Competição foi marcada por condições duras, dobradinha do país africano e desistências
Por Folhapress
Quem venceu a maratona das Olimpíadas de Tóquio foi uma queniana, mas não a atual recordista mundial Brigid Kosgei, como era esperado. Peres Jepchirchir, que detém a melhor marca da meia maratona, levou o ouro na prova de 42,195 km em 2h27min20seg, longe do recorde olímpico (2h23min07seg), deixando a de prata para a conterrânea, na abafada manhã deste sábado (7) em Sapporo, noite de sexta (6) no Brasil.
Já a medalha de bronze ficou para a surpresa nas qualificatórias americanas, Molly Seidel, que conquistou uma vaga nos Jogos Olímpicos após correr sua primeira maratona durante a prova de seleção dos EUA.
Não foram só as vitórias que marcaram a prova, no entanto. As desistências surpreenderam frente ao nível das atletas que abandonaram a competição antes do fim. A etíope Tigist Girma, detentora do sétimo melhor tempo entre as corredoras, por exemplo, jogou a toalha antes mesmo dos 21 km.
Chamaram ainda mais a atenção a saída de Lonah Salpeter, queniana naturalizada israelense, no quilômetro 38, e da queniana Ruth Chepngetich, atual campeã mundial na modalidade, em Doha-2019, numa prova na qual também enfrentou condições difíceis.
O clima durante a maratona dificultou a prova das competidoras, que largaram já com a temperatura na casa dos 25° C e 85% de umidade, mesmo com o adiantamento em uma hora da prova —marcada inicialmente para as 7h, no horário local. Após quase duas horas, às 8h, o termômetro marcava 29° C.
Dadas as condições difíceis, as atletas pouparam energias e fizeram um início de prova lento, em velocidade menor a que estão habituadas. Além de água, elas contaram com hidratação própria, habitual nesse tipo de competição, e saco de gelos para aplacar o calor.
Até o quarto quilômetro, a japonesa Honami Maeda ocupava a primeira posição do pelotão de frente, mas sua liderança não durou muito tempo. No quilômetro 20, 13 atletas comandavam a prova, entre quenianas, americanas, etíope, israelense e japonesa. Já a partir do quilômetro 25, o ritmo começou a ficar mais forte, e, na altura dos 30 km, Chepgngetich ficou para trás, desistindo 2,5 km depois.
Nos últimos 5 km de prova, Jepchirchir, Kosgei, Seidel e Salpeter estavam na dianteira, formação que não durou muito tempo, com a saída da israelense na sequência. Assim, após a virada dos 40 km, Jepchirchir apertou o passo para cruzar a linha de chegada. Kosgei tentou acompanhar, mas chegou 16 segundos depois. Apesar da terceira colocação, a americana encerrou a prova com um longo grito de alegria.
Seidel se classificou para as Olimpíadas de Tóquio derrotando atletas favoritas que disputavam as qualificatórias —quando, aliás, correu a distância da maratona pela primeira vez, em fevereiro de 2020. Apesar de ser uma corredora de elite, ela levava uma vida comum na época da disputa e dividia seus dias entre treinos e o trabalho em uma cafeteria ou como babá.
Já a medalhista de ouro Jepchirchir, criada em uma família de fazendeiros no oeste do Quênia, corria competitivamente desde o ensino primário. Como é comum no país africano, ela percorria a distância entre sua casa e a escola correndo —algo que ela estima ser entre 3 km e 5 km. Com incentivo do irmão, ela focou as energias nesse esporte.
Quase ninguém conhecia a atleta até ela despontar no pelotão líder no Campeonato Queniano de Cross-Country, em fevereiro de 2014. Antes disso, ela havia corrido uma prova de maratona pouco conhecida.
Desde então, dividiu-se entre provas de 5 km, 10 km e 20 km, além de maratonas e meias maratonas —esta última seu foco principal e na qual detém o recorde mundial, conquistado no ano passado, na Polônia. Agora, ela coloca no currículo mais uma marca importante, como atual campeã olímpica.