Moscou nomeia general com experiência na Síria para o campo de batalha, enquanto premiê britânico visita Kiev e promete sistema de mísseis antiaéreos e blindados
Por Estadão
KIEV – A Rússia reorganizou ontem o comando de sua ofensiva na Ucrânia, selecionando um general com ampla experiência de combate na Síria para liderar a missão, enquanto as nações ocidentais despejavam mais armas no país em antecipação a um novo ataque russo no leste do país.
A nomeação do general Aleksandr Dvornikov, como o principal comandante do campo de batalha, ocorreu em meio ao anúncio do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de que estava enviando um sistema de mísseis antiaéreos, 800 mísseis antitanque e diversos veículos blindados para a Ucrânia, e enquanto a Eslováquia entregava aos militares ucranianos uma arma de longo alcance – sistema de defesa aérea S-300 –, com a aprovação dos Estados Unidos.
Em outra demonstração de apoio à Ucrânia, Johnson fez uma visita-surpresa ontem a Kiev, onde se encontrou com o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, e caminhou com ele pelas ruas da capital, onde vários prédios foram bombardeados. Os dois discutiram sobre um maior apoio à Ucrânia, incluindo um “novo pacote de ajuda financeira e militar”.
Johnson é o primeiro chefe de governo ou de Estado do G7 a visitar a Ucrânia desde o início da invasão, em 24 de fevereiro. Mas as demonstrações de apoio de líderes ocidentais se multiplicaram após a descoberta, há uma semana, de dezenas de corpos de civis na cidade de Bucha, perto de Kiev, ocupada durante semanas pelas tropas russas.
O Canadá anunciou ontem medidas para facilitar a entrada de refugiados ucranianos e se comprometeu a entregar US$ 79,5 milhões em ajuda suplementar à Ucrânia. Além disso, a Comissão Europeia anunciou ontem que uma campanha mundial de arrecadação de fundos para ajudar os ucranianos refugiados ou deslocados conseguiu reunir €10,1 bilhões (US$ 11 bilhões).
A retirada dos civis do leste da Ucrânia foi intensificada ontem, em meio aos ameaçadores ruídos de artilharia que chegavam da linha de frente, e um dia depois de um ataque com mísseis contra a estação de trens de Krematorsk, matar 52 pessoas, incluindo muitas crianças, e deixar mais de 100 feridos.
Vários micro-ônibus e caminhonetes chegaram para buscar os sobreviventes do bombardeio, que passaram a noite em uma igreja protestante do centro da cidade, próxima à estação atacada. Cerca de 80 pessoas, em sua maioria idosos, buscaram abrigo nesse templo.
“Ontem entre 300 e 400 pessoas correram para cá logo após o bombardeio”, contou Yevguen, membro da igreja. “Estavam traumatizadas. A metade correu para se refugiar no porão, outros queriam partir antes. Alguns foram retirados à tarde em um ônibus. Finalmente, ficaram 80, também há sete na minha casa”, explicou o voluntário. Kramatorsk está rodeada pelo sul e pelo leste pelas repúblicas separatistas pró-russas de Donetsk e Luhansk e, ao norte, pelas tropas russas.
Segundo o Ministério da Defesa britânico, as forças navais russas dispararam mísseis de cruzeiro ontem contra o território ucraniano para respaldar as operações militares na região leste de Donbas e nas imediações das cidades de Mariupol e Mikolaiv.
O presidente ucraniano exigiu uma dura resposta mundial ao ataque à estação de Kramatorsk, qualificando-o como o mais recente exemplo dos crimes de guerras que estão sendo cometidos pelas tropas russas na Ucrânia, que deveria impulsionar o Ocidente a ajudar mais seu país a se defender. O presidente americano, Joe Biden, acusou a Rússia de ter cometido uma “horrível atrocidade”.
Crimes de guerra
A União Europeia vai debater nos próximos dias sobre o apoio do bloco à investigação de possíveis crimes de guerra cometidos pela Rússia na Ucrânia com o promotor do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan.
Zelenski disse ontem que a Ucrânia continua disposta a negociar com a Rússia, apesar de as conversações terem sido suspensas após a descoberta das atrocidades cometidas em cidades próximas a Kiev.
“A Ucrânia sempre se disse disposta a negociações e buscaria as possibilidades de parar a guerra. Mas, infelizmente, vemos preparativos para combates importantes, alguns dizem decisivos, no leste” ucraniano, disse Zelenski. l NYT, AFP e REUTERS