Líderes europeus viajam para Kiev em meio a bombardeios russos

Primeiros-ministros de Polônia, República Tcheca e Eslovênia anunciaram encontro com Volodmir Zelenski nesta terça-feira, 15, apesar de ataques russos à capital ucraniana

Bombeiros trabalham para apagar incêndio provocado por bombardeio russo em prédio residencial de Kiev. Foto: ROMAN PILIPEY

Por Estadão

KIEV – Líderes de três países europeus anunciaram que vão visitar Kiev, em meio aos intensos bombardeios russos à capital ucraniana, para encontrar o presidente Volodmir Zelenski, em uma demonstração de apoio à resistência do país nesta terça-feira, 15.

O primeiro-ministro tcheco Petr Fiala e o polonês Mateusz Morawiecki anunciaram planos para a visita, dizendo que eles e Janez Jansa da Eslovênia se encontrariam com o presidente da Ucrânia. O escritório de Zelenski confirmou os planos, no que deve configurar a primeira visita de líderes estrangeiros à capital ucraniana desde o início da invasão russa.

De acordo com o assessor do premiê polonês Mateusz Morawiecki, Michal Dwoczyk, a delegação já cruzou a fronteira polaco-ucrânia e estava indo para Kiev de trem, no que o líder polonês disse ser uma missão histórica.

“É nosso dever estar onde a história é forjada. Porque não é sobre nós, mas sobre o futuro de nossos filhos que merecem viver em um mundo livre de tirania”, disse Morawiecki.

“O objetivo da visita é confirmar o apoio inequívoco de toda a União Europeia à soberania e independência da Ucrânia”, disse Fiala, acrescentando que os três líderes apresentarão um amplo pacote de apoio à Ucrânia.

A visita foi mantida sob absoluto segredo e foi anunciada apenas depois que o trem que transportava os líderes para Kiev cruzou para a Ucrânia na manhã desta terça.

A Polônia vem pedindo uma resposta mais forte da UE à invasão russa desde o início do mês passado, inclusive oferecendo a adesão da Ucrânia ao bloco. Zelenski também pediu que seu país se junte ao bloco, embora isso envolva um longo processo que pode levar até uma década.

A guerra da Rússia na Ucrânia colocou a Polônia em uma posição crítica, com o país absorvendo um número crescente de militares americanos e se tornando um ponto de trânsito de armas e ajuda humanitária para a Ucrânia.

O país também está hospedando mais refugiados ucranianos do que qualquer outro país europeu – pelo menos 1,5 milhão – e muitos estão hospedados nas casas de famílias polonesas em vez de campos de refugiados.

Bombardeios intensos

A visita ocorre enquanto combates ferozes continuam em toda a Ucrânia, inclusive na capital sitiada, alvo de constantes disparos da artilharia russa. Nesta terça, um ataque com mísseis atingiu um prédio residencial, matando pelo menos duas pessoas, segundo autoridades ucranianas.

O bombardeio provocou um grande incêndio, mobilizando um esforço frenético de resgate em um prédio de 15 andares em um distrito oeste da cidade. Pelo menos uma pessoa morreu na explosão.

As ondas de choque de uma explosão também danificaram a entrada de uma estação de metrô no centro da cidade que foi usada como abrigo antiaéreo.

Um toque de recolher será imposto na capital ucraniana, Kiev, a partir das 20h (15h em Brasília) na terça-feira até às 07h (02h em Brasília) na quinta-feira, anunciou o prefeito Vitali Klitschko. “É proibido circular pela cidade sem permissão especial, exceto para ir a abrigos antiaéreos”, disse Klitschko.

“A capital é o coração da Ucrânia e será defendida. Kiev, que atualmente é o símbolo e a base operacional avançada da liberdade e segurança da Europa, não será abandonada por nós”, finalizou o prefeito.

Em meio a visita dos líderes europeus e dos combates em solo, negociadores russos e ucranianos devem retomar nesta terça-feira as conversas sobre um possível cessar-fogo, iniciadas na segunda-feira, após o que foi descrito como uma “pausa técnica”.

Orédios e veículos destruídos por bombardeios russos a Kiev em 14 de março Foto: Gleb Garanich/Reuters

Movimentações da guerra

O porta-voz do Ministério da Defesa da Rússia, Igor Konashenkov, anunciou nesta terça-feira que militares tomaram o controle total da região de Kherson, no sul da Ucrânia.

Capital provincial de cerca de 250 mil habitantes, Kherson é o primeiro centro urbano importante a cair nas mãos das tropas russas depois da invasão. Autoridades de defesa dos EUA dizem que a Rússia pode usar a cidade como parte de uma estratégia para potencialmente tomar Mykolaiv e depois Odessa.

Forças russas também dispararam foguetes no principal aeroporto civil da região de Dnipro, no leste da Ucrânia, durante a noite, destruindo sua pista e danificando o prédio do terminal, disse o governador regional Valentyn Reznichenko nesta terça-feira.

Enquanto isso, em uma vitória das tropas ucranianas, o governo de Mykolayiv disse que a situação de segurança estava mais calma na área na terça-feira após forças russas serem ligeiramente afastadas da capital. Em entrevista à televisão nacional, o governador Vitali Kim disse que as tropas russas continuaram atirando na cidade de Mikolayiv e que 80 pessoas ficaram feridas na segunda-feira, incluindo duas crianças.

“Você pode ter 99% de certeza de que a região de Mikolayiv continuará a conter o avanço das tropas russas. Há o rio Bug, que eles precisam atravessar para avançar”, disse ele. “Não vamos entregar as pontes aos invasores.”

Também no sul, autoridades europeias lutam para levar ajuda humanitária à cidade portuária de Mariupol, cercada por tropas russas. Pelo menos 200 mil pessoas esperam por retirada urgente de da cidade, segundo estimativas oficiais ucranianas.

Enquanto isso, cerca de 300 civis que deixaram Mariupol ontem chegaram à cidade de Zaporizhzhia, informou o conselho da cidade de Mariupol nesta terça-feira. “Como foi relatado, cerca de 160 carros deixaram Mariupol ontem. A partir das 10h há informações de que cerca de 300 moradores de Mariupol chegaram a Zaporizhzhia”, comunicou.

Autoridades ucranianas também relataram progresso na abertura de “corredores humanitários” para cidades sitiadas. Autoridades da província de Sumi disseram nesta terça-feira que serão abertas rotas de saída de várias cidades da região, no nordeste da Ucrânia, perto da fronteira com a Rússia.

A Cruz Vermelha e a agência de refugiados das Nações Unidas dizem que milhões de pessoas enfrentam escassez de alimentos e remédios, juntamente com as ameaças imediatas de bombardeios e ataques aéreos.

A Organização Internacional para as Migrações informou que o número de pessoas que fugiram da Ucrânia desde a invasão da Rússia em 24 de fevereiro passou de 3 milhões na terça-feira. A ONU descreveu a enxurrada de pessoas que atravessam a Polônia e outros países vizinhos como a maior crise de refugiados da Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

‘Fim da guerra em maio’

Um dos principais assessores de Zelenski disse que a guerra terminaria em maio, e poderia até terminar em algumas semanas, já que a Rússia estava efetivamente sem tropas novas para continuar lutando.

“Estamos em uma bifurcação na estrada agora: ou haverá um acordo de paz muito rapidamente, dentro de uma ou duas semanas, com retirada de tropas e tudo, ou haverá uma tentativa de juntar alguns, digamos, sírios por um segunda rodada e, quando os triturarmos também, um acordo em meados de abril ou final de abril”, disse Oleksiy Arestovich em um vídeo.

“Acho que o mais tardar em maio, início de maio, devemos ter um acordo de paz, talvez muito antes: veremos”, disse Arestovich.

As observações projetaram uma confiança recém-descoberta de que as forças em menor número da Ucrânia frustraram o que os países ocidentais acreditam ser o objetivo de Moscou – derrubar Zelenski e instalar líderes pró-Rússia em Kiev.

A Rússia diz que não tem como alvo civis e está realizando uma “operação especial” para desarmar e “desnazificar” a Ucrânia.

Os dois lados expressaram algum otimismo sobre as negociações a serem retomadas hoje, que o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak disse que discutiriam “paz, cessar-fogo, retirada imediata de tropas e garantias de segurança”.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que é muito cedo para prever o progresso nas negociações de paz, que devem ser retomadas ainda nesta terça-feira por link de vídeo. “O trabalho é difícil e, na situação atual, o próprio fato de continuarem é provavelmente positivo”, disse ele a repórteres./AP, NYT e REUTERS

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