Ficou claro que Jair Bolsonaro mantém visão diferente dos demais membros do grupo.
Por Estadão
Ao fim da primeira reunião do comitê de crise criado para avançar nas medidas definidas pelos Três Poderes contra a pandemia docoronavírus, ficou claro que Jair Bolsonaro mantém visão diferente dos demais membros do grupo. Menos de dez minutos depois de o presidente do Senado,Rodrigo Pacheco, do presidente da Câmara, Arthur Lira, e do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reforçarem a necessidade de uso da máscara e do distanciamento social, apelando para que isso fosse praticado no feriado da Semana Santa, o presidente falou na direção oposta, criticando a prática de lockdown e do isolamento.
Ao reclamar das medidas mais restritivas adotadas por governadores e prefeitos, Bolsonaro afirmou que as pessoas querem voltar ao trabalho. “Não é ficando em casa que vamos solucionar esse problema”, disse. “Essa política continua sendo adotada, mas o espírito dela era se preparar com leitos de UTI, respiradores, para que as pessoas não viessem a perder suas vidas por falta de atendimento”, criticou Bolsonaro, num pronunciamento feito sem máscara – só colocou depois da fala e após ser alertado pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria.
O contraste de posições ficou mais nítido porque Bolsonaro acabou não participando da coletiva realizada pelos outros integrantes do Comitê de Crise, que falaram bastante alinhados. Na reunião entre os Poderes que definiu a criação do Comitê, o presidente já tinha criticado a ação de governadores e de prefeitos que decidiram pela adoção do lockdown para tentar conter o avanço da doença. Agora, mais uma vez, disse que essas medidas impedem que as pessoas trabalhem e podem fazer com que passem fome. De novo, também usou a comparação dessas medidas com as de um estado de sítio.
Sem a presença do presidente, os integrantes do comitê de crise pareceram antever a trombada que iria acontecer. E defenderam que era importante um alinhamento na estratégia de comunicação social, justamente para garantir uma atuação uniforme na divulgação das informações necessárias para a população no combate da pandemia.
“É muito importante a comunicação. Que haja um alinhamento da comunicação social do governo, da assessoria de imprensa da Presidência da República, no sentido de haver uma uniformização do discurso”, disse Rodrigo Pacheco. “Que é necessário se vacinar, usar máscara, higienizar as mãos. Que é necessário o distanciamento social de modo a prevenirmos o aumento da doença no nosso País”, afirmou.
Já sabendo da posição de Bolsonaro, Queiroga usou jogo de cintura para não bater totalmente de frente com ele. O ministro admitiu que há dificuldade da população para seguir medidas extremas. Por isso, reforçou a defesa do distanciamento, do uso de máscaras e que cada um faça sua parte já na Semana Santa.
“No feriado, não pode haver aglomerações desnecessárias. É importante usar máscara, manter o isolamento. É importante fazer isso. Medidas extremas não são desejadas. Então vamos fazer isso”, ponderou.
Durante a conversa, Bolsonaro acabou sendo surpreendido pela sugestão de que se vacinasse publicamente. Antes de sua “conversão” à defesa da vacinação, o presidente chegou a declarar que não se imunizaria é que já tinha anticorpos contra o coronavírus pois tinha contraído o vírus. Agora, acabou sem responder à sugestão, que ainda recebeu um acréscimo: a aplicação da vacina poderia ser feita pelo próprio ministro da Saúde, que é médico. Bolsonaro acabou mudando de assunto e não respondeu se toparia a ideia.
O Comitê de Crise vai tentar avançar em outros gargalos para frear a expansão da pandemia. Queiroga afirmou que vai discutir com o ministro da Infraestrutura, Tarcisio Gomes de Freitas, medidas relativas aos transportes urbanos. Hoje, a proximidade entre esses passageiros, que precisam se deslocar diariamente para suas atividades, é vista como ponto de risco na transmissão do vírus.
Arthur Lira e Rodrigo Pacheco aproveitaram a reunião para defender a atuação mais intensa da iniciativa privada no combate à pandemia e também para a compra de vacinas. “É importante que se comece um amplo diálogo, um debate que permita que empresas possam adquirir vacinas para seus funcionários, mesmo com o repasse obrigatório para o SUS. Cada brasileiro vacinado é um a menos que possa contrair o vírus”, defendeu.
Lira insistiu que a ampliação da vacinação e a garantia de que haverá mais leitos de UTI e medicamentos segue sendo prioridade. “O nosso problema é vacinar e esse é o nosso foco. A Câmara dos Deputados está discutindo soluções e votando projetos importantes para que se amplie a vacinação, leitos, insumos e toda a infraestrutura necessária no combate à pandemia”, disse.