Queda foi de 21,6% nas escolas particulares para crianças de 0 a 3 anos; crise sanitária e econômica explicam diminuição
Por Estadão
O número de matrículas em creches no Brasil caiu 9% no ano passado, na comparação com 2019. A redução foi puxada, sobretudo, pela saída de alunos da rede particular. As crises econômica e sanitária, em meio à pandemia de covid-19, explicam o recuo. Os dados são do Censo Escolar 2021, divulgados nesta segunda-feira, 31, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC).
Esses são os primeiros dados oficiais de matrículas que mostram impactos da pandemia no acesso à educação. As informações foram coletadas entre junho e agosto de 2021.
Segundo os dados do Censo Escolar, as matrículas em creche caíram de 3,7 milhões em 2019 para 3,4 milhões em 2021. Até 2019, havia tendência de crescimento nas matrículas nessa etapa. O recuo ocorreu principalmente na rede privada, com queda de 21,6% de 2019 a 2021. Eram quase 1,3 milhão de matrículas em creches privadas antes da pandemia – agora, são pouco mais de 1 milhão.
Na rede pública, também houve redução, mas em ritmo menor. Eram 2,456 milhões de matrículas em 2019 – número que passou para 2,399 milhões.
Etapa não obrigatória, a creche é apontada por especialistas como fundamental para o desenvolvimento da criança. É durante a primeira infância – do nascimento aos 6 anos, quando ocorre a maior parte das conexões cerebrais – que os estímulos têm maior potencial de retorno futuro.
A pré-escola também apresentou tendência semelhante de recuo.No período entre 2019 e 2021, a queda foi de 6% no número de matrículas nessa etapa de ensino. Já na rede privada, a redução foi de 25,6%.
“De 8 até 14 anos praticamente universalizamos o acesso (à escola). Temos desafios nos anos iniciais e sobretudo na creche, quando a frequência à escola cai no Brasil”, afirmou o diretor de Estatísticas Educacionais do Inep, Carlos Eduardo Moreno Sampaio.
Para Sampaio, a queda expressiva na matrícula em creches na rede privada é um movimento “que só pode ser explicado pela pandemia”. A diminuição impõe desafios ao Brasil e coloca o País mais distante de cumprir as metas estabelecidas no Plano Nacional de Educação (PNE).
Na faixa etária de 0 a 3 anos de idade, a frequência escolar é de 35,6%, conforme a última informação disponível, de 2019, mas a queda na matrícula de 2019 a 2021 indica redução ainda maior desse atendimento.
O PNE propõe que o atendimento chegue a 50% dessa população. Isso significa a necessidade de ampliar de 3,4 milhões para cerca de 5 milhões de matrículas.