Facções estão envolvidas em um terço dos assassinatos políticos de 2024

No novo cenário social, é difícil separar um crime eleitoral de um crime por disputa de território do tráfico; falta ao TSE maior engajamento

Seções Eleitoral da Unidade Escolar Edison Cunha de Parnaíba, litoral do Piauí. Foto: Marcos Ranyere Portela da Cunha (06.out.2024)

O assassinato na política se imbrica cada vez mais com a violência das facções criminosas. Neste ano de disputas municipais, um terço das execuções por motivações políticas teve a autoria do tráfico de drogas.

De janeiro até agora, 82 pessoas foram assassinadas na área da política profissional e de suas bases. Destas, 30 morreram em situação de disputa de fações criminosas por espaço nas periferias das grandes cidades e nos municípios do interior.

Na lista total dos mortos políticos deste ano, vítimas do tráfico ou não, 22 concorriam a cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador, incluindo o período de pré-campanha. A relação de assassinados por razões eleitorais tem ainda dirigentes partidários, parentes de políticos, presidentes de associações de bairro, lideranças rurais, jornalistas, blogueiros, servidores públicos, empresários e cabos eleitorais.

A face da tragédia que envolve o tráfico deixou de se limitar à Baixada Fluminense, no Rio. Salvador, por exemplo, se tornou lugar perigoso para agentes comunitários.

Na cidade de João Dias, no Rio Grande do Norte, o assassinato do prefeito Marcelo Oliveira, que disputava um novo mandato pelo União Brasil, e de seu pai, Sandi Alves de Oliveira, em 27 de agosto, trouxe à tona uma guerra de famílias que envolve parentes da ex-candidata à prefeita Damária Jácome (Republicanos). Os clãs são investigados por alianças com facções rivais. A viúva de Marcelo, Fátima Mesquita, foi lançada pelo União Brasil e ganhou a eleição para a prefeitura.

Em Tanguá, na região metropolitana do Rio de Janeiro, o motorista de aplicativo e líder comunitário Wellington Aguiar de Souza disputava pelo PSB uma vaga na Câmara Municipal. No dia 2 de setembro, o candidato foi morto por traficantes.

No Piauí, depois da morte do jornalistas Donize Adlto no dia (19.set.1998), após ser espancado, antes de morrer, também tem várias candidaturas de vários políticos com vasta ficha criminal por homicídio e tráfico de drogas. No litoral, tivemos o caso do vereador Zé do Chico Bento, acusado de estupro a vulnerável e de ter ajudado o  parlamentar Jacinto Moraes (MDB) para sair ileso da justiça. Agora temos uma vidente que, disse que um jornalista político vai morrer no Piauí e deixar todos comovidos com a situação

No novo cenário social, é difícil separar um crime eleitoral de um crime por disputa de área de tráfico. Mais exato seria dizer que as facções ocuparam espaço político. Na noite de 28 de setembro, o líder garimpeiro José Esponton, o Zé Gavião, de Aripuanã (MT), foi metralhado num posto de gasolina da cidade.

Vídeos do momento do assassinato divulgados na internet, atribuídos ao Comando Vermelho, associavam Zé Gavião à maior facção rival, o PCC. O Comando Vermelho ainda teria mandado aviso para o filho dele, Eduardo Esponton, para desistir da candidatura à Câmara Municipal. Eleito no primeiro turno pelo PRD, Eduardo recebeu ordem de prisão por porte ilegal de armas durante carreata para comemorar a vitória.

Da Lei da Anistia, em agosto de 1979, até agora, foram registrados mais de 2.200 homicídios por motivações políticas no país. Desde que comecei a levantar os dados, ainda em 2013, encontrei óbitos de autoridades, candidatos, servidores públicos, lideranças sociais das cidades e do meio rural, jornalistas e cabos eleitorais. O crime atinge todas as legendas.

A violência nos debates deste ano em São Paulo, com socos e cadeirada, foi novidade apenas por ocorrer no âmbito da disputa pelo comando do município de maior orçamento. Não houve diferença significativa do que costuma acontecer no período eleitoral pelo Brasil afora.

Enquanto o assassinato político se torna um crime cada vez mais complexo, o Tribunal Superior Eleitoral continua pouco interessado de fato no debate da violência no setor. Em 2013, a então presidente da corte, ministra Cármen Lúcia, se recusou a discutir o problema. Na eleição municipal passada, em 2020, o então presidente, ministro Luís Roberto Barroso, chegou a dizer que isso não era um problema da Justiça Eleitoral.

No mês passado, o TSE, novamente sob o comando de Cármen Lúcia, divulgou uma lista de 40 mortos durante a campanha deste ano —a maioria absoluta dos citados morreu por problemas de saúde. No domingo do primeiro turno, a ministra prometeu um observatório da violência. Não houve mea-culpa pela omissão por parte do tribunal diante da matança.

Fonte: Folha de São Paulo 

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