Europa aponta sabotagem após vazamentos em principais gasodutos que vem da Rússia

Autoridades de Alemanha, Dinamarca e Polônia falaram em sabotagem e ‘ataque direcionado’ ao comentar o caso; Rússia se disse preocupada e também não ‘descartou’ ação programada

Vazamento no gasoduto Nordstream provocou bolhas gigantes no Mar Báltico. Foto: Forças de Defesa da Dinamarca/ AFP

Por Estadão

Países europeus apontaram fortes indícios de sabotagem após dois vazamentos serem identificados nos gasodutos Nordstream 1 e 2, que entregam gás russo à União Europeia através do Mar Báltico, aumentando os temores sobre a capacidade do bloco de manter o abastecimento energético com a aproximação do inverno. Fora do aliança, a Rússia se disse “extremamente preocupada” com o acontecimento, enquanto a Ucrânia afirmou que os danos foram “provavelmente” causados por um “ataque terrorista” planejado por Moscou.

Os dois Nord Stream sofreram vazamentos em um trecho do Mar Báltico perto da ilha dinamarquesa de Bornholm, identificados na segunda-feira, 26. Bolhas com até 1 km de diâmetro foram vistas na superfície nesta terça-feira, 27, anunciou o Exército dinamarquês, que divulgou imagens impressionantes do local.

“Não sabemos todos os detalhes do que aconteceu, mas vemos claramente que é um ato de sabotagem, relacionado ao próximo passo de escalada da situação na Ucrânia”, disse o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, à agência Reuters nesta terça-feira, 27.

Os europeus instauraram uma investigação sobre o caso, que será conduzida por Dinamarca e Suécia. De acordo com a primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen, um ato de sabotagem não pode ser descartado entre as possibilidades analisadas. “Ainda é cedo para concluir, mas é uma situação extraordinária”, disse ela. “Há três vazamentos e, portanto, é difícil imaginar que possa ser acidental”.

Na Alemanha, autoridades utilizaram afirmaram que Berlim trabalha com a hipótese de um “ataque direcionado” após os vazamentos e a perda de pressão em ambos os gasodutos, dizendo que o envolvimento da Rússia “não pode ser excluído”. Uma fonte próxima ao governo ouvida anonimamente pelo jornal alemão Taggesspiegel declarou que “tudo vai contra uma coincidência” e que não se pode “imaginar um cenário que não seja um ataque direcionado”.

Maiores canais de fornecimento do gás russo no Oeste da Europa, os dois gasodutos explorados por um consórcio vinculado à estatal russa Gazprom estão fora de operação devido à guerra na Ucrânia e não devem reduzir o abastecimento energético atual. O consórcio afirma que, até o momento, não é possível avaliar os danos, mas admitiu o caráter “excepcional” da situação.

Em meio a guerra na Ucrânia, Moscou e Kiev também se manifestaram sobre o assunto, tentando impor suas narrativas ligadas ao campo de batalha. Questionado se a sabotagem foi a causa do vazamento, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, disse não descartar “nenhuma hipótese” e que a Rússia está “extremamente preocupada” com o caso. “Obviamente, o cano foi danificado de alguma forma. Qual foi a causa – antes que os resultados da investigação apareçam, nenhuma versão pode ser excluída”, disse Peskov, segundo registro da agência russa Interfax.

Em contrapartida, o assessor da Presidência ucraniana, Mikhailo Podoliak, afirmou que “o vazamento de gás em grande escala no Nord Stream 1 não é nada mais do que um ataque terrorista planejado pela Rússia e um ato de agressão contra a UE”, escreveu em uma publicação no Twitter. Podoliak acusou a Rússia de tentar “desestabilizar a situação econômica na Europa e causar pânico antes do inverno”.

Estado de alerta

A Dinamarca colocou todas as suas infraestruturas energéticas em alerta e enviou duas embarcações à região, acompanhadas por helicópteros. A Suécia convocou uma reunião de emergência.

Tubulação do Nordstream 1 em Lubmin, na Alemanha. Foto: Hannibal Hanschke/ Reuters – 08/03/2022

“Os vazamentos em gasodutos são extremamente raros e, por isso, vemos uma razão para aumentar o nível de vigilância após os incidentes registrados nas últimas 24 horas”, afirmou o diretor da Agência Dinamarquesa de Energia, Kristoffer Böttzauw, em um comunicado.

Ele prometeu uma “vigilância profunda das infraestruturas críticas da Dinamarca”.

O país escandinavo aumentou o alerta no setor de energia elétrica e de gás para o nível laranja, o segundo mais elevado, e proibiu a navegação em um raio de 5 milhas náuticas (9 quilômetros) ao redor dos vazamentos, assim como o sobrevoo no raio de um quilômetro./ Com AFP

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