Violência e os disparos de foguetes ocorrem em um momento de tensões elevadas e feriados religiosos em Israel e nos territórios palestinos
Estadão
Militantes dispararam foguetes do Líbano e da Faixa de Gaza contra Israel esta semana, no que parecia ser uma resposta a duas incursões da polícia israelense em um local sagrado de Jerusalém. A violência e os disparos de foguetes ocorrem em um momento de tensões elevadas e feriados religiosos em Israel e nos territórios palestinos.
Na quarta-feira, 5 , a polícia prendeu centenas de palestinos dentro da mesquita de Al-Aqsa e feriu dezenas de pessoas. A incursão, que a polícia disse ter ocorrido em resposta aos palestinos que se barricaram dentro da mesquita, provocou disparos de foguetes de militantes na Faixa de Gaza. Os israelenses responderam com diversos ataques aéreos.
Em uma segunda noite de violência ao redor da mesquita, a polícia israelense usou granadas de efeito moral, balas de borracha e bastões para dispersar os fiéis reunidos para as orações do Ramadã. De acordo com uma organização humanitária pelo menos seis pessoas ficaram feridas.
Durante a quinta-feira, 6, foguetes lançados da fronteira no sul do Líbano dispararam sirenes de ataque aéreo e causaram pelo menos dois feridos no norte de Israel. Ainda não está claro quem disparou os foguetes do Líbano.
Conhecido pelos judeus como o Monte do Templo e pelos muçulmanos como o Nobre Santuário – que abrange a mesquita Al-Aqsa – o local no centro das tensões é reverenciado em ambas as fés. Mesmo a menor mudança percebida no status quo tem a capacidade de provocar violência.
A polícia invadiu o local na quarta-feira no meio do mês sagrado muçulmano do Ramadã, pouco antes do início do feriado da Páscoa judaica – uma sobreposição que as autoridades de segurança israelenses há muito alertam que pode levar a uma nova escalada.
Mas o novo ministro da segurança nacional, Itamar Ben-Gvir, líder do movimento nacionalista religioso de extrema-direita de Israel, pressionou por uma maior presença judaica no Monte do Templo. Ben Gvir é conhecido por fazer movimentos provocativos para afirmar as reivindicações judaicas sobre terras palestinas ou espaços religiosos.
Em janeiro, o político fez uma visita ao antigo complexo religioso, na primeira visita desse tipo em anos por um alto funcionário israelense.
Um oficial do Hamas, o grupo militante que controla Gaza, criticou o ataque de quarta-feira como um “crime grave ao qual o povo palestino e a resistência responderão”.
Qual é o significado religioso da mesquita?
O complexo tem significado religioso para muçulmanos, judeus e cristãos.
É o local mais sagrado do judaísmo. As origens históricas do local são contestadas entre os arqueólogos, mas na tradição judaica, uma estrutura religiosa conhecida como Primeiro Templo foi construída durante o reinado do rei Salomão no século 10 a.C. O templo, em torno do qual se centralizava a antiga fé judaica, e o que se seguiu foram destruídos quando os impérios invasores saquearam Jerusalém.
“Para os judeus, é o lugar mais sagrado da história judaica e, na verdade, simboliza o contato mais claro entre uma versão mais moderna de Israel e o período mais antigo”, apontou Amichai Cohen, membro do Israel Democracy Institute.
Nas tradições judaica e muçulmana, é conhecido como o lugar onde Abraão se ofereceu para sacrificar seu filho. Os judeus, por costume, rezam voltados para Jerusalém e, em particular, para o Monte do Templo. O Muro das Lamentações, um muro de contenção fora do complexo de Al-Aqsa, há muito é venerado como um ponto focal para a oração judaica.
Para os muçulmanos, o Nobre Santuário é o terceiro local mais sagrado, depois das mesquitas de Meca e Medina, na Arábia Saudita. Al-Aqsa é visto como o lugar de onde o profeta Maomé ascendeu ao céu depois de fazer uma viagem milagrosa de uma noite de Meca a Jerusalém. A mesquita foi construída na parte sul da praça no início do século VIII d.C. Do outro lado do pátio está o Domo da Rocha, um santuário islâmico ornamentado, com uma cúpula dourada visível em grande parte da cidade.
A message from IDF International Spokesperson Lt. Col. Richard Hecht on the operational events of the past 48 hours. pic.twitter.com/s02B14qpLP
— Israel Defense Forces (@IDF) April 7, 2023
Quem está no comando do local?
Israel capturou Jerusalém Oriental da Jordânia durante a guerra árabe-israelense em 1967 e mais tarde declarou toda Jerusalém como a capital de Israel – um movimento não reconhecido pela maioria da comunidade internacional. Desde 1967, um fundo religioso financiado e supervisionado pela Jordânia administra o complexo como parte de um acordo formalizado em um tratado de paz de 1994 entre Israel e a Jordânia.
Israel tem autoridade de segurança no local e mantém a presença policial.
Por que é considerado um ponto de inflamação para o conflito?
O local está no centro da luta entre israelenses e palestinos pelo controle de Jerusalém. O status da cidade provou ser um ponto crítico nos esforços para alcançar uma solução de dois Estados para o conflito, e al-Aqsa representa um símbolo da busca palestina pela autodeterminação.
A mesquita é “o local religioso mais importante para os muçulmanos na Palestina e é absolutamente central para a identidade palestina”, apontou Khaled Elgindy, especialista em assuntos palestinos do Instituto do Oriente Médio.
Nos últimos anos, a instalação de detectores de metal por Israel no complexo provocou uma reação violenta em 2017. Além disso, a visita de membros de movimentos nacionalistas religiosos israelenses na mesquita também provoca reclamações.
A Jordânia emitiu uma reclamação formal a Israel em abril de 2021 sobre grandes grupos de visitantes judeus violando o status quo. No mês seguinte, o apoio de Ben Gvir aos colonos em um bairro de Jerusalém Oriental ajudou a catalisar uma guerra de 11 dias entre Israel e o Hamas, o grupo militante islâmico que governa Gaza.
“Toda vez que um ministro, membro do parlamento israelense ou membro de um grupo extremista de colonos visita o complexo de Al-Aqsa, eles estão corroendo o status quo”, apontou Elgindy.
Os judeus estão divididos sobre se devem orar lá?
Uma “grande maioria” de judeus israelenses religiosos e mais seculares se abstém de ir ao Monte do Templo, disse Cohen. Dado o quão facilmente as tensões podem se inflamar, muitos acham que os judeus devem evitar a área para não provocar os palestinos e alimentar outra rodada de violência.
Mas também existem razões religiosas pelas quais alguns judeus acreditam que é importante ficar longe do Monte do Templo. Muitos líderes ortodoxos dizem que os judeus não devem andar neste lugar sagrado, parte do local dos históricos templos judaicos ali. Judeus de todo o mundo visitam e rezam no vizinho Muro das Lamentações.
Por que Ben-Gvir está focado no complexo?
Com um estilo provocador, Bem Gvir é peça chave no governo que é considerado o mais de direita da história de Israel. Grupos palestinos e diversas nações do mundo árabe classificaram a visita do ministro a Mesquita Al-Aqsa como uma provocação intencional.
O gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu reiterou que está comprometido em manter o status quo. Mas Ben Gvir, seu aliado no governo, há muito defende a mudança do acordo. Conhecido por suas visões de supremacia judaica, ele foi condenado por incitar o racismo contra os árabes e apoiar um grupo terrorista.
Em uma publicação no Twitter, Netanyahu afirmou que o governo estava trabalhando para reduzir as tensões no local e quer “manter a liberdade de culto, o livre acesso para todas as religiões e o status quo no Monte do Templo”. O gabinete de Netanyahu anunciou que convocaria uma reunião de segurança de alto nível na quinta-feira.