de ser uma imunidade ao presidente. Isso porque, hoje, o que ele tem é uma articulação com Lira. Mas o apoio não necessariamente deve se manter no cenário pós-eleições, diz Graziella Testa, professora da FGV EPPG. “Não existe uma formação de coalizão. Bolsonaro não está montando ministérios junto aos partidos políticos que o apoiam no parlamento. Existe um núcleo que denota apoio relativo ao presidente, mas não é uma proteção que ele teria como um partido político.”
Hoje, mesmo o apoio que Bolsonaro garantiu nas eleições no Congresso não vem de um grupo sólido, explica Graziella. “Muitos parlamentares fazem uso da eleição para conseguir um acordo melhor para ceder o seu voto. Não estou falando de corrupção, mas de conseguir cargos e emendas.”
Nas redes sociais e nas ruas, o apoio mais incisivo do presidente da República continua vindo do chamado “grupo ideológico”, que se mantém leal ao presidente e a seu discurso. “Mas no Congresso, resta uma grande incógnita”, afirma o cientista político e professor da FGV-SP Marco Antônio Teixeira. “Lira e (Rodrigo) Pacheco têm limites no apoio ao presidente que tem a ver com a pressão das ruas. A longo prazo, é impossível apostar quem apoiará Bolsonaro, já que a perda de popularidade vai continuar pressionando o Congresso, como foi com a Dilma. E como em 2022 teremos eleições, certamente deputados e senadores farão o cálculo eleitoral para saber o peso de um eventual apoio ao governo em seus eleitores.”
A possibilidade de Baleia analisar pedidos engavetados é o que tem atraído o apoio da oposição à sua candidatura. O emedebista já afirmou que, caso eleito, analisará “com equilíbrio” os pedidos de impeachment de Bolsonaro. Nas redes sociais, o deputado disse que cumprirá a Constituição e que “não abrirá mão de suas funções” se assumir o comando da Casa. Na ocasião, ele aproveitou para questionar se o seu principal rival na disputa, Arthur Lira, teria algum “combinado” com o Planalto sobre os pedidos de impeachment.
O líder do Centrão, por sua vez, tem evitado tratar do assunto. Ele já disse que não tocará na pauta enquanto for candidato. “Sempre respeitei as posições do presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) e ele esteve aí cinco anos, com 57 pedidos de impeachment na sua gestão. Se ele não abriu nenhum é porque ele não viu motivos, e essa pauta, mais uma vez eu digo, não é para discussão de teses. Então, não tocarei nesse assunto enquanto for candidato.”
A proximidade das eleições e o agravamento da crise do coronavírus fez com que o presidente da Casa, Rodrigo Maia, subisse o tom em relação a um eventual impeachment. Em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, ele disse que o afastamento de Bolsonaro do cargo, “de forma inevitável, será debatido (pelo Congresso) no futuro”. No mesmo dia, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), cobrou uma “reação” do Congresso e da sociedade à falta de ação do governo Jair Bolsonaro em Manaus. Doria, no entanto, não falou a palavra “impeachment”.
Além da oposição, que terá um pedido de impeachment conjunto abordando o histórico da gestão de Bolsonaro na pandemia, antigos apoiadores do presidente já aderiram ao processo de afastamento. Kim Kataguiri (DEM-SP) afirmou ver motivos “mais graves” para a deposição de Bolsonaro do que os que levaram ao impeachment de Dilma. O deputado é fundador do Movimento Brasil Livre (MBL), que junto ao “Vem Pra Rua” pediram a saída da ex-presidente petista e no último domingo, 24, fizeram carreatas ‘Fora Bolsonaro’.
No antigo partido do presidente, o PSL, parlamentares se dividem entre o apoio ou não ao presidente. Joice Hasselmann (PSL-SP), líder do partido na Câmara, é autora de um dos pedidos de afastamento. Ela acusa o presidente de crime de responsabilidade por falsidade ideológica e por interferência em investigação da Polícia Federal para obstruir a Justiça e beneficiar os filhos.
O clima para um possível impeachment, com a definição de qual lado cada partido está, deve ficar mais claro depois das eleições no Congresso. A própria candidata do MDB à presidência do Senado, Simone Tebet (MS), disse que não vê, hoje, ambiente para o Congresso afastar o chefe do Executivo. “Neste momento, o impeachment não tende a prosperar“, afirmou a parlamentar, em entrevista ao Estadão.