Casa Branca afirma ser muito cedo para dizer se Teerã está diretamente envolvido em ofensiva que iniciou guerra no Oriente Médio
Folha de São Paulo
O Irã negou, nesta segunda-feira (9), ter ajudado a planejar o maior ataque contra Israel em décadas, como foi ventilado nos últimos dias. Tais acusações “são baseadas em motivos políticos”, já que Teerã não interfere na tomada de decisões de outras nações, afirmou o porta-voz da diplomacia iraniana.
“A resistência da nação palestina tem a capacidade, a força e a vontade necessárias para se defender, proteger sua nação e tentar recuperar direitos perdidos”, afirmou Nasser Kanani durante uma coletiva de imprensa na capital.
O país foi um dos primeiros a manifestar apoio à ação do Hamas, grupo palestino que lançou aproximadamente 5.000 foguetes e entraram por terra, mar e ar em Israel no último sábado (7). “O regime sionista e seus apoiadores (…) devem ser responsabilizados nessa questão”, afirmou o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, no domingo (8). “Os governos muçulmanos devem se juntar à comunidade muçulmana no apoio à nação palestina.”
Segundo o The Wall Street Journal, Teerã ajudou a planejar a ofensiva. De acordo com membros do Hamas e do Hizbullah ouvidos pelo jornal, a Guarda Revolucionária iraniana aprovou o ataque durante um encontro em Beirute no dia 2, e o planejamento estaria sendo feito desde agosto.
A Casa Branca disse que é muito cedo para dizer se o Irã está diretamente envolvido, mas ressaltou que não há dúvidas de que o Hamas foi “financiado, equipado e armado” também pela república islâmica.
A questão já começa a respingar na corrida pela Presidência dos EUA do ano que vem —o ex-presidente Donald Trump culpou o atual líder americano, o democrata Joe Biden, de financiar indiretamente as ofensivas, sem apresentar provas para tal acusação.
“Esses ataques do Hamas são uma vergonha e Israel tem todo o direito de se defender com força avassaladora”, disse o republicano em um comunicado. “Infelizmente, os dólares dos contribuintes americanos ajudaram a financiar esses ataques, que muitos relatos estão dizendo que vieram da administração Biden”.
A manifestação ecoa as alegações republicanas de que os US$ 6 bilhões (R$ 31,1 bilhões) entregues no mês passado ao Irã como parte de um acordo de troca de prisioneiros foram usados para financiar a ofensiva.
O vice-secretário de imprensa da Casa Branca, Andrew Bates, disse nas redes sociais que a declaração é “uma mentira vergonhosa”, já que o dinheiro “só pode ser usado para compras verificáveis de necessidades humanitárias, como alimentos e medicamentos”.
A República Islâmica do Irã não reconhece o Estado de Israel, e o apoio à causa palestina tem sido uma constante de sua política externa.
No sábado, centenas de pessoas comemoraram o ataque em várias cidades com bandeiras palestinas e fogos de artifício, de acordo com imagens da agência oficial, a IRNA. Em Teerã, grandes cartazes diziam que “a grande operação de libertação começou”.
Durante uma sessão parlamentar, deputados iranianos entoaram gritos como “Abaixo Israel”, “Abaixo Estados Unidos” e “Bem-vindos à Palestina”, segundo um vídeo divulgado pela agência de notícias Tasnim.