‘Não tinha tanta vacina disponível assim’, diz Bolsonaro sobre compra de imunizantes

Bolsonaro reforçou as críticas contra governadores por medidas de distanciamento social.

Bolsonaro em transmissão ao vivo durante uma visita ao Centro Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que distribui sopas em Itapoã, região administrativa do Distrito Federal.  IMAGENS/Reprodução/Facebook

Por Estadão

BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro tentou justificar neste sábado, 3, o fato de o Brasil estar atrás de “alguns outros países” na campanha de vacinação contra a covid-19, reforçou as críticas contra governadores por medidas de distanciamento social e afirmou que as Forças Armadas estão à disposição para começar a aplicar o imunizante. Em transmissão nas redes sociais, ao falar sobre o ritmo de imunização, Bolsonaro disse que não havia “tanta” vacina disponível no ano passado, alegando que as condições não seriam favoráveis para o fechamento de contratos.

“O que se oferecia para a gente, o contrato não era possível de se assinar daquela forma, e bem como não tinha a aprovação da Anvisa”, disse o presidente, ao lado do novo ministro da Defesa, Walter Braga Netto. “O Brasil é um dos primeiros países em vacinação, estamos atrás apenas de alguns outros países, que começaram a vacinar no ano passado. Compramos vacinas no ano passado, não tinha tanta vacina disponível assim”, disse o presidente, segundo quem praticamente todos os quartéis do Brasil têm a condição de fazer a vacinação. O assunto, segundo o presidente, foi conversado com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o ministro da Defesa, mas o chefe do Executivo não deu mais detalhes.

Como mostrou o Estadão/Broadcast, a tentativa de Bolsonaro de responsabilizar laboratórios pela falta de oferta de vacinas no Brasil esbarrou na demora do próprio governo em fechar acordos com os fabricantes. Tanto Bolsonaro quanto o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, fizeram críticas públicas a exigências de farmacêuticas, como foi o caso Pfizer.

Diante do agravamento do quadro da pandemia no País, Bolsonaro viu subir a reprovação do governo, segundo levantamentos feitos por institutos de pesquisa. Com isso, o tom sobre a campanha de vacinação mudou. Neste sábado, Bolsonaro afirmou que, pelo segundo dia consecutivo, o Brasil vacinou mais de um milhão de pessoas. “E esse número tende a crescer”, afirmou.

Bolsonaro fez a transmissão ao vivo durante uma visita ao Centro Social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que distribui sopas em Itapoã, região administrativa do Distrito Federal.

Na última quinta-feira, 1º, o número de pessoas vacinadas em um único dia contra o coronavírus no Brasil, com pelo menos uma dose do imunizante, ultrapassou pela primeira vez a marca de um milhão desde o início da pandemia, de acordo com dados reunidos pelo consórcio de veículos de imprensa junto a secretarias de 26 Estados e Distrito Federal. Segundo o consórcio, cerca de 18,8 milhões de pessoas já receberam ao menos a primeira dose da vacina contra a covid-19, o equivalente a 8,90% da população brasileira.

Em Israel, no Reino Unido e no Chile, onde a imunização está sendo executada em um ritmo muito mais acelerado, o índice de vacinados chega a 60,69%, 46,11% e 36,28% da população, respectivamente, segundo dados compilados no site “Our world in data”.

Desemprego. Apesar da mudança de tom sobre a vacinação, Bolsonaro repetiu sua crítica a governadores que adotam medidas de distanciamento social para reduzir a transmissão da covid-19. O presidente afirmou que há “cada vez mais desemprego com a política do feche tudo”, e avaliou que a grande parte dos prefeitos não estaria concordando com esse tipo de política.

Bolsonaro também disse que o governo está apoiando medidas “protetivas”, mas que “tudo tem limite”. “Cada vez tem mais desemprego, com a política do fecha tudo, fique em casa, mais gente está comendo menos, alguns passando necessidades seríssimas, e nós temos que vencer isso aí. A guerra, da minha parte, não é política, é uma guerra que realmente tem a ver com o futuro de uma nação. Não podemos esquecer da questão do emprego. O vírus, o pessoal sabe nós estamos combatendo com vacinações, nós estamos apoiando medidas protetivas. Agora, tudo tem um limite”, afirmou o presidente.

“Lá atrás, quando se mandava ficar em casa, em março do ano passado, era para se achatar a curva, até que os hospitais se aparelhassem com respiradores. Passou-se um ano, bilhões do governo federal foram dispensados para governadores e prefeitos, e parece que alguns deles, alguns não aplicaram devidamente o recurso na saúde, aplicaram em outras áreas, que também são nobres, e não na saúde”, continuou Bolsonaro, sem informar nomes.

Lockdown. Segundo o chefe do Executivo, alguns prefeitos não estão “cumprindo” ordens de governadores sobre a política do lockdown. “A grande parte dos prefeitos, as informações que nós temos, né, não concordam com a política radical do fechem tudo”, disse. “Sabemos que a maior parte dos prefeitos quer uma mudança nessa política. Somos contra o fecha tudo”, afirmou o presidente.

No mês passado, Bolsonaro entrou com ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o toque de recolher imposto pelos governos do Distrito Federal, da Bahia e do Rio Grande do Sul, mas o caso acabou arquivado pelo ministro Marco Aurélio Mello. Marco Aurélio entendeu que cabia à Advocacia-Geral da União (AGU), e não ao próprio presidente, acionar o Supremo. O episódio levou à demissão do então advogado-geral da União, José Levi, que acabou substituído no cargo por André Mendonça.

Compartilhe esta notícia!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

pt_BRPortuguese