‘Terrorismo doméstico’, disse Trump sobre as cenas de tumulto.
Por G1
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comparou o policial que deu 7 tiros em Jacob Blake com um jogador de golfe que “engasga” ao dar uma tacada. Trump fez a analogia em entrevista coletiva nesta terça-feira (1º), durante sua visita a Kenosha, no Wisconsin, cenário de protestos antirracistas e contra a violência policial.
“Tem, sim, alguma maçã podre, mas a gente sabe que o sistema cuida dessas pessoas. Ninguém vai facilitar para eles, mas você tem de entender também que as pessoas ‘engasgam'”, disse o presidente dos EUA em referência ao autor dos disparos contra Blake.
“[Os policiais têm] segundos para tomar uma decisão. E se tomarem a decisão errada, podem morrer ou se meter em um grande problema. As pessoas têm de entender que eles [os policiais] ‘engasgam'”, repetiu o presidente.
O presidente usou a expressão “to choke” para se referir à ação. Ela é comum em torneios de golfe quando um jogador, sob pressão, erra a tacada. Trump já a havia usado nesta segunda-feira (31) em entrevista a rede de notícias Fox News.
Outra tradução possível para “to choke” é estrangulamento, segundo o dicionário oficial de terminologias da União Europeia. Essa segunda acepção da palavra despertou críticas do movimento antirracista por conta da morte de George Floyd, ex-segurança negro que morreu sufocado após uma abordagem policial.
Visita a Kenosha
Em visita a Kenosha nesta tarde, Trump disse que excessos cometidos por policiais merecem investigação, mas insistiu que o Departamento de Justiça americano deve investigar a violência nas manifestações.
“Kenosha foi devastada por tumultos contra a polícia e contra os EUA. Não são atos de protestos pacíficos, mas de terrorismo doméstico”, acusou Trump em visita a Kenosha.
O governo federal anunciou nesta terça uma ajuda de cerca de US$ 4 milhões a pequenos empresários de Kenosha, em Wisconsin. O republicano alega que o valor ajudará a “reconstruir a cidade”, palco de protestos contra o racismo e a violência policial.
Ao chegar na cidade, a comitiva presidencial passou por manifestantes tanto a favor do presidente e das equipes policiais quanto por ativistas “Black Lives Matter” — Vidas Negras Importam —, que protestam contra o racismo nos EUA.
Trump disse, antes de embarcar, que as cenas de violência em Kenosha cessaram no momento em que a Guarda Nacional chegou a Wisconsin. Em entrevista coletiva, ele voltou a criticar a condução da crise por governos democratas — a oposição governa Kenosha e outras cidades como Portland e Minneapolis, outros cenários de protestos contra a brutalidade policial e contra o racismo.
“Acho que muitas pessoas estão vendo o que está acontecendo com essas cidades governadas por democratas, e estão enojadas”, criticou Trump.
A declaração do republicano vai na linha das críticas que ele tem feito ao adversário na corrida presidencial, o democrata Joe Biden. Na segunda-feira, Trump acusou o opositor de ser permissivo com “baderneiros e vândalos”.
Biden, porém, tenta se descolar da imagem de que apoiaria as cenas de depredação vistas em alguns protestos. O democrata, em seu primeiro compromisso oficial de campanha, acusou Trump de fomentar a violência e disse que “vandalismo não é protesto”.
A visita tem significado na corrida à Casa Branca porque o estado de Wisconsin atribui 10 delegados no colégio eleitoral e costumava eleger candidatos do Partido Democrata — tanto o governador estadual quanto o prefeito de Kenosha são democratas, inclusive.
Porém, nas eleições de 2016, Trump venceu em Wisconsin com uma pequena margem sobre Hillary, vitória considerada essencial para o republicano ocupar a Casa Branca.
Caso Jacob Blake
Os protestos pelos EUA voltaram à tona quando Jacob Blake, um homem negro, foi baleado ao menos sete vezes pelas costas durante operação policial em Kenosha. Testemunhas disseram que ele estava desarmado e que os filhos dele assistiram à ação de dentro do carro.
Blake sobreviveu, mas, segundo a família, ele perdeu os movimentos da cintura para baixo. A Justiça de Wisconsin retirou a ordem de prisão que havia contra ele por suposta violência doméstica.
Kenosha, então, se converteu em outro centro de protestos contra o racismo e a violência policial nos EUA. Após atos pacíficos, na maioria, cenas de vandalismo — sobretudo à noite — voltaram a chamar atenção dos americanos, meses depois da onda de manifestações após a morte de George Floyd.
No entanto, manifestantes a favor dos policiais também protestaram na cidade no último fim de semana. Em Kenosha, dessa vez, não houve maiores incidentes quando os dois grupos se encontraram — porém, dias antes, um adolescente de 17 anos matou dois manifestantes que protestavam contra o racismo.
Outro episódio recente de preocupação sobre a violência entre manifestantes ocorreu no sábado em Portland, quando um homem que protestava a favor de Trump morreu baleado na cidade.