Cúpula das Américas: imigrantes avançam no México e EUA anunciam investimentos para conter crise

Avanço de caravana pressiona governo americano no dia em que país anuncia investimentos na América Central para conter imigração

Vice-presidente dos EUA, Kamala Harris, participou da 9ª Cúpula das Américas nesta terça-feira, 7, em Los Angeles, Califórnia. Harris anunciou investimentos para conter crise migratória  Foto: David Swanson / EFE

Por Estadão

No dia em que uma caravana composta por milhares de imigrantes avançou pelo México para pressionar por vistos humanitários que lhes permitam viajar para os Estados Unidos, a vice-presidente americana, Kamala Harris, se comprometeu com quase US$ 2 bilhões de novos investimentos privados na América Central para conter a migração.

O compromisso foi feito durante a 9ª Cúpula das Américas, que acontece em Los Angeles, na Califórnia, e tem a questão migratória como um dos temas essenciais. A abertura oficial pelo presidente Joe Biden será na quarta-feira, 8.

Marcada até o momento pela ausência dos líderes de países em boicote contra a exclusão dos governos de Nicarágua, Venezuela e Cuba, a Cúpula das Américas se voltou à crise migratória nesta terça-feira com o anúncio da vice-presidente americana e a marcha dos imigrantes.

Segundo Kamala, US$ 1,9 bilhão será direcionado para novos investimentos de cerca de dez empresas em Honduras, Guatemala e El Salvador, no chamado Triângulo Norte da América Central. Os recursos se somam a outro US$ 1,3 bilhão enviado anteriormente.

“Esses investimentos criam um ecossistema de oportunidades e ajuda a dar às pessoas da região esperança de construir vidas seguras e prósperas em casa”, afirmou a Casa Branca em um comunicado.

Os três países são a origem da maioria dos 7,5 mil migrantes irregulares que atravessam diariamente a fronteira entre os Estados Unidos e o México na tentativa de fugir da extrema pobreza, da violência e da corrupção. Nenhuma das lideranças das três nações, entretanto, participa na Cúpula das Américas.

De acordo com o New York Times, a caravana que está no México possui cerca de 5 mil pessoas e é a maior deste ano. A agência de notícias EFE, entretanto, estima quase 15 mil.

Esse fluxo migratório afeta politicamente o governo Biden e pode fazê-lo perder o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato marcadas para novembro. A caravana espera cruzar a fronteira para os EUA enquanto o presidente americano estiver na Califórnia. Isso representaria um pequeno, mas visível, lembrete dos problemas imigratórios enfrentados por ele.

A Cúpula das Américas deve encerrar com cinco documentos adotados em áreas-chave: governança democrática, saúde e resiliência, mudanças climáticas e sustentabilidade ambiental, transição para energia limpa e transformação digital. A questão migratória está de fora, mas o governo Biden espera assinar uma declaração com objetivos relacionados ao tema.

O México, por onde atravessam os imigrantes para chegar aos EUA, deve assinar o documento, apesar da ausência do presidente Andrés Manuel López Obrador em protesto à exclusão de países de governos de esquerda no encontro. O chanceler Marcelo Ebrard vai representar o país. “Estamos muito confiantes de que os países que assinarão a Declaração sobre Migração estarão comprometidos com seus objetivos e isso inclui, apenas para esclarecer, o México”, disse um funcionário do governo americano na segunda-feira, 6.

A crise dos imigrantes compartilhada pelos países preocupa a sociedade civil, que participa da cúpula e é descrita por Washington como um dos pilares do encontro. “Os EUA devem enfrentar o problema da migração não a partir de sua lente, mas da lente coletiva”, declarou Leonardo Martellotto, da ONG JA Americas, à agência France Presse.

Martellotto afirma que o país precisa agir tanto nas causas da crise quanto na assistência paliativa aos imigrantes. “A sociedade civil pode contribuir com soluções, mas o governo tem a varinha mágica da escala”, acrescentou. Ele destacou a importância de promover o trabalho remoto nos países de origem e da formação de jovens em dificuldade e das famílias que recebem ajuda financeira, para que possam pode tirar o máximo proveito delas.

Exclusão de países permaneceu em evidência

A exclusão de Cuba, Venezuela e Nicarágua da Cúpula das Américas continuou a ser discutida nesta terça-feira. Horas antes de embarcar para Los Angeles, o presidente argentino, Alberto Fernández, que representa os excluídos através da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), criticou a decisão americana. “A unidade não é declamada, a unidade é exercida e a melhor maneira de exercê-la é não excluir ninguém”, disse.

Fernández acrescentou que lamenta “enormemente a ausência de países que não foram convidados” da Cúpula. “Tentarei trazer a voz deles a este fórum, como presidente da Celac”, afirmou.

Seguindo o movimento do presidente do México, a presidente de Honduras, Xiomara Castro, e o presidente da Bolívia, Luís Arce, também não irão à Cúpula em protesto à exclusão dos três países, justificada pelos EUA como repúdio às violações dos direitos humanos e do sistema democrático promovidas pelos três países. “Acreditamos que deveríamos estar todos à mesa”, disse o vice-chanceler hondurenho, Antonio Garcia.

Os presidentes da Guatemala e Uruguai também não irão à Cúpula das Américas, mas alegaram outros motivos. Alejandro Giammattei, da Guatemala, alegou conflitos de agenda; e Luis Lacalle Pou, do Uruguai, afirmou que testou positivo para covid-19. Todos os países serão representados por outras autoridades.

As ausências destacam a perda de protagonismo dos EUA como liderança continental, em um momento em que a China aumenta a influência com investimentos e os líderes estão céticos com relação ao país comandado por Joe Biden.

Biden vai discursar no evento nesta quarta-feira, 8, marcando o início dos dias mais intensos da reunião. Ele anunciará uma aliança com a América Latina para a prosperidade econômica para mobilizar investimentos, de acordo com informações de um funcionário do governo.

Outro ponto-chave do discurso é uma “reforma ambiciosa” do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que vai ser proposta para “melhor enfrentar o desafio de desenvolvimento da região” dando ao setor privado um papel central, acrescentou o funcionário. Os EUA tentarão obter uma participação acionária no BID para investir no braço de empréstimos do setor privado e “direcioná-los para onde terão maior impacto”.

O presidente dos EUA também anunciará mais de US$ 300 milhões em assistência à região em caso de insegurança alimentar, tendo como pano de fundo a guerra na Ucrânia. O conflito desencadeado pela invasão da Rússia em 24 de fevereiro fez disparar os preços de alguns dos produtos da cesta familiar. /AFP, EFE, NYT

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