Proposta britânica deve trazer recursos privados para projetos sustentáveis
Por Folhapress
Ana Carolina Amaral
GLASGOW (ESCÓCIA)
O príncipe Charles, herdeiro da coroa britânica, recebeu a coalizão Governadores pelo Clima nesta quinta-feira (4) durante a COP26, conferência do clima que acontece em Glasgow. O grupo, que reúne gestores de 24 estados do Brasil, participou de reunião para discutir investimentos em ações climáticas.
“O dinheiro está aí, mas precisamos que os governos deem os sinais certos ao mercado”, ele afirmou no encontro.
A proposta britânica é levar ao Brasil uma mobilização de investimentos privados para projetos sustentáveis, a chamada Iniciativa de Mercados Sustentáveis (SMI, na sigla em inglês).
“Eu tenho buscado caminhos para os títulos verdes, mas há 15 anos os investidores não aceitariam o risco. Hoje, é uma oportunidade”, disse o príncipe de Gales.
Entre as áreas que considera prioritárias, citou infraestrutura, soluções baseadas na natureza e também a polêmica geotecnologia de captura e armazenamento de carbono no subsolo —envolvida em um dos projetos que o príncipe deve visitar na sexta (5).
Estavam presentes na reunião os governadores Renato Casagrande (PSB-ES), Eduardo Leite (PSDB-RS) e Mauro Mendes (DEM-MT), além de representantes de governos estaduais de Pará, São Paulo e Minas Gerais e o prefeito de Recife, João Campos (PSB).
Após a breve fala do príncipe, os brasileiros trouxeram exemplos de iniciativas locais, os objetivos climáticos dos estados e projetos que buscam investimentos.
A assessoria do príncipe pontuou que os investidores em geral procuram grandes projetos e que os pequenos poderiam ser reunidos por vários estados, formando uma grande aplicação.
“O Brasil tem capacidade de produzir projetos atraentes de pequena e de grande escala de infraestrutura sustentável, como água e saneamento, transportes, iluminação pública”, pontuou o presidente do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais e da Associação de Brasileira de Desenvolvimento, Sérgio Suchodolski, que também se pronunciou na reunião.
Apesar de a sala estar preparada com fones para tradução do inglês para o português, os aparelhos não funcionaram e, de improviso, uma da assessoras da iniciativa Governadores pelo Clima, Flávia Bellaguarda, dividiu-se para traduzir simultaneamente ao pé do ouvido do príncipe de Gales e também ao do governador Casagrande (Espírito Santo), com intervalos que geraram graça e se somaram ao tom de casualidade da conversa.
A despeito da proibição de fotografias, comunicada pelos organizadores britânicos da reunião, ao fim do encontro os brasileiros sacaram os celulares e dispararam “selfies” com o príncipe, que aceitou as fotos com bom humor.
As quebras de protocolo foram absorvidas com tranquilidade pelos organizadores do evento, que se surpreenderam com a extensão da conversa. A presença do príncipe no encontro estava prevista para durar apenas 30 minutos, mas ele estendeu a conversa por uma hora e meia, ouvindo e respondendo às falas dos governadores e secretários com quem dividia a mesa.
O príncipe encerrou o encontro aplaudindo a adesão de dez estados à campanha Race to Zero, que reúne atores comprometidos com a eliminação das emissões de gases-estufa.
“Espero que vocês se tornem armas secretas extras”, concluiu, em tom de brincadeira, após ter usado o termo para se referir a um de seus conselheiros na área florestal.
A jornalista viajou a convite do Instituto Clima e Sociedade.