Mendonça é postulante a ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
Por Estadão
SOROCABA – O presidente Jair Bolsonaro fez um agrado ao ministro da Advocacia-Geral da União, André Mendonça, durante cerimônia de entrega de títulos a assentados e ocupantes de terras da União em Marabá, no Pará, nesta sexta-feira, 18. Mendonça é postulante a ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).
O advogado-geral da União, que é paulista de Santos e não tem ligação com a pauta do evento, participava de forma discreta, sentado à frente do palco, até ser citado pelo presidente. O clima da cerimônia era de campanha também do próprio Bolsonaro à reeleição. Ovacionado, o presidente exibiu uma camiseta com os dizeres “É melhor Jair se acostumando Bolsonaro 2022”.
Na abertura de seu discurso, Bolsonaro pediu que Mendonça ficasse em pé. “Temos um ministro que é pastor evangélico, o prezado André Mendonça”, disse. Em 2019, o presidente afirmou que, dos dois ministros que indicaria para o STF, “um deles será terrivelmente evangélico”. Mendonça está trabalhando intensamente pelo posto, articulando a indicação inclusive entre senadores, que precisam aprovar o nome escolhido pelo presidente. A vaga pretendida por Mendonça é a do ministro Marco Aurélio Mello, que se aposenta no início de julho.
Em seguida, Bolsonaro elogiou o pastor evangélico Silas Malafaia, que também fazia parte da comitiva. “Deixei para citar por último uma pessoa que me é muito grata, que não me defende, fala a verdade. É o pastor Silas Malafaia, homem de fé que, além de ter Deus no coração, o tem nas cores verde e amarela.”
Malafaia desaprovou publicamente o encontro realizado entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, líder nas pesquisas de intenção de voto para a Presidência em 2022, com o bispo primaz da Assembleia de Deus de Madureira, Manoel Ferreira, ensejando um possível racha entre os evangélicos. Apontado como novo guru do presidente, o pastor Malafaia prometeu “artilharia pesada” contra o petista. Chamado a falar no evento, sem citar Lula, ele atacou: “Corrupto, bandido que saqueou esse país não vai mais enganar o povo brasileiro. Roubaram milhões, esses são os verdadeiros genocidas”.
Durante seu discurso, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, entregou ao presidente duas camisas com as cores do Brasil, uma delas presenteada pela localidade de Quatro Bocas, no Pará, e outra, por “outro grupo”, nas palavras de Guimarães, com os dizeres: “É melhor Jair se acostumando – Bolsonaro 2022”. Ele pegou as camisas, mostrou à plateia e entregou a um assessor.
Bolsonaro chegou a Marabá na companhia da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, e do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, além do presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Geraldo Melo Filho. No evento, ele e a maioria dos integrantes de sua comitiva, além de parte do público presente, não respeitaram o distanciamento, necessário devido à pandemia, e não usaram máscaras. Bolsonaro contribuiu para aumentar a aglomeração, pedindo a retirada da “cerquinha” para que o público se aproximasse do palco. Havia caravanas de todo o estado, levadas por prefeitos e políticos.
Parlamentares evangélicos, o senador Zequinha Marinho (PSC-PA), os deputados paraenses Éder Mauro e Joaquim Passarinho, ambos do PSD, Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) e o pastor Marco Feliciano (PSC-SP), fizeram parte do evento. Durante a entrega de 50.162 títulos definitivos a provisórios, contemplando assentados da Reforma Agrária, mas também ocupantes de terras públicas – entre eles muitos apontados como grileiros – o presidente disse que está dando segurança para quem trabalha na terra. “Dessa forma, cada vez mais nós afastamos as atividades nefastas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), porque a propriedade privada é sagrada.”
Ele voltou a criticar “a sanha ditatorial” de governadores que decretaram lockdown e outras medidas restritivas para conter o avanço da pandemia da covid-19, dizendo que “tiraram o sustento dos mais humildes”, enquanto “esse presidente que vos fala não fechou um botequim sequer”. Bolsonaro lembrou ter criado o auxílio emergencial e admitiu que a volta da inflação é um desafio. “Temos um problema de inflação? Temos, mas se o homem do campo não tivesse trabalhado (durante a pandemia), teríamos desabastecimento, que é muito pior.”
Terras públicas
Embora a maioria dos títulos definitivos entregues pelo presidente beneficiem assentados da reforma agrária, mais de dois mil atenderam ocupantes de terras públicas, que ambientalistas apontam como grileiros. Muitas dessas áreas foram desmatadas e queimadas – há mais de uma década o Pará está entre os Estados que mais desmatam a Amazônia. Defensores da reforma agrária, como Maria Cazé, da coordenação nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), afirmam que a titulação das terras deveria ser acompanhada de políticas de apoio ao pequeno agricultor. “O governo atual destruiu todas as políticas públicas de apoio à agricultura camponesa e à produção de alimentos”, disse.