Inflação em queda: transitório ou tendência?

A pergunta é se este comportamento já reflete as quedas substanciais na taxa de desemprego

Parte significativa da desaceleração foi concentrada em energia (-4,6%) e gasolina (-5,01%), uma consequência da redução do ICMS sobre esses bens Foto: Tiago Queiroz/Estadão – 17/06/2022

Por Estadão 

No mês de julho, a taxa de inflação conforme medida pelo IPCA-15 atingiu 0,13%, desacelerando em relação ao mês de junho, quando a taxa atingiu 0,69%, e abaixo da mediana das expectativas dos analistas, de 0,16%.

Parte significativa da desaceleração foi concentrada em energia (-4,6%) e gasolina (-5,01%), uma consequência da redução do ICMS sobre esses bens.

Com esse resultado, a expectativa é de deflação no IPCA cheio do mês de julho, que deverá ainda incorporar a diminuição dos preços de telecomunicações.

Além desses itens afetados diretamente pela queda da alíquota de ICMS, alguns outros indicadores positivos podem ser destacados, como a redução do índice de difusão, que é a porcentagem de bens que tiveram aumento de preços, pelo terceiro mês consecutivo, de 78,75% em abril para 67,85% no mês de julho; a diminuição da média dos núcleos (que exclui preços mais voláteis), pelo segundo mês consecutivo, de 1,10% em maio para 0,72% em julho; e a desaceleração da inflação de bens industriais, também pelo segundo mês consecutivo, de 1,62% em maio para 0,28% em julho.

Entretanto, a composição da inflação continua a preocupar. Em especial, a taxa de inflação de serviços, que responde diretamente à dinâmica de oferta e procura e, portanto, é mais afetada pela política monetária.

Ainda que tenha mostrado uma pequena desaceleração em relação a junho, o número continua muito elevado, e a taxa de inflação de serviços subjacentes (que exclui serviços cujos preços são mais voláteis) continua acelerando.

A pergunta é se este comportamento da inflação de serviços já reflete as quedas substanciais na taxa de desemprego – que foi de 14,9% para 9,8% da força de trabalho entre o primeiro trimestre de 2021 e o trimestre terminado em maio de 2022 – e um mercado de trabalho mais apertado ou se é recomposição de margens de lucro.

Afinal, o setor de serviços foi a atividade econômica mais afetada pela pandemia, permanecendo praticamente fechada durante quase um ano.

Com a redução do número de casos e de óbitos pela covid-19 e o fim de lockdowns e das medidas de restrições à mobilidade urbana, a retomada do setor tem sido extremamente forte, favorecendo a recomposição de margens.

Nesse caso, a aceleração da inflação de serviços seria temporária, arrefecendo quando os preços voltarem à “normalidade” com a volta da competitividade no setor. Somente os próximos números de inflação poderão dar a resposta a essa dúvida. / JOSÉ MÁRCIO CAMARGO É PROFESSOR APOSENTADO DO DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DA PUC-RIO, É ECONOMISTA-CHEFE DA GENIAL INVESTIMENTOS

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