Enem: mudança de presidente do Inep pode afetar realização das provas?

Servidores do órgão e especialistas em educação avaliam que a prova deste ano não deve ser afetada, mas destacam que o novo presidente terá bastante trabalho pela frente

Estudantes chegam em um dos lugares de prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em São Paulo; especialistas e servidores não acham que prova será afetada por troca de presidente no Inep Foto: Werther Santana/Estadão – 21/11/21

Por Estadão

O anúncio de saída do presidente do  Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), feito pelo ministro da Educação nesta segunda-feira, 27, a menos de quatro meses do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), suscita uma pergunta importante: a execução das provas será impactada? Servidores do órgão e especialistas em educação ouvidos pelo Estadão avaliam que a prova deste ano não deve ser afetada, mas destacam que o novo presidente terá bastante trabalho pela frente.

Conforme apurou o Estadão, Danilo Dupas, que assumiu o cargo em fevereiro do ano passado, deixa o posto a pedido do Palácio do Planalto. A preocupação do governo era que sua atuação, questionada há meses por servidores e especialistas em educação, prejudicasse o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha para reeleição. As provas deste ano serão aplicadas em 13 e 20 de novembro.

A indicação de Carlos Moreno para assumir o cargo foi bem recebida por servidores e especialistas, que salientam o caráter técnico dele. Moreno é bacharel e mestre em Estatística pela Universidade de Brasília (UNB) e servidor de carreira do Inep desde 1985.

Ao Estadão, Moreno disse que a prova do Enem está pronta. “Estou tranquilo porque confio muito nos servidores do Inep”, afirmou. Segundo o novo presidente do Inep, o ministro deu “total liberdade” a ele para atuar e conhecer os detalhes do exame e do que vinha sendo feito na gestão de Dupas. “Minha missão é a de garantir a execução do Enem sem problemas.”

Presidente do Conselho Nacional da Educação (CNE), Maria Helena Guimarães de Castro, que comandou o Inep entre 1995 e 2002, se disse surpresa com o anúncio da saída de Dupas, mas comemorou a indicação de Moreno. Segundo ela, o novo presidente é uma “unanimidade” entre servidores e especialistas. “É uma pessoa de dentro da casa, de carreira, muito querido pelos funcionários”.

Ela avalia que Dupas focou no planejamento estratégico e “teve muita dificuldade em lidar com as equipes internas” por causa do clima de descontentamento. Ela avalia que “talvez o único legado” dele seja a regulamentação das avaliações virtual in loco de instituições superiores no País, uma demanda de instituições privadas.

“No resto, não andou, até hoje não temos as matrizes do Enem, não temos as matrizes do novo Saeb, não temos ainda uma clara diretriz do Inep sobre as mudanças que estão em curso para alinhar as novas avaliações à BNCC e as novas diretrizes do novo Enem”, pondera.

Na visão dela, quando assumir o cargo, Moreno enfrentará um “trabalho bem grande”. “O que ele precisa fazer imediatamente é tomar conhecimento de todos os projetos, os contratos em andamento, para assegurar o Enem deste ano.” Porém, acredita que não haverá problemas na execução do testes, pois Moreno tem “todas as condições” para lidar com as tarefas.

Alexandre Retamal, presidente da Associação dos Servidores do Inep (Assinep), frisa que os servidores estão prontos para aplicar o exame. Ele acredita, na verdade, que a saída de Dupas é até mesmo mais salutar para a aplicação. “Porque traz mais tranquilidade, traz mais segurança e um ambiente de mais confiança para nós, servidores, realizarmos o trabalho que a gente sabe fazer.”

Ele contou que a associação recebe com “alegria” a indicação de Moreno, que descreve como uma pessoa “preparada” e “capacitada”.

Maria Inês Fini, última presidente do Inep antes da gestão Bolsonaro, concorda com Retamal, a troca “só pode impactar positivamente” a execução do exame. Ela ficou contente com a indicação de Moreno e destaca que ele “tem todas as condições” para fazer “um bom diagnóstico” para traçar o que deve ser feito com urgência e do que pode ser deixado para depois.

Quinta troca

Moreno será o quinto a assumir a presidência do Inep desde que Jair Bolsonaro assumiu o governo federal. A troca recorrente de presidentes, avalia Maria Helena, “significa que provavelmente não havia um projeto, uma proposta, para o Inep, que é um órgão estratégico da educação nacional”.

Maria Inês avalia que, desde sua saída do cargo, houve “progressivas iniciativas de interferência no Inep”. Mas essa é a primeira vez que se sente tranquila com o nome anunciado, conta.

No Twitter, o ministro da Educação, Victor Godoy, agradeceu o trabalho realizado por Dupas e destacou que a saída ocorreu “por motivos pessoais” e “a pedido”. “Anuncio que a partir de 1° de agosto o diretor Carlos Moreno será o novo presidente do Inep, respondendo interinamente e garantindo a continuidade dos exames e avaliações fundamentais para toda a sociedade brasileira”, escreveu. “(Ele) Já ocupou diversas funções no Inep e conhece profundamente os processos, avaliações e exames da autarquia.”

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