Pesa ainda na conta o acionamento da bandeira vermelha nas contas de luz, que pode subir para o seu nível mais crítico.
Por Estadão
Os consumidores devem enfrentar aumento expressivo nas tarifas de energia nos próximos meses, com o aumento da geração mais cara das termelétricas a diesel e óleo combustível. Pesa ainda na conta o acionamento da bandeira vermelha nas contas de luz, que pode subir para o seu nível mais crítico. Especialistas, porém, ainda não veem risco de um racionamento como o vivido em 2001.
O gerente de Preços e Estudos de Mercado da Thymos Energia, Gustavo Carvalho, reconhece, porém, que pode haver dificuldades em algum momento em que a demanda for mais alta. “Se não houvesse a pandemia de covid-19, poderíamos até entrar no racionamento, mas acho que, em parte, essa situação pressionou o consumo para baixo”, afirmou.
A situação deve pesar ainda mais no bolso dos consumidores, com a perspectiva de acionamento do patamar mais alto da bandeira tarifária nos próximos meses, que adiciona uma cobrança extra de R$ 6,243 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
Para tentar amenizar os efeitos do baixo volume de água nas usinas hidrelétricas, o governo baixou ontem um decreto para regulamentar a realização de um novo tipo de leilão. Essa licitação visa a contratar usinas para aumentar a segurança do sistema elétrico brasileiro e evitar o desabastecimento de energia.
Essas usinas ficarão disponíveis para atender a demanda de energia sempre que houver necessidade e devem repor a intermitência das fontes renováveis como o vento e o sol, que dependem de fatores naturais para atender as diferentes necessidades.
Os custos para contratação dessas usinas serão rateados entre todos os consumidores, por meio de um novo encargo na conta de luz, chamado Encargo de Potência para Reserva de Capacidade, e será proporcional ao consumo.
Para o presidente da consultoria PSR, Luiz Barroso, o governo tem um arsenal de medidas para lidar com o momento. Segundo ele, a declaração de emergência hídrica serve justamente para dar transparência à necessidade dessas ações. “Naturalmente, isso liga um alerta, e o governo precisa começar a se preparar para garantir o atendimento. Vejo a declaração de emergência hídrica como algo positivo, pois, ainda que a mensagem não seja boa, é transparente”, afirmou Barroso.
Já o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Adílson de Oliveira é crítico em relação à postura que o governo federal tem adotado frente à crise nos reservatórios. “São medidas de quem ainda não tomou a devida preocupação com a dimensão do problema. Estão tentando ainda ver se conseguem empurrar um pouco o problema com a barriga”, afirmou. Na avaliação do professor, a restrição do uso de água para outros fins, como para agricultura, é “preocupante”.
Para ele, o governo deveria considerar medidas semelhantes às tomadas no racionamento de energia em 2001. Ele defende que haja uma negociação com grandes consumidores de energia, como as indústrias, para a redução do consumo do insumo. Em contrapartida, o governo compensaria as eventuais perdas. “O custo para a sociedade dessas compensações é muito menor do que o custo de não ter energia nas residências e nos pequenos comércios.”