Fenômeno reflete interesse das mulheres em buscar autonomia, mas decisão pode ser mais motivada por necessidade do que por escolha
A luta pela independência financeira das mulheres está se tornando uma realidade cada vez mais visível em todo o Brasil. Recentemente, em uma entrevista sobre os dados do Censo 2022, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), fui convidada a comentar sobre um marco significativo: o percentual de mulheres no comando das residências cresceu e superou o daquelas que são esposas dos responsáveis.
Atualmente, cerca de 49,1% das mulheres brasileiras são responsáveis por seus lares, e 29% delas gerenciam suas casas sozinhas, frequentemente acompanhadas por pelo menos um filho. Em outras palavras, cerca de 3 em cada 10 lares brasileiros chefiados por mulheres são liderados por mães solo.
Esse fenômeno é um reflexo do crescente interesse e esforço das mulheres em buscar a autonomia financeira, o que, sem dúvida, representa um avanço significativo em termos de empoderamento feminino.
No entanto, é crucial reconhecer que, assim como para muitas empreendedoras que iniciam seus negócios no Brasil, essa decisão é frequentemente motivada mais pela necessidade do que pela escolha. Essa realidade resulta em uma sobrecarga para muitas mulheres, que enfrentam dificuldades em suas famílias e uma distribuição desigual do trabalho e da remuneração. Esse cenário pode gerar instabilidade nas dinâmicas familiares e sociais.
A dependência financeira muitas vezes leva meninas e mulheres a permanecer em relacionamentos indesejados ou abusivos, sejam eles físicos ou emocionais. Por isso, é vital lutarmos por mudanças estruturais, tanto por meio de políticas públicas quanto por iniciativas de empresas comprometidas com a causa, como as que colaboram com a Rede Mulher Empreendedora em nossos projetos.
Que a independência financeira se torne uma meta cada vez mais acessível para todas as mulheres, não apenas como uma saída de situações abusivas, mas como uma forma de empoderamento e autossuficiência. Afinal, nada é mais gratificante do que ser a dona do seu próprio dinheiro e tomar as decisões sobre a própria vida.
Fonte: Folha de São Paulo